Wednesday, December 13, 2006

Taxativo

"Infelizmente, há gente em Portugal que graças ao facto de conhecer as pessoas certas nos sítios certos têm palco em jornais, rádios e televisões. Podem dizer e escrever os maiores disparates que ninguém contesta e ainda são pagos para isso!"

«Opinadores azuis e brancos », por Pedro Guerra (Sportugal, 12-12-2006 ).

"Eu, Carolina" - Adenda

No anterior post faltou referir que este livro, no que respeita às questões que são de facto relevantes, não traz muita coisa de novo. Apenas algumas novas nuances que compõem e completam o já vasto leque de matéria informativa que as escutas da polícia judiciária já tinham revelado. Não se compreende, portanto, a atitude de espanto de alguns...


Para finalizar, um momento de sobriedade que infelizmente não tem tido muito eco...

Tuesday, December 12, 2006

"Eu, Carolina"

É evidente que Carolina Salgado não escreveu nenhuma obra literária, na verdadeira acepção do conceito, também é perfeitamente razoável concluir que há revelações que evidenciam que o livro é um acto vingativo, nomeadamente aquelas que se prendem com aspectos da esfera íntima do, outrora, casal, sendo que nem mesmo as sórdidas revelações acerca das maleitas intestinais do presidente do F.C. Porto são poupadas na narrativa.

Contudo reduzir este tema às motivações que levaram a cidadã Carolina Salgado a escrever este livro é escamotear o que verdadeiramente é relevante. O livro da antiga namorada do presidente do F.C. Porto poderá ter o mérito de vir a constituir um importante contributo para que o processo "apito dourado" não seja - a coberto de uma ardilosa manobra jurídica - vergonhosamente engavetado e esquecido...

Aqui ficam alguns excertos do dito livro.


"Sempre que [...] o Jorge Nuno achava que o árbitro tinha prejudicado o FCP, ligava ao senhor José António Pinto de Sousa, [...] começando por manifestar a sua indignação [...] mas acabando sempre por marcar um jantar para fazer as pazes"

"Os árbitros Martins dos Santos e Augusto Duarte, entre outros, eram visitas da casa. Eram levados pelo empresário António Araújo, bebiam café e comiam chocolatinhos"

"O Araújo funcionava como uma ponte entre o Jorge Nuno, o Reinaldo e os árbitros, disponibilizando-lhes simpatias, tais como raparigas e outros bens"

"Se o Jorge Nuno ficasse detido, contava com o apoio dos Super Dragões para o tirarem lá de dentro."

"Dizia-me [...] que era preciso dar uma lição ao doutor Ricardo Bexiga [...] Prontifiquei-me a tratar do assunto. O serviço custava dez mil euros"

“Foi o doutor Lourenço Pinto quem, às sete da manhã, nos telefonou para casa avisando que o major, o doutor Pinto de Sousa e alguns funcionários da Câmara de Gondomar tinham recebido a visita da PJ. O Jorge Nuno ficou deveras perturbado com o que estava a acontecer ao major. Receava que o major ou Pinto de Sousa falassem de mais. Esta era a sua preocupação”


Monday, December 11, 2006

F.C. Porto: o eterno retorno ou mais uma ausência de análise racional


Há por aí, agora, uma nova verdade absoluta que tudo e todos teimam em repetir: o F.C. Porto é a única equipa portuguesa com capacidade europeia – seja lá o que isso for.

Jornalistas, analistas e adeptos partilham esta convicção, sustentada também pelo próprio discurso de Jesualdo Ferreira e de alguns jogadores portistas.

Por parte da imprensa e de alguns comentadores, parece existir uma espécie de nostalgia em relação aos feitos recentes do F.C. Porto de José Mourinho, tendo-se já chegado ao ponto de terem sido feitas comparações de desempenhos entre esse Porto e o Porto de agora. É mais uma prova daquilo que, em algumas ocasiões tenho tido oportunidade de destacar, ou seja, a falta de racionalidade com que as matérias futebolísticas são tratadas. Não se busca apenas um novo Mourinho, agora também se procura um novo F.C. Porto de Mourinho…

Este espaço foi criado sem grandes pretensões, sem cor clubista e com o propósito único de escrever sobre futebol – aquele que se joga entre as quatro linhas, contudo, esse propósito tem sido desvirtuado – reconheço – por força de algumas circunstâncias que fazem reflectir todos aqueles que gostam de futebol. Uma dessas circunstâncias é a falta de qualidade da nossa imprensa desportiva e de muitas das análises e comentários que são feitos diariamente pelos opinion makers que em Portugal parecem ter um feed-back mais imediato e bem sucedido que em outros locais.

Sobre este assunto da capacidade europeia do F.C. Porto, pegue-se nos factos. Evidentemente que, tal como em outras paragens, a subjectividade não deixará se fazer parte da análise. A diferença estará porventura no facto de aqui ser assumida.

Tenho alguma dificuldade em definir – salvo algumas excepções óbvias - o que é um colosso do futebol europeu, contudo parece-me que serão as performances na liga dos campeões, nos últimos anos, um dos critérios utilizado por quem utiliza o chavão.
Nesse sentido, o único colosso com quem o F.C. Porto jogou nesta primeira fase foi o Arsenal – finalista vencido da última edição da prova. O saldo dos dois jogos resultou em uma derrota clara em Londres e num empate no Porto, em que ambas as equipas não se encontravam pressionadas para jogar futebol.

Não pretendo de maneira nenhuma retirar mérito ao F.C. Porto pelo feito de passar aos oitavos de final da prova, apenas penso que haverá por aí alguma falta de racionalidade e prudência em algumas análises que têm sido feitas.

Thursday, December 07, 2006

Notas finais da fase de grupos da Champions League


Sporting: pouco mais há a acrescentar ao que já foi dito no post anterior. No entanto, a título de nota final, deve dizer-se que a equipa leonina – não contando com a última jornada – teve uma prestação para além do que era expectável, sobretudo no início da prova e quando defrontou os mais fortes adversários do grupo. O Sporting surpreendeu com a vitória frente ao Inter, e abriram-se expectativas relativamente à passagem à fase seguinte. Paradoxalmente, no que era esperado que acontecesse – a qualificação para a taça Uefa – a equipa acabou por claudicar na última jornada.

Benfica: Começo de prova titubeante, não tanto (como foi sugerido por muitos) pelo empate na Dinamarca, já que o Benfica acabou por ser a única equipa do grupo que ali pontuou. O resultado na Luz, frente ao Manchester United é que terá tido peso significativo nas aspirações encarnadas. Ainda assim, seguiram-se duas vitórias concludentes em casa, frente ao Kopenhagen e Celtic, que vieram abrir a porta da qualificação. Tendo as decisões finais ficado reservadas para a derradeira jornada – fruto de resultados de terceiros que não beneficiaram a equipa de Lisboa, com a agravante de ter de realizar o jogo decisivo em Old Trafford com a equipa inglesa ainda não apurada - , o Benfica acabou por atingir o objectivo mínimo que é a qualificação para a taça Uefa.

F.C. Porto: À semelhança do Benfica, também não começou bem a prova mas acabou por conclui-la de forma bastante consistente. As vitórias concludentes em Hamburgo e na Rússia foram determinantes no apuramento para a fase seguinte. Na última jornada, as circunstâncias levaram a que tivesse havido um jogo de “gestão” no estádio do dragão.
Agora nos oitavos de final, a equipa portista terá adversário de respeito: Chelsea, Liverpool, M. United, Bayern, Valência, Lyon ou AC Milan, uma destas equipas discutirá o acesso aos quartos de final com o F.C. Porto.

Em termos globais, há que referir que este ano a primeira fase da prova não trouxe grandes surpresas. Seguem em frente os clubes dos principais campeonatos europeus: A Inglaterra com quatro clubes (Chelsea, M. United, Liverpool e Arsenal), a Espanha com três (Barcelona, Real e Valência) e Itália também com três (AC Milan, Inter e Roma). A Alemanha terá o Bayern como o seu único representante. O Hamburgo terá sido a grande desilusão da prova e o Bremen estava inserido em grupo muito forte. Restam assim dois clubes franceses: o Lyon, um crónico dos últimos anos e o Lille que já na época passada discutiu a passagem até ao fim, tal como ocorreu este ano. PSV Eindhoven, F.C. Porto e Celtic de Glasgow completam o lote de apurados.

Tuesday, December 05, 2006

O Sporting e a falta de uma análise racional


O Sporting tem sido nos últimos tempos um clube que colhe a simpatia/empatia de muitos analistas, mesmo daqueles que não vestem as suas cores.

Estou convicto que essa simpatia assenta raízes no facto de o clube possuir uma equipa composta por muitos jogadores jovens formados na sua academia, o que poderá ser considerado como algo de valoroso tendo em conta os tempos que correm, onde os clubes de países economicamente mais débeis não podem ombrear com os seus congéneres dos países mais ricos. O clube de Alvalade tem assumido, de facto, uma aposta clara na formação e essa é sem dúvida uma das formas de conseguir manter a competitividade num futebol onde, cada vez mais, são os ditames do dinheiro a dar o mote.

A época passada, após vários desaires no seu início acabou por não ter sido considerada negativa, a equipa, desde que Paulo Bento a assumiu, passou a pautar-se pela regularidade em termos de resultados, tendo discutido o título nacional até às últimas jornadas. Paulo Bento também personifica bem o projecto leonino: jovem, ex-jogador do clube e a iniciar a sua carreira de treinador. Pode dizer-se também que o jovem técnico tem aquilo que se costuma designar de “boa imprensa”.

A pré-época correu muito bem, com várias vitórias e conquistas de torneios amigáveis, o campeonato nacional também está longe de estar a ser mal sucedido, e sobretudo, apesar do desaire da não qualificação para a fase seguinte, a campanha na Liga dos Campeões também não pode ser considerada como um insucesso, isto, claro está, se exceptuarmos alguns casos onde o irrealismo da análise, de tão desconchavado que foi, apregoava a possibilidade de o clube leonino ter um percurso mais ambicioso na mesma prova – a título de exemplo, chegou a haver quem escrevesse numa revista desportiva que se a equipa leonina tivesse um goleador do calibre de Didier Drogba, poderia aspirar a conquistar a liga dos campeões!

É evidente que – e não contrariando uma admirável capacidade lusitana – já há quem esteja agora, depois da derrota com o Benfica, e do afastamento da liga dos campeões, a questionar a valia, quer dos jogadores, quer do próprio treinador…

A questão central a que quero chegar é apenas uma e assenta precisamente naquilo a que chamo a admirável capacidade lusitana, que consiste em analisar (e agir em função) na forma extremista do “oito ou oitenta”.

O que é facto é que, não pondo em causa a enorme valia de um plantel com muitos jovens talentosos, nem a valia de um treinador bastante promissor, o Sporting foi sobreavaliado, sobretudo a partir da importante e meritória vitória sobre o Inter de Milão. O que é preciso referir é que, nos últimos anos, face a imperativos de ordem económica, vários jogadores com qualidade foram saindo e entrando para os seus lugares – numa política de contratações de custo zero – alguns elementos cuja qualidade está longe de ser uma certeza. Os jovens Moutinho, Nani, Miguel Veloso, entre outros, com a atenuante da curta experiência em termos de alta competição e com as vicissitudes próprias da idade, têm atenuado essas carências, contudo, não podem de maneira nenhuma corresponder às exageradas expectativas de alguns analistas da nossa praça. É ponto assente que este Sporting, com qualidade em alguns sectores, se encontra bastante desprovido da mesma em outros, o que se tem reflectido sobremaneira no rendimento da equipa, observado nos últimos jogos.

Monday, December 04, 2006

Notas do "derby"

Não querendo repetir muito do que já foi dito e escrito acerca do derby de Lisboa, não posso deixar de salientar alguns aspectos que me parecem de assinalar.

1) A maior sagacidade de Fernando Santos na abordagem ao jogo, com a colocação de Nuno Gomes na posição “10”, soltando Simão e Miccoli na frente de ataque – uma forma de tirar partido da velocidade e da capacidade técnica destes dois elementos junto da defesa sportinguista.

2) A forma como o pressing benfiquista foi efectuado – arrastando os jogadores leoninos até às linhas laterais.

3) As transições rápidas para o ataque por parte da equipa benfiquista, bem patenteadas no lance do segundo golo e naquele que desembocou numa bola enviada à trave por Miccoli.

4) Ambas as equipas jogaram sem médios ala, no entanto, a profundidade pelos corredores laterais – sobretudo o direito com Nélson – foi muito mais proficiente na equipa encarnada.

5) A forma como a equipa “encarnada” controlou o jogo na segunda parte, dando o domínio do mesmo ao adversário, domínio esse que apenas causou verdadeiro perigo uma única vez, num remate de Djaló, a que Quim correspondeu com boa defesa.

6) Nuno Assis: foi brilhante a sua actuação em Alvalade. A sua movimentação sem bola, a forma como anulou João Moutinho, as suas habituais acelerações (com bola), desenhando as suas, também famosas diagonais, manietaram o último reduto do adversário de forma proeminente. Cada vez mais um jogador em destaque neste Benfica, apesar de os “holofotes” não estarem tão virados na sua direcção.

Wednesday, November 29, 2006

Extravagância "Interista"


O passe de Adriano e 20 milhões de euros por Buffon...
Assim, a reanimação da Vecchia Signora não demorará muito tempo.

Tuesday, November 28, 2006

Mais que merecida!


É incompreensível a histeria em torno da atribuição – mais que merecida - da bola de ouro ao defesa italiano Fábio Cannavaro.

Se o motivo de tamanho despropósito é o facto de o jogador ser defesa, é necessário recordar que o futebol é um jogo colectivo, com guarda-redes, defesas, médios e avançados, e dentro destas categorias – com excepção do guarda-redes – existem ainda funções específicas. Imagine-se o disparate que seria uma equipa composta por onze Ronaldinhos Gaúchos!

Existirão algumas críticas aos critérios e processo de atribuição do prémio que terão, porventura, algum fundamento, mas neste caso concreto, o que parece estar em causa é o facto de alguns avançados terem sido preteridos em relação ao jogador italiano, consolidando assim uma espécie de superioridade (de ordem estética?) de uns jogadores em relação a outros, tendo em conta as suas funções em campo…
Poderão vir os “estetas” do futebol com as suas fabulosas prosas sobre o “golo”, porque quem gosta e entende verdadeiramente este jogo, tanto aprecia o golo, como o corte providencial que o evita in extremis…

Imagem do dia

Estátua de Maradona ( 3 metros e 300 quilos) no Museu do Boca Juniors

Friday, November 24, 2006

A falta do peso do "levezinho" no Giuseppe Meazza


Pode-se falar na indiscutível qualidade das individualidades que compõem a equipa italiana, na pouca sorte de duas lesões no espaço de 15 minutos na equipa portuguesa, e logo na mesma posição, na táctica, no losango ou no pragmatismo característico das equipas italianas, contudo, o que ainda foi mais determinante no desenrolar do jogo, na minha opinião, foi a ausência de Liedson.

Liedson, esta época não tem feito aquilo que mais o celebrizou em Portugal (golos), no entanto a sua influência no futebol do Sporting é incontestável. Esta questão remete-nos também para mais uma idiossincrasia do adepto português, que é a convicção inabalável de que o avançado centro / ponta de lança tem a função única, obrigatória e quase exclusiva de marcar golos. É certo que essa é umas das suas principais funções, mas elas não se esgotam aí, definitivamente.

Liedson, avançado de grande mobilidade, movimenta-se a toda a largura do terreno, alarga as linhas da equipa adversária, desequilibrando-a no seu último reduto, arrasta marcações e abre espaços, que regularmente são explorados pelos médios. No Giuseppe Meazza (é este o nome do estádio quando é o Internazionale a fazer as honras da casa, e não S. Siro, como muitas vezes se ouve e lê por aí), sentiu-se a falta do peso que o levezinho proporciona ao futebol do Sporting.

Ainda assim, como nota final, dizer que é indiscutível que a equipa portuguesa caiu de pé nesta edição da liga dos campeões, como aliás foi unanimemente reconhecido pela generalidade da imprensa desportiva.

Thursday, November 23, 2006

Acaso ou ardil?

No dia em que aconteceu isto, também aconteceu isto!

Wednesday, November 22, 2006

Leituras

«A Sicília é hoje a ilha dos tesouros. Pela primeira vez na história do calcio tem três clubes na série A, ainda por cima todos bem classificados, o que tradicionalmente só acontecia nas regiões mais ricas do norte. (…)

Dizem agora os políticos sicilianos que o boom do futebol está a resgatar a ilha (7 milhões de habitantes) das garras da máfia e da criminalidade (…)

(...) o sempre moralista Financial Times entretem-se a fazer uma impiedosa análise ao futebol italiano, partindo justamente da anomalia da Sicília se encontrar na crista da onda. Diz o jornal londrino: “quando o reino da delinquência pode competir com os outros de igual para igual, isso significa que o sistema colapsou.” E mais: “Another Kicking for Southern Italy´s football”, que é como quem diz: depois do calciocaos um outro soco na credibilidade do futebol italiano acaba de ser desferido pelo sul do país”.

Francamente, mais valia estarem calados e olharem para o seu próprio umbigo. Será dor de cotovelo por verem a Itália a ostentar o ceptro de campeão mundial? Será que já se esqueceram do mega-escândalo de centenas de trasnferências fraudulentas entre os principais clubes ingleses, com comissões ilícitas pagas aos managers, com corrupção à mistura? Será que ainda não deram pela presença no seu futebol de personagens como Abramovich, Gaydamak e Joorabchian cujas fortunas têm contornos mais que suspeitos? Faziam melhor figura se metessem a viola no saco.»

«A ilha dos tesouros», por Manuel Martins de Sá (A Bola, 22.11.2006).

Tuesday, November 21, 2006

Psicologia do adepto (I)

Não deixa de ser curioso, o facto de grande parte dos adeptos benfiquistas - quiçá a maioria - se manifestar agradada com a saída de José Veiga do Benfica. Para mim isso é um sinal inequívoco de pouca clarividência por parte dessas pessoas, que continuam a olhar para o futebol e para o clube com um desfasamento temporal de muitos anos. Durante o período horribilis do clube, vários dossiers foram pessimamente mal geridos, gestão essa que estava a cargo de ilustres "benfiquistas", relembro, por exemplo, António Simões – velha glória do clube, mas também o primeiro jogador a pôr esse mesmo clube em tribunal –, que ainda agora teve uma triste intervenção pública na sequência da demissão de José Veiga.

Actualmente, os aspectos relacionados com a gestão de um clube de futebol não se compadecem com romantismos bacocos. A avaliação de um dirigente apenas pode assentar em critérios de racionalidade, isto é, visando o seu desempenho e obtenção de êxito nas estratégias/metas relacionadas com as suas áreas de actuação, e nesse particular, o desempenho de José Veiga – podendo-se gostar ou não do estilo - é inatacável.

E até no momento da demissão, é preciso destacar a postura e atitude exemplar de José Veiga, pois teria sido muito mais conveniente e confortável ter o "escudo" Benfica, para agora poder enfrentar o turbilhão de problemas que previsivelmente aí vem, no entanto, salvaguardando o clube, preferiu enfrentar sozinho estas guerras, que são exclusivamente suas. Outros não o têm feito, como todos sabemos.

Monday, November 20, 2006

«Pressing» e «anti-pressing»


É uma das deficiências do Benfica, este ano já observável de forma evidente em alguns jogos, dos quais destacaria o jogo do Bessa, e agora em Braga.
Sempre que o adversário impõe uma estratégia de pressing, que normalmente é feito tendo como referência o adversário e não o espaço, ou seja, “homem-a-homem”, e sempre que o mesmo é feito em zonas adiantadas, a equipa encarnada não tem mostrado argumentos para reagir a essa acção. O recurso, normalmente, é o passe longo para os avançados que se encontram invariavelmente marcados pelos opositores directos, sendo que o resultado é também invariavelmente a perda da bola. Apenas num lance fortuito, esta forma de responder ao pressing poderá ter sucesso.
A melhor forma de contrariar o pressing é aquilo a que se convencionou chamar de anti-pressing. E como deve ser feito o anti-pressing? Mais em largura que em profundidade, com mobilidade para se criarem as necessárias referências de passe, fazendo circular a bola, procurando variar o flanco do jogo. Desta forma, a equipa adversária é obrigada a alargar as suas linhas, abrindo espaços de penetração. Há maior possibilidade de criação de situações de superioridade numérica e consequente desequilíbrio defensivo no adversário.

Monday, November 13, 2006

Taxativo


"...As equipas de menos qualidade baixaram a qualidade. Está menos equilibrado, as equipas têm menos recursos, o nível qualitativo baixou, isso nota-se muito. Há menos competitividade, pelo que tenho visto, o que não é bom para o futebol português..."


José Peseiro

Ver entrevista completa aqui



Se houve treinador nos últimos tempos que viu a sua imagem ser desgastada até à exaustão, esse treinador foi José Peseiro. Amante do que comummente se designa por bom futebol, Peseiro inscreve-se naquele lote de treinadores que, nos antípodas dos “resultadistas”, tem uma ideia dominantemente estética do jogo, o que foi sobejamente reconhecido por muitos analistas, quando solicitados a comentar a qualidade de jogo do Sporting de há duas épocas. É certo que essa qualidade pecava por irregular, também é certo, e veio-se a confirmar depois, que existiram os tais “problemas de balneário” a que o treinador não soube dar resposta adequada, mas o que também ninguém pode negar é que foi sob a orientação do treinador ribatejano que o Sporting – arredado das grandes façanhas europeias desde a conquista da taça das taças na longínqua década de 60 - atingiu a final de uma competição europeia, deixando para trás reputadíssimas equipas de campeonatos mais competitivos que o nosso. Antes disso, ainda há a destacar o facto de ter conduzido o Nacional da Madeira, desde a 2ª Divisão B ao principal escalão do futebol português.
Agora na Arábia Saudita, longe das pressões típicas do nosso burgo, Peseiro continua a olhar para o nosso futebol, e deixou umas impressões interessantes sobre o mesmo em entrevista concedida ao site Sportugal, da qual destaco a afirmação que abre o post, e a qual subscrevo totalmente.

Thursday, November 09, 2006

Taxativo

"...O futebol é um jogo cada vez mais físico, mais colectivo e mais táctico, mas o indivíduo, apesar das aparências, continua a ter a mesma força desiquilibrante..."

Jorge Valdano

Tuesday, November 07, 2006

Benfica: Para além do losango


Foi o debate táctico mais ventilado do início da época. Deixei aqui em alguns posts a opinião de que, normalmente, a generalidade dos analistas da imprensa desportiva dão um ênfase desmesurado às questões que se prendem com o sistema de jogo das equipas, dando, ao invés, menor ênfase a outros aspectos mais importantes como sejam, o modelo de jogo e respectivos princípios.

Com tempo, com estabilidade, com a disponibilidade total de jogadores como Miccolli e Simão, a equipa está num patamar exibicional muito interessante, que encontra tradução em alguns resultados bastante expressivos. Os números apontam também nesse sentido, já que nos últimos seis jogos foram apontados 16 golos. A equipa pressiona alto, e joga em ataque posicional, ou seja, revela já ter melhor assimilados os princípios de jogo que Fernando Santos assumiu querer implementar assim que chegou ao clube. É certo que ainda há alguns aspectos a necessitarem, porventura, de mais trabalho, designadamente no que respeita ao processo defensivo. É de realçar que ainda se têm verificado erros ao nível de alguns princípios do método defensivo zonal. A equipa sofreu alguns golos em situações muito semelhantes: o lateral fica no 1x1 sem cobertura, assim aconteceu em Glasgow e no Dragão, o que evidencia desacerto ao nível da basculação.

E já agora, para aqueles que tanto gostam de falar dos sistemas de jogo, é imperioso referir que esta subida de rendimento da equipa coincide com o retorno à ideia inicial de Fernando Santos, ou seja, o 4x4x2 com o meio campo disposto em losango.

No entanto, a mobilidade, as permutas posicionais e consequente dinâmica de jogo que Miccoli, Simão, Assis e Nuno Gomes proporcionam leva a que este 4x4x2 assuma vários figurinos. Simão no vértice ofensivo, descai bastante para as faixas laterais, assumindo Assis a zona central, Miccoli tem liberdade para deambular a toda a largura do terreno, sendo que por vezes, a equipa parece desenhar um 4x3x3 puro. No último jogo frente ao Beira-Mar, Nélson, que também parece estar a atingir o patamar exibicional do início da época passada, jogou mais como médio ala do que como defesa lateral, sendo que nas raras vezes em que o Beira-Mar logrou construir um lance de contra-ataque ou ataque rápido, era Luisão que estava a compensar o lateral cabo-verdiano, tendo aí passado a maior parte do tempo de jogo, e até deu para o central investir inúmeras vezes em subidas pelo corredor, como aquela que culminou no terceiro golo. A equipa neste jogo por vezes parecia desenhar um 3x5x2 e/ou 3x4x3, isto também, claro, devido ao elevado caudal ofensivo e à já referida enorme mobilidade dos jogadores mais adiantados.



Para além da importância dos jogadores referidos, importa referir também que o grego Katsouranis tem sido extremamente importante neste Benfica, mercê da sua enorme cultura táctica, e note-se, já tem três golos apontados. Tinha razão Fernando Santos quando disse que o jogador poderia fazer qualquer posição no meio campo.

Monday, November 06, 2006

F.C. Porto: mudança de estilo com os mesmos intérpretes


O F.C. Porto, não obstante se encontrar na liderança da liga portuguesa e ter conseguido dois bons resultados nas últimas jornadas da Liga dos Campeões, ainda está longe da qualidade de jogo que se lhe exige. A transição Adriaanse-Jesualdo foi aparentemente efectuada com a serenidade que se impunha e bem vistas as coisas, as alterações ao modelo de jogo até se afiguravam profundas e como tal com um certo grau de complexidade.

Jesualdo não sendo propriamente um “defensivista”, é um treinador que gosta de “montar” as suas equipas com a máxima de – usando as suas próprias palavras - “defender bem para atacar melhor”. Aos poucos, Jesualdo foi impondo as suas ideias e frases como “Bosingwa não subas tanto” foram sintomáticas disso mesmo. Até agora, as grandes diferenças face à era Adriaanse, são notórias ao nível de um dos principais princípios de jogo do futebol actual: o pressing. A mudança de sistema do 3x3x4 ou 3x4x3 para o 4x3x3, mais uma vez não será tão determinante como se possa pensar.

As alterações terão tido repercussões a nível colectivo, mas também individual, ou seja, terão afectado o rendimento de um ou outro jogador (sobretudo ao nível da defesa) que devido às suas características e capacidades interpretaria melhor o seu papel com o anterior sistema e modelo de jogo.

O F.C. Porto de Adriaanse era uma equipa que pressionava alto, com uma linha de três defesas muito subida no terreno. Pepe, Chech, Bosingwa, não sendo jogadores muito fortes no que respeita a segurança defensiva e inversamente sendo jogadores rápidos e com boa capacidade de transporte de bola, acabaram por beneficiar desta forma de jogar, em que à sua frente estavam sete jogadores que pressionavam para a que a bola chegasse o menor número de vezes possível junto deles.

O modelo de jogo de Jesualdo – olhando para as equipas por onde passou – assentou sempre na segurança defensiva e ataque rápido, isto é, bloco médio-baixo a defender e transições rápidas para o ataque. O F.C. Porto actual, em posse de bola, continua a ter um ataque bastante acutilante, porventura até mais proficiente, pois já não se verifica a “inflacção” de jogadores junto da grande área adversária, tão característica dos tempos do treinador holandês. Proficiente e eficaz, pois olhando para os números da época transacta, verifica-se que à 9ª jornada, e com o jogo referente à mesma ainda por disputar, o F.C. Porto tem mais seis golos apontados, curiosamente, tem o mesmo número de golos sofridos (6). Porém, sem bola, a equipa portista revela muitas dificuldades. Se a bola é perdida em zonas adiantadas do terreno, a transição defensiva é lenta, se a bola é perdida em zonas menos adiantadas, o pressing é mal feito ou até mesmo inexistente, a este nível é paradigmático o golo de Luís Filipe em Braga.

No entanto, ao contrário do que se possa pensar, a lesão de Anderson até nem terá assim tantos reflexos negativos no jogo da equipa. É certo que com Anderson no trio do meio campo, a equipa ganha criatividade, e graças à visão de jogo do brasileiro, criam-se muitas oportunidades de perigo para os adversários, contudo, tendo em conta que Anderson não é jogador que ajude em termos defensivos, a equipa, nessas situações de perda de bola, via-se inúmeras vezes nas tais situações de desequilíbrio defensivo. Não terá sido por acaso que Jesualdo tentou utilizar o brasileiro – sem grande sucesso, diga-se, - no trio da frente encostado à faixa lateral.
Com um meio campo composto pelo trio Assunção, Meireles e Lucho, a equipa ganha capacidade de pressing e aumenta assim a capacidade de colmatar os ditos desequilíbrios defensivos. Os próximos jogos dirão se assim é ou não...

Friday, November 03, 2006

Grandes "derbys" mundiais: "Gre-nal é Gre-nal"


“Gre-Nal é Gre-Nal”. A frase que define este clássico do futebol mundial pertence a Ildo Meneghetti, ex – patrono do Internacional de Porto Alegre e exgovernador do Estado de Porto Alegre.

Este fim-de-semana joga-se o Grémio-Internacional, o grande "derby" da cidade de Porto Alegre.

Porto Alegre é a capital do estado brasileiro do Rio Grande do Sul. O Rio Grande do Sul é o estado brasileiro mais meridional, localizado na Região Sul. A morfologia tipíca dos habitantes desta região caracteriza-se pelo robustez física, daí o facto de muitos dos futebolistas de lá oriundos terem grande porte físico, sendo que também se considera que essa é uma das causas da sua melhor adaptação ao futebol europeu.

A cidade de Porto Alegre constituiu-se a partir da chegada de casais açorianos portugueses em 1742, no âmbito de uma decisão do governo português que visava resolver o problema do superpovocamento das ilhas dos Açores e simultaneamente assentar o domínio português no sul do Brasil, região ameaçada pelas colónias espanholas do sul e oeste do continente sul-americano.

A cidade que deu ao mundo nomes célebres como a cantora Ellis Regina e o, actualmente considerado melhor futebolista do mundo, Ronaldinho Gaúcho, alberga um dos “derbys” mais apaixonantes e aterradores do futebol mundial e que coloca frente a frente os dois maiores clubes da capital Gaúcha: Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense e Sport Club Internacional.

Na Europa, será menos mediático que o “Fla-Flu”, eventualmente por este ser um “derby” do Rio de Janeiro (segunda maior cidade do Brasil e capital do estado de mesmo nome), no entanto o “Gre-Nal” é considerado por muitos como a maior rivalidade do Brasil. Os jogos entre os dois clubes ficam invariavelmente marcados por cenas de violência extrema nas bancadas.


A expressão “Gre-Nal” apareceu pela primeira vez em 1926, pela pena do jornalista desportivo Ivo dos Santos Martins, gremista confesso, que cansado de escrever por extenso o nome dos dois clubes, acabaria por inventar esta expressão como forma de designar os encontros entre os dois clubes.

Reza a história que o Grémio nasceu a partir de um jogo de futebol protagonizado por alemães e ingleses que jogavam em clubes do Rio Grande. A dada altura do jogo a bola esvaziou-se, pelo que um espectador especial do jogo – Cândido Dias da Silva, um paulista que residia na cidade de Porto Alegre – tratou de emprestar de imediato a bola que trazia consigo para que o jogo pudesse continuar. Como forma de agradecimento, no final da partida, os intervenientes transmitiram todos os conhecimentos sobre futebol ao atento Cândido Dias da Silva que deles reteve o principal: como fundar um clube de futebol. Foi assim que mais tarde, em 15 de Setembro de 1903, um grupo de rapazes reunido num restaurante de um hotel, decidiu fundar o Grémio Foot-Ball Porto Alegrense.

Quanto ao rival Inter, sabe-se que a sua génese está ligada a três jovens irmãos, de apelido Poppe, oriundos de S.Paulo, que chegaram à industrializada cidade de Porto Alegre em 1908 para iniciarem uma carreira de negócios no sector do vestuário. As portas dos clubes da cidade, pouco receptivos a aceitarem gente de fora (Grémio incluído), foram sempre fechadas aos três jovens que, ávidos de praticarem alguma actividade desportiva, acabaram por criar o seu próprio clube. Nasceu assim o Internacional de Porto Alegre, um clube que era, segundo os seus fundadores, para cidadãos brasileiros e estrangeiros. O nome Internacional indicava essa mesma filosofia de abertura a outras nacionalidades. O nome Internacional foi escolhido em alusão e homenagem ao Internazionale de Milão, cidade de onde eram oriundos os pais dos Poppe.

Essa “abertura” do Internacional, em contraposição ao “fechado” e elitista Grémio contribuiu bastante para o “agudizar” da rivalidade entre os dois clubes ao longo dos anos.
Em termos de palmarés, a luta entre os dois clubes está algo equilibrada.

Das escolas dos dois clubes têm saído grandes craques do futebol mundial. Entre muitos outros saíram do Grémio, Ronaldinho Gaúcho, e o nosso conhecido Anderson do Futebol Clube do Porto. Do Internacional, saiu recentemente Rafael Sóbis, para o campeonato espanhol, mais concretamente para o Bétis de Sevilha.

Em termos de palmarés, a nível interno, o Inter leva vantagem com 3 campeonatos brasileiros conquistados contra dois do Grémio. Também no Estadual, o Inter conta com 37 títulos contra 34 do Grémio. Na Copa do Brasil, leva o Grémio vantagem com 4 títulos contra apenas um do Inter.
No que respeita à Copa Libertadores, o Grémio tem dois títulos nesta competição, enquanto que o Inter conquistou este ano a sua primeira copa, facto a que aludi neste post.


Número de GreNais:340

Vitórias do Inter:129

Vitórias do Grêmio:107

Empates:104

Gols do Inter:499

Gols do Grêmio:464

Total de gols:963


Este ano, o derby, para além do mais, tem também o condimento de os dois clubes estarem nos lugares cimeiros da tabela: o Internacional está em segundo lugar com 59 pontos enquanto que o Grémio ocupa a quarta posição com 55.

Thursday, November 02, 2006

Monday, October 30, 2006

Para além de Mário Jardel

Há uma equipa no nosso campeonato que me merece um certo destaque. Não é pela sua posição na tabela, nem por qualquer resultado extraordinário que tenha alcançado, e sim, pela qualidade demonstrada em alguns aspectos do seu jogo. Essa equipa, que já me mereceu umas considerações neste espaço é o Beira-Mar.

O Beira-Mar desde o início da época foi alvo da curiosidade de muitos, suscitada pela aquisição de Mário Jardel. Esperar-se-ia um modelo de jogo para a equipa construído à medida do goleador brasileiro, ou seja, jogo centrado nos corredores laterais tendo em vista servir Jardel através de cruzamentos. Nesta perspectiva, o sistema que se esperava vir a ser implementado seria o 4x3x3. No entanto nada disso se tem verificado. Augusto Inácio tem optado pelo 4x4x2 (losango), alternando-o em algumas circunstâncias pelo 3x5x2 ou 5x3x2. Mas o aspecto que mais merece destaque é o facto de a equipa defender “à zona”, mesmo contra equipas que não as do “seu campeonato” – foi o que se pôde constatar do jogo da última jornada frente ao Sporting. Utilizando o mesmo sistema de jogo do seu opositor, poder-se-ia esperar da equipa aveirense um certo “encaixe” nas peças do adversário, visando anular a influência decorrente da sua maior qualidade técnica. Novamente não foi isso a que assistimos, e sim – quando sem bola – a um bloco compacto, com permanentes acções de cobertura que basculava em função da posição da bola. Não o fez com total eficácia, pois foram vários os espaços vazios que se criaram (sobretudo nos minutos iniciais) e que os avançados leoninos não souberam aproveitar, mas isso também decorre naturalmente da maior valia técnica dos jogadores verde e brancos.

Não sendo totalmente eficaz em termos de processo defensivo, a “zona” do Beira-Mar torna-se mais profícua no que respeita às transições ofensivas, sobressaindo assim uma das virtudes do método da zona, que é o facto de a equipa não se organizar (ou desorganizar) em função do adversário e sim em função dela mesma, ou daquilo que é o seu modelo de jogar, e de facto, a equipa aveirense, sempre que tinha a bola em seu poder parecia saber de cor o caminho a dar-lhe: em poucos toques fazê-la chegar rapidamente à grande área do adversário.

Em termos de destaques individuais, para além do renascido Jardel, há ainda um lateral esquerdo muito interessante: Tininho, um lateral ofensivo que controla bem os timings de subida e recuperação; Luciano Ratinho, um médio criativo que funciona como o "número 10" da equipa e Wegno, um avançado de grande mobilidade.

Friday, October 20, 2006

Quando a «zona» cede ao «homem»

Benfica - Barcelona da época passada. Ricardo Rocha foi destacado para marcar Ronaldinho Gaúcho. Foi notório durante – sobretudo a primeira parte do jogo – que sempre que a bola chegava aos pés do brasileiro, imediatamente Ricardo encostava nele, seguindo-o para onde quer que ele fosse. A actuação do central – adaptado a lateral nesse jogo – foi eficaz na primeira parte do jogo, em que Ronaldinho jogava do lado esquerdo do ataque da equipa catalã. Nos dias subsequentes ao jogo, acendeu-se uma interessante discussão sobre os méritos da marcação individual e da marcação à zona, identificada esta última como o método das equipas de top. Houve quem criticasse a opção de Ronald Koeman, e em última instância até a apontasse como uma das causas do insucesso da equipa encarnada nesse jogo…

Quem observou o Chelsea-Barcelona de quarta-feira, pôde facilmente constatar que o lateral direito, Boulahrouz (também ele central adaptado à posição) se ocupou fundamentalmente da marcação individual ao astro brasileiro, chegando mesmo a acompanhá-lo – pressionando-o - até ao meio campo contrário. Não deixa de ser curiosa esta constatação, sobretudo tendo em conta que se está a falar de uma equipa de top e também das que melhor interpreta, actualmente, os princípios da “zona”.

Não quero com isto, pôr em causa o axioma da defesa à zona como característica distintiva das grandes equipas, apenas me parece que pô-la em prática de forma absoluta, quando se defrontam equipas que contam nos seus quadros com jogadores cuja capacidade técnica os dota da capacidade de fazer coisas imprevisíveis, é um risco que não valerá a pena correr.

Argumentam os defensores do método defensivo da zona que essa é a melhor e até a única forma de uma equipa se manter coesa, manter o equilíbrio entre as suas linhas e desse modo poder controlar e até dominar um jogo. De acordo, no entanto, pô-lo em prática de forma absoluta, nas circunstâncias referidas atrás, é negar o factor individual do jogo, é negar, sem pôr em causa os imperativos colectivos, que existem jogadores cujo talento pode desequilibrar uma partida a qualquer momento. E o facto de ter existido essa marcação individual a Ronaldinho não fez com que a equipa do Chelsea se desequilibrasse em momento algum do referido jogo – prova disso foram as ténues oportunidades de perigo criadas junto da baliza de Hilário.

Thursday, October 19, 2006

Para reflectir...


"...As pessoas sugerem que os futebolistas devem comportar-se como os jogadores de râguebi e aceitar as decisões. Nesta modalidade, os atletas podem falar com os árbitros. Nós não estamos autorizados. Gostava que o futebol se equiparasse ao râguebi nalgumas coisas porque não podemos falar com os árbitros...quando nos dirigimos e tentamos falar com eles, não respondem nem dirigem qualquer palavra. É difícil lidar com isto..."

Thierry Henry

Friday, October 13, 2006

Futebol português: método defensivo à zona ou individual? (I)


Mais importante que os sistema de jogo de uma equipa, são os métodos de jogo utilizados, defensivos ou ofensivos.

São três os métodos defensivos em futebol, a saber: método individual, mais comummente designado por defesa homem-a-homem, o método à zona, o método misto ou zona mista e a zona pressionante, por vezes designado - e mal porque também se pode pressionar alto sem ser de forma zonal – por pressing alto.

Actualmente o método defensivo utilizado pelas equipas de top é o método da zona, variando depois a amplitude do pressing, para se definir se é zona pressionante ou não - sobre isto não restam dúvidas.

Nuno Amieiro, na sua tese de mestrado, adaptada a livro – Defesa à Zona no Futebol. Um Pretexto para Reflectir sobre o «Jogar» … Bem, Ganhando! - , desenvolve a ideia de que o método individual tem duas formas diferenciadas de se manifestar, ou seja, pode ser pela marcação individual do adversário, marcação essa tendo como referência o adversário (independentemente de quem seja o adversário) e não o espaço e o sítio onde a bola se encontra (referências do método à zona). Outra forma é aquela onde a referência de marcação é personalizada, ou seja, é atribuído ao jogador a missão de marcar determinado jogador da equipa adversária, ficando assim encarregue de seguir exclusivamente esse jogador. Segundo Nuno Amieiro, são estas duas manifestações do método individual que consubstanciam o padrão defensivo das equipas portuguesas: “…no futebol português, ignora-se, por completo, o que é verdadeiramente «defender à zona». Não se percebe que existe outra realidade, outra forma de se perspectivar a organização defensiva de uma equipa. Só este facto justifica o «padrão defensivo» que a quase totalidade das equipas apresenta: uma «defesa homem-a-homem» mesclada com algumas «marcações individuais», o mesmo é dizer, um «jogo de pares» onde as equipas procuram «encaixar» no adversário…”

(...)
continua em breve

Thursday, October 12, 2006

Um reparo aos comentaristas profissionais (nem todos)

Talvez por desconhecimento ou então – mais grave ainda - por incapacidade, este senhores esquecem-se de uma premissa fundamental no que diz respeito ao futebol: O jogo de futebol é um jogo colectivo que consiste numa relação de antagonismo entre duas equipas, circunscritas a regras, lutando por um objectivo intermédio (a posse da bola) e um objectivo final (a obtenção do golo e evitar essa concretização ao adversário). É uma lógica relativamente simples, sobretudo se pensarmos em outras modalidades. No entanto essa simplicidade pode ser mais ilusória que real.
O jogo de futebol contém um quadro extenso de variáveis físicas, técnico-tácticas, psicológicas, sociológicas e culturais. Estas variáveis condicionam-se reciprocamente, o que torna necessário que o conteúdo de um jogo de futebol seja analisado com rigor.
Uma análise rigorosa de um jogo de futebol não se compadece com a particularização de apenas uma parte que compõe o objecto de análise.
Por muito inferior que uma equipa seja, no conjunto de todas as variáveis supra-mencionadas, desde que reúna as condições iguais do ponto de vista regulamentar (por exemplo, não se encontre em inferioridade numérica), nunca se poderá, em rigor, avaliar o seu insucesso em função, exclusivamente, dessa inferioridade, ou inversamente, tirar mérito à equipa adversária que é superior, pelo facto de ter atingido os objectivos do jogo. Por isso mesmo, é que por vezes, quando surgem as ditas “surpresas” (como a recente vitória do Chipre por 5-2 frente à República da Irlanda), a tendência de vários comentaristas é invariavelmente, a de analisar e explicar o sucedido, nunca reconhecendo, nem uma pontinha de mérito ao autor da surpresa, mas sim, apontando uma série de defeitos no surpreendido…extremamente redutor…

O futebol tem esta particularidade, ou seja, a sua aparente simplicidade, a forma como desperta emoções, a importância sócio-económica crescente que tem vindo a assumir nos últimos anos, o seu carácter universal, tudo isto contribui para o tolhimento cognitivo de quem o analisa. No caso do comum adepto, não é grave, já no caso de quem o analisa com o peso do profissionalismo em cima dos ombros, aí o caso muda de figura.

Taxativo (sobre o Polónia-Portugal)

Mais do que a prestação deste ou daquele jogador, o que foi realmente determinante no jogo da selecção foi a prestação colectiva. A equipa portuguesa esteve mal nos momentos de transição. Foi uma equipa que teve sempre os seus sectores distanciados e desligados. Poder-se-á discutir a proficiência do duplo pivot defensivo constituído por Costinha e Petit e consequente ausência da “muleta” de Deco: Maniche. Quanto ao resto, são apenas aspectos conjunturais, que resultaram de uma deficiência ao nível da dinâmica de jogo e também da qualidade do adversário.

PS: Pauleta foi criticado por muitos, que lhe apontavam o facto de - segundo eles - apenas fazer bons jogos frente a selecções de segunda categoria. Porque não acontecerá o mesmo a Cristiano Ronaldo?

Tuesday, October 10, 2006

Uma recordação de tempos sem marketing...

Em tempo de fase de qualificação para o Europeu de 2008, recordei uma bela geração de futebolistas lusos, que nada deve aos mais recentes representantes da selecção das quinas.

Um conjunto fabuloso de jogadores que pisou os relvados numa altura em que o marketing ainda não grassava no desporto rei e que teve o seu apogeu no Europeu de França em 1984.

Foi o europeu da arte latina. Dos quatro semi-finalistas, apenas uma equipa representava o futebol do norte da Europa, ainda assim, aquela que tradicionalmente mais se aproxima do virtuosismo típico do futebol latino: a Dinamarca, já a viver na antecâmara do sucesso que viria a alcançar em 1992.

O jogo da meia-final que opôs Portugal a França fica para sempre nos anais da história do futebol luso, com duas reviravoltas súbitas no resultado, que acabou por pender para a poderosa selecção gaulesa e o seu meio campo de luxo, constituído por quatro fabulosos criativos: Platini, Giresse, Tigana e Fernandez.

Uma selecção nacional que se deu ao luxo de não contar com nomes como Humberto Coelho, João Alves, António Oliveira e Manuel Fernandes e que mostrou à Europa um pequeno genial chamado Fernando Chalana.



Monday, October 09, 2006

Karagounis: o multifunções

"...Karagounis é um jogador de explosão, indomável, daqueles que se ri dos sistemas tácticos e, em campo, adquire várias personalidades..."

Luís Freitas Lobo


Pouco utilizado por Koeman, Karagounis parece ter adquirido, nesta fase inicial da época, um protagonismo dentro de campo mais condicente com as expectativas que criara junto dos adeptos encarnados.

Uma das conclusões que se pode retirar das últimas exibições do grego é a sua polivalência. Karagounis pode ocupar qualquer posição do meio campo com igual eficiência. Quando chegou ao Benfica, foi-lhe atribuído o número 10, na camisola e na função, contudo, não se pode considerar, de maneira nenhuma, que seja um nº 10 clássico. A questão é precisamente essa: como definir, em termos futebolísticos, Karagounis? Não é um 10 (falta-lhe maior criatividade e visão de jogo), mas pode jogar no espaço tradicionalmente ocupado por esse jogador, em função da sua capacidade de controlo de bola, pela forma como marca o ritmo de jogo, e pelo seu forte remate de longa ou curta distância. Pode também jogar como médio interior, dada a sua qualidade ao nível do transporte de bola. É também um jogador com boa capacidade de passe (curto ou longo). Mas o que mais ressaltou dos últimos jogos do grego, foi a sua disponibilidade defensiva, tendo inclusive, jogado na posição de médio mais recuado, no jogo frente ao Desportivo das Aves, e com reconhecida eficácia. Já no jogo frente ao Manchester United, Karagounis recuperou muitas bolas ao adversário, tendo sido um autêntico “tampão” na zona intermédia do campo. Atente-se que foi após a sua saída que os ingleses começaram a trocar a bola com maior facilidade, fazendo-a chegar, com perigo, à grande área encarnada. Karagounis, neste Benfica pode perfeitamente ocupar qualquer posição do meio campo, mas eventualmente, e tendo em conta o sistema de jogo, poderá encaixar de forma proficiente num dos vértices adiantados do triângulo invertido, ou no caso do duplo pivot (4x2x3x1 ou 4x2x1x3), poderá ocupar uma das duas posições da primeira linha do meio campo, um pouco à semelhança de Maniche na selecção nacional. Nesse caso, a dinâmica imposta, acabaria por ditar, por um lado, maior consistência defensiva – anulando a eventual e teórica permeabilidade defensiva, que advém da utilização de apenas um médio defensivo – e também maior fluidez na transição ofensiva.


Tuesday, October 03, 2006

O endeusamento e a diabolização no futebol português

O “fenómeno Mourinho” tem tido as mais diversas consequências, muitas delas para além das que decorrem estritamente do trabalho do treinador português, com tradução directa nos excelentes resultados conquistados.

Apesar de estar a iniciar a sua terceira época em Londres, o seu nome continua a fazer ressonância por cá. Multiplicaram-se os livros sobre o treinador – uns mais ao estilo de uma qualquer revista people, outros de teor mais técnico, onde as suas ideias foram esmiuçadas até à exaustão.

Ao nível da classe profissional, também as consequências foram e ainda têm sido por demais evidentes. Apressaram-se uns quantos académicos e recém-licenciados, que emergidos do nada, desataram a reproduzir um estilo alheio, mas um estilo que era acima de tudo uma referência.

Os outros, os que já cá andavam há uns tempos, foram sendo esquecidos e muitos deles procuraram oportunidades de emprego em outras paragens, outros houve que pura e simplesmente caíram mesmo no esquecimento e até mudaram de actividade, após terem visto todo o seu anterior trabalho ser deitado no lixo em detrimento de novos e modernos métodos de trabalho.


Tudo o que Mourinho, do lado de lá do canal da mancha vai dizendo, são verdades absolutas. A sua opinião veiculada semanalmente na revista Dez do jornal Record, era sistematicamente parafraseada por muitos…
Ao nível do comentário e análise, mudou-se a terminologia, a linguagem e os conceitos.

Também foi notório, por parte dos dirigentes dos clubes, o esforço em desencantar um novo exemplar, tendo-se sucedido em catadupa as várias tentativas frustradas…

Para não variar, seja no futebol, seja em outros quadrantes da vida social portuguesa, somos o povo do oito ou do oitenta, onde o meio-termo continua a ser algo intangível.

É evidente que muitos dos treinadores enquadrados naquilo que se convencionou chamar de “velha guarda” ou da “velha escola” também terão dado um contributo para este estado de coisas, pelo facto de não terem procurado evoluir no desempenho do seu trabalho, seja por negligência, ou por teimosia e prepotência que os tenha feito olhar de soslaio para o trabalho de novos profissionais. No entanto, também será exagerado pensar-se que Mourinho e uma nova geração de treinadores que emerge ao mesmo tempo que ele sejam os detentores dos melhores métodos de trabalho.

Actualmente existem dois treinadores que se encontram no auge das boas graças da opinião pública em geral, curiosamente, cada um deles enquadrado nas duas categorias anteriormente referidas: Carlos Carvalhal, o jovem académico e Jesualdo Ferreira, também académico, mas com carreira já longa no futebol português.

Não pretendendo realizar grandes análises aos respectivos trabalhos e desempenhos dos dois treinadores e nem querendo, de forma alguma, pôr em causa a sua qualidade, penso, no entanto, que seria interessante olhar para ambos com base nos mesmos critérios que muitos utilizam para avaliar o desempenho de outros profissionais do treino.
Assim sendo, Jesualdo Ferreira, agora endeusado, foi em tempos um treinador olhado – sobretudo após ter substituído Toni no cargo de treinador principal no Benfica - com muita desconfiança. Antes disso, passagens discretas por Académica, Estrela da Amadora, Far Rabat (Marrocos), Alverca e selecção nacional de esperanças. As duas últimas épocas em Braga – iniciadas com imensa contestação – foram de facto muito bem sucedidas, no entanto, em termos de resultados práticos, foram alcançadas duas qualificações para a taça Uefa.

Quanto a Carlos Carvalhal, conta no seu currículo com uma final da taça ao serviço do Leixões, que na altura disputava a liga de Honra e uma passagem – com grandes expectativas criadas - mal sucedida pelo Beleneneses.

Mais uma vez, volto a referir que não quero, de modo algum, pôr em causa a qualidade e o mérito destes treinadores, apenas deixo a questão: será que o endeusamento deles se justifica, sobretudo quando comparado com a diabolização de outros?

Monday, October 02, 2006

Taxativo



"...O mal das equipas portuguesas, quando defrontam clubes grandes, é que o medo provocado por esses confrontos leva a alterações injustificadas nas suas estruturas..."

Carlos Carvalhal

Thursday, September 28, 2006

Benfica-Manchester United e a inversão de papéis face à época passada

"...Fizemos um jogo que pode ser considerado anti-Manchester, mas precisamos entender que às vezes também é preciso saber defender bem..."

Alex Ferguson


"...Fizeram um pressing louco e causaram enorme turbulência na nossa construção de jogo, embora sem criar reais oportunidades de golo..."

Carlos Queirós


Estas afirmações resumem bem o que foi o jogo de terça-feira entre Manchester United e Benfica. No entanto, não deixa se ser importante referir que o Benfica nunca soube tirar partido da iniciativa de jogo que lhe foi concedida pelo adversário, revelando enormes dificuldades ao nível da construção do processo ofensivo. O pressing em zonas mais adiantadas do campo foi efectuado com relativa eficiência, no entanto, assim que recuperada, a bola raramente seguiu caminhos que desequilibrassem o organizado bloco inglês.

Em relação ao joga da época passada, houve uma clara inversão de papéis, ou seja, a equipa inglesa na época transacta veio a Lisboa fazer o seu jogo "à Manchester" - pegando na expressão de Ferguson - ataque posicional, elevado balanceamento ofensivo, frente a um Benfica mais pragmático, de contra-ataque e ataque rápido. Conclusão: quem nas duas épocas optou pela segunda estratégia, venceu o jogo...

Relativamente ao Benfica, e na sequência do que tenho escrito, ainda há muito trabalho a fazer para chegar ao ponto óptimo de um modelo de jogo totalmente diferente daquele que tem sido utilizado nos últimos anos.

Friday, September 22, 2006

Frase do dia

"...O Real Madrid devora treinadores..."

Quique Flores (treinador do Valência)

Monday, September 18, 2006

O "case study" Benfica


Subscrevo o excelente artigo de Luís Freitas Lobo - Benfica: uma questão de classe - que pode ser lido aqui.

Como já referi aqui, a questão não se esgota no sistema táctico, existindo aspectos muito mais importantes que explicam as dificuldades - e consequentes maus resultados e exibições - que a equipa tem sentido neste início de época, e que já foram reveladas durante a pré-época. A maior evidência disto foi o jogo no Bessa, no qual, alinhando com o sistema táctico das últimas épocas (4x2x3x1), os problemas manifestados foram exactamente os mesmos que foram observados durante os jogos de pré-época, quando se testava o 4x4x2 (losango): dificuldades na manutenção da posse de bola e consequentemente, dificuldades ao nível da construção do processo ofensivo; incapacidade de reagir ao pressing efectuado pela equipa adversária.

É ao nível da implementação dos princípios de jogo, que a tarefa de Fernando Santos se afigura delicada.
Refere Luís Freitas Lobo que “Fernando Santos pretende posse de bola, circulação e aproveitamento das faixas laterais”, e também, acrescentaria eu, uma equipa mais pressionante, efectuando o chamado pressing alto, algo que foi assumido pelo próprio treinador em diversas ocasiões.

Como já escrevi aqui, o modelo de jogo do Benfica nos últimos anos, assentou em princípios totalmente diferentes, pelo que a tarefa de Fernando Santos, para além de corajosa, afigura-se algo complexa, sobretudo devido a diversos condicionalismos que têm impedido que esse trabalho seja realizado na sua plenitude (lesões, indecisões na construção do plantel, paragens prolongadas etc).

Quando digo que a tarefa é corajosa, quero dizer que se Fernando Santos falhar nesse propósito, a sua passagem pelo Benfica ficará indelevelmente rotulada de fracasso, pois a generalidade da exigente massa adepta do clube não entende algumas destas questões. No entanto também é necessário referir que o clube tem indiscutivelmente o melhor plantel das últimas épocas, daí que, eventualmente seria imperativo assumir um modelo de jogo mais condicente com os pergaminhos do clube, isto é, com aquilo que normalmente os adeptos esperam que seja o Benfica, e que foi em outros tempos a sua grande imagem de marca: um clube que joga sempre para ganhar, com um futebol atraente e ofensivo. Para além disso, a grande debilidade do Benfica, nos últimos anos, foi exactamente ao nível da transição defesa-ataque, sempre bastante evidente a nível interno quando defrontava equipas que procuram, essencialmente, defender, concentrando durante grande parte do jogo, o maior número possível de jogadores entre a linha da bola e a própria baliza.

Ao contrário de Luís Freitas Lobo, não penso que a ocupação das faixas laterais seja um aspecto tão determinante nesta fase.
De facto, Simão e Miccoli nas faixas laterais, dentro de um sistema de 4x2x3x1, serão as opções que darão maior dimensão qualitativa de jogo, no entanto, Paulo Jorge tem dado excelentes indicações, Manu é boa opção para jogos mais “abertos”, no sentido de se tirar partido da sua grande virtude que é a velocidade. Nuno Assis, já mostrou bons pormenores quando colocado numa ala (como ocorreu na segunda parte do jogo frente ao Nacional), e até o próprio Karagounis, apesar de pouco veloz, poderá ocupar essa posição, já que é um jogador que tem bom controlo de bola e é repentista, podendo realizar – à semelhança de Assis - de forma eficiente, as ditas diagonais de penetração.

Um aspecto que poderá ser alvo de algum trabalho, é o da movimentação e acções técnico-tácticas dos defesas centrais.
Para a realização da pressão alta, é imperativa a redução de distância entre linhas, a equipa tem que funcionar como bloco compacto – a defender e a atacar – para assegurar, eficientemente, as acções de cobertura necessárias, com e sem bola. Nesse sentido, é necessário que a linha defensiva suba mais no terreno para efectuar as coberturas aos médios que estejam a efectuar o pressing para a recuperação da bola. Em posse de bola, também se exige aos defesas que tenham alguma visão de jogo e boa capacidade de passe.

Os dois habituais titulares durante a época passada, Luisão e Anderson, são centrais com elevado sentido posicional, muito fortes na marcação, no jogo aéreo, nas acções de antecipação (do melhor que existe na liga portuguesa), porém, para além de estarem rotinados a posicionarem-se em zonas mais recuadas, também não possuem velocidade para – posicionados mais à frente – serem totalmente eficientes para as acções de transição ataque-defesa. A qualidade do passe e visão de jogo também não são dos seus mais fortes atributos. Daí que, a este nível, seja necessário ainda algum trabalho. Outra solução, será Ricardo Rocha, que foi várias vezes adaptado à posição de defesa lateral, pelo que terá maior facilidade em assimilar esta nova forma de jogar. E ainda há Alcides, que é de todos os defesas centrais do Benfica, aquele que parece ter maior qualidade técnica com a bola nos pés.


Nota: no jogo frente ao Nacional, já se pôde observar a equipa a aproximar-se um pouco daquilo que Fernando santos pretende.

Friday, September 15, 2006

Taça Uefa: Sp. Braga vence Chievo Verona

Excelente o resultado do sporting de Braga na 1ª mão da 1ª eliminatória da Taça Uefa.
Terá sido importante o facto de ter marcado cedo, na sequência de uma bola parada e graças a uma desconcentração defensiva do adversário.

O Braga iniciou o jogo com o seu habitual figurino táctico: 4x3x3, não obstante com algumas alterações ao nível do “onze” escolhido. O trio do meio campo era composto por A.Madrid (mais recuado), e à sua frente, Ricardo Chaves (na esquerda) e o regressado Hugo Leal (mais descaído sobre a direita); nas faixas, Wender e João Pinto, no corredor esquerdo e direito, respectivamente; na frente com a mobilidade do costume, Zé Carlos.

O Chievo alinhou em 4x4x2 clássico, e rígido, na medida em que se pôde observar duas linhas de quatro jogadores bem definidas sempre que a equipa se encontrava em processo defensivo. Talvez por isso, Carlos Carvalhal tenha optado por colocar nas faixas, jogadores como Wender e João Pinto, que também têm tendência em flectir para zonas interiores, e dessa forma equilibrar, em termos numéricos, a luta a meio campo. Contudo a equipa minhota viria a ser mais esclarecida na segunda parte com a entrada de Maciel (substituiu Ricardo Chaves no final da primeira parte). Mais esclarecida no sentido de se apresentar mais fiel aos seus princípios de jogo. O extremo brasileiro para além de ter sido um elemento determinante em campo, permitiu que – com a deslocação de João Pinto para o centro – o meio campo ficasse mais ligado com o ataque. Com Hugo Leal e João Pinto nos vértices adiantados do triângulo, a equipa ganhou maior capacidade de posse de bola e de construção e o jogo exterior ficou mais acutilante com as investidas de Maciel, sobretudo no corredor direito.

Thursday, September 14, 2006

Frases

" ...Se não passas bem a bola nenhum sistema pode funcionar..."

Gordon Strachan (treinador do Celtic)



"...o AC Milan comprou Favalli com 34 anos ao Inter...em Portugal algo do género seria um escândalo..."

Joaquim Rita (comentador desportivo)

Wednesday, September 13, 2006

Champions League: notas breves sobre as equipas portuguesas

As equipas portuguesas obtiveram resultados positivos, no segundo dia da primeira jornada da Liga dos Campeões, facto que é ligeiramente mais significativo no caso do Benfica, tendo em conta o factor casa.

Em Copenhaga, viu-se claramente um Benfica em construção. Depois das deambulações tácticas da pré-época, da desestabilização decorrente da saída/não saída de Simão Sabrosa, da previsível mossa que a derrota no Bessa terá causado e das ausências significativas de alguns jogadores, o Benfica fez um jogo “pelo seguro”, tendo acabado por ser proficiente a aposta nessa estratégia. A equipa portuguesa controlou o jogo, dando o domínio do mesmo ao adversário, adversário que não obstante ter assumido esse domínio desde o primeiro minuto, nunca conseguiu criar situações de finalização significativas, sendo que a maior situação dessa natureza acabou por pertencer à equipa benfiquista, num excelente momento de Paulo Jorge que culminou com uma bola no poste.

Ao invés, no estádio do Dragão, o F.C. Porto foi a equipa que dominou. Só não se pode dizer que o CSKA tenha controlado o jogo, apesar de ser perceptível que era esse o seu objectivo. A equipa russa foi em tudo igual àquilo que já nos mostrara há duas épocas: boa organização defensiva e exploração de ataques rápidos e contra-ataques. De notar que esta equipa foi muito pouco alterada, desde que conquistou a taça Uefa há duas épocas em Lisboa, mantendo o treinador e as suas grandes estrelas.
Apesar disso, a equipa portista criou várias situações de finalização, contudo não conseguiu concretizar nenhuma delas.
Destaque para uma extraordinária exibição de Anderson.


Uma nota de destaque, ainda, para um confronto de dois históricos do futebol europeu: o Steaua de Bucareste venceu o Dínamo de Kiev na Ucrânia por surpreendentes 4-1, com dois grandes golos do avançado Dica e com uma boa exibição do guarda-redes português, Carlos. A seguir com atenção, os próximos jogos da equipa romena.

Tuesday, September 12, 2006

Sporting bate Inter Milão

Sensacional e incontestável a vitória do Sporting frente ao poderoso Inter de Milão.
A equipa de Paulo Bento foi a confirmação daquilo que já tinha escrito aqui: dinâmica, mobilidade, densidade, rápida circulação de bola, eficiência nas transições. Tudo isto caracterizou o jogo da equipa sportinguista.

O pressing em profundidade e largura foi também determinante, sempre com as suas linhas muito próximas, o Sporting conseguiu não apenas bloquear as transições ofensivas da equipa italiana, como também recuperar a bola - muitas vezes no meio campo adversário - para iniciar as suas transições. Em suma, está-se a falar aqui de muitos dos princípios da chamada zona pressionante.

O Inter, com um dispositivo táctico semelhante ao da equipa portuguesa, foi a antítese de tudo o que foi referido atrás – defesa à zona, mas muito recuada, com uma pronunciada distância entre linhas, sobretudo a linha “avançada” da equipa que esteve sempre desligada das linhas mais recuadas. O pressing dos italianos foi efectuado mais em largura que em profundidade. Apesar disso, o mérito é do Sporting que terá tido também a vantagem de algo que lhes fora apontado como o seu “calcanhar de Aquiles”: a juventude dos seus jogadores.

Em termos de destaques individuais - e apesar de o maior destaque ter que ser atribuído à organização colectiva - Miguel Veloso foi o pêndulo das transições defensivas e também ofensivas. O jovem jogador, filho do internacional benfiquista Veloso, que o ano passado jogava no Olivais e Moscavide (na 2ª divisão B!), actuou na posição de pivot defensivo, e não apenas correspondeu nas tarefas defensivas, como apoiou a equipa nas acções ofensivas. Atente-se que o jogador, não obstante ser essa a sua posição de formação, tinha vindo a actuar a posição de defesa central, tendo assumido esta nova função nos últimos dois jogos, face à indisponibilidade de Custódio e Paredes.

Quanto ao Inter, refira-se a inovação - face à época anterior em que utilizava um modelo de 4x4x2 clássico - de um novo sistema táctico: o 4x4x2 em losango. Resta saber se terá sido uma opção circunstancial face à ausência de Cambiasso, ou se será mesmo para continuar. Se foi uma opção circunstancial, dá para reflecir sobre um possível desequilíbrio na construção do plantel da equipa italiana.
Outro aspecto a reter prende-se com a proficuidade da utilização de Luís Figo na posição de médio centro ofensivo. Wanderley Luxemburgo teve essa ideia no Real Madrid, ideia que acabou por contribuir sobremaneira para o abandono de Figo do clube madrileno.

O losango do Beira-Mar e a forma como a vitória escapou

Depois de ter jogado em 4x3x3 na primeira jornada, ontem Augusto Inácio apresentou o seu Beira-mar com um dispositivo táctico de 4x4x2 com o meio campo disposto em losango. Foi interessante seguir o desenrolar do jogo, sobretudo, ver como “encaixava” Mário Jardel (o grande atractivo deste Beira-mar) neste sistema. Em teoria, o 4x3x3 seria o sistema preferencial para Mário Jardel, tendo em conta as suas características, no entanto, Jardel ainda está à procura da melhor forma física e as limitações daí decorrente são uma evidência. No jogo frente à União de Leiria, cedo se percebeu que a ideia era fixar Jardel Junto da grande área, deixando o dinâmico Wegno a trabalhar nas suas costas, aproveitando dessa forma, os espaços que surgiam, decorrentes da marcação imposta ao seu colega.

A equipa de Aveiro tirou partido da superioridade numérica de que, quase sempre, dispôs no meio campo, resultado de ter nessa zona do terreno quatro homens, contra três do adversário. A largura do jogo era assegurada pelas permanentes subidas do lateral Tininho e pela mobilidade de Wegno. Vidigal no lado direito, preocupava-se mais em fechar o corredor.

No entanto, houve um momento que terá sido determinante na viragem de um jogo que parecia já estar destinado à vitória do Beira-Mar. Ao minuto 69, Inácio tira um jogador do meio campo, Luciano Ratinho, e coloca o central Marco. A equipa nessa altura passa a jogar em 5x3x2, a luta a meio campo estava finalmente equilibrada, acresce a isso, a subida dos laterais quando a equipa tinha a posse de bola. Apanhada em contra-pé, abriram-se espaços nos corredores laterais, e aí Sougou fez o resto. A União de Leiria acabou por empatar um jogo que fora sempre controlado e dominado pelo Beira-Mar.

PS: O Beira-Mar poder-se-á queixar (legitimamente) de uma má arbitragem nos últimos minutos do jogo


Monday, September 11, 2006

Sai Zidane, entra Ribery

Parque dos Príncipes, minuto 67, o maior clássico do futebol francês está empatado a um golo. O Paris Saint Germain tem o domínio do jogo, o Marselha, em contenção, procura os ataques rápidos e os contra-ataques. Franck Ribery acelera, dribla e assiste primorosamente Niang na grande área, que em posição frontal para a baliza é derrubado de forma irregular. Grande penalidade convertida (na recarga) e o Marselha passa para a frente no marcador.

Ao minuto 89, Franck Ribery arranca pela esquerda, trava, finta o adversário e assiste Pagis que apenas teve que empurrar a bola para o fundo da baliza parisiense. O resultado estava feito, o Marselha vencia o rival por 3-1.

Todos sabemos que o futebol é um jogo colectivo onde, como tal, essa dimensão global (a equipa) se deve sobrepor às individualidades que a estruturam. No entanto, também sabemos que há individualidades que, pelo extraordinário talento que possuem, podem resolver um jogo, mesmo contra toda a lógica (relativa) do mesmo. No fundo essa é uma das razões que fazem do futebol um jogo tão emocionante e apaixonante.

Frank Ribery foi um dos jogadores que esteve em destaque no último mundial. Agora, no Marselha, continua a espalhar o seu talento pelos relvados franceses. Ele é o playmaker, o flanqueador, e até marca golos ao serviço da equipa que está, sensacionalmente, encostada ao todo poderoso Lyon, no topo do campeonato francês.

Podia estar para aqui a escrever sobre sistemas e princípios de jogo, contudo, os dois primeiros parágrafos são mais que suficientes para ilustrar o que foi de facto determinante no jogo em questão.

Best of Franck Ribery

Friday, September 08, 2006

Taxativo

"A convicção é a de que o actual edifício da justiça do futebol profissional não tem sustentação possível e vai ruir ao dobrar da próxima esquina. O futebol profissional é uma indústria e as indústrias regem-se pelas leis da economia."

Manuel Martins de Sá

Wednesday, September 06, 2006

A escassez de pontas de lança


Quando se fala sobre selecções nacionais, há um aspecto que de imediato urge destacar: a escassez de avançados centro/pontas de lança. Este aspecto ainda ganhou maior realce, desde que Pedro Pauleta decidiu abandonar a selecção nacional, logo após o último mundial.

Após o anúncio de Pauleta, o assunto foi de imediato dissecado nas páginas dos jornais desportivos, faltou contudo, uma verdadeira análise, centrada nas possíveis causas do problema e nas eventuais soluções para o mesmo. A única explicação do fenómeno e a solução do mesmo parece ter formado uma excelente relação de causa e efeito, ou seja, a escassez explica-se pela imigração de jogadores (sobretudo brasileiros) e a solução mais referida, que valeu dias e dias de escrita e conversa, foi a mais simples (e polémica): a naturalização do brasileiro Liedson.

A falta de pontas de lança estará, porventura, relacionada com um sistema e modelo de jogo que é trabalhado a nível de selecções nacionais, desde os escalões mais jovens.
Nesse sentido, o 4x3x3 parece ser o sistema de referência, não apenas ao nível de selecções, mas também no que respeita à maioria das equipas portuguesas dos escalões profissionais. Como se sabe, o sistema privilegia o jogo pelos flancos, e como tal a utilização de médios ala/extremos. Esta situação contribui para que exista um maior número de jogadores com características para jogar nas alas, e em contraponto, um número mais reduzido de jogadores para actuar no lugar do ponta de lança. Acresce a isto, que potenciais jogadores para ocupar esse lugar, acabam por ser desviados para os corredores laterais.

Ainda ontem, ao observarmos a selecção de sub-21, pudemos constatar que dos três jogadores que compunham a linha avançada, nenhum jogou de forma posicional nesse lugar. Vaz Tê era o jogador que no papel ocupava a zona central, efectuando bastantes permutas posicionais com Varela. O caso do jogador do Vitória de Setúbal também é interessante. Varela, quando foi lançado na equipa principal do Sporting, ocupava a posição de ponta de lança, e de facto, o jogador possui algumas características típicas para ocupar esse lugar, no entanto, quer no Vitória de Setúbal, quer agora na selecção, o jogador tem sido destacado para actuar nos corredores laterais. O mesmo tem acontecido com Lourenço, e mais recentemente com Yanick Djaló.

Esta será uma das causas do tão evidente défice de pontas de lança no nosso país.
O trabalho táctico-técnico - ao nível dos escalões de formação da Federação Portuguesa de Futebol - de outro sistema de jogo (4x4x2, por exemplo) seria uma das possíveis soluções, o que não implicaria necessariamente a perda do 4x3x3, como sistema de referência. Não esquecendo também, naturalmente, o trabalho específico com os jogadores, independentemente do sistema e modelo de jogo.

Sugestões de leitura

«Nos primórdios do futebol, o treino era como executar e com bola - recepção, passe, remate. A análise pormenorizada do jogo permitiu perceber que este é, sobretudo, um conjunto de tomadas de decisões, em que os futebolistas passam o tempo a decidir e não a executar. Por muita preponderância que um jogador tenha na equipa, nem o Figo tem mais de 90 segundos de posse de bola num encontro»

Jorge Castelo, cit. por Nuno Guedes em "A ciência do futebol" (Expresso)

Tuesday, September 05, 2006

Conquista da liga espanhola: o terceiro elemento

Nas últimas duas décadas, apenas por quatro vezes, a hegemonia dos dois colossos (Real e Barcelona) foi derrubada.
Atlético de Madrid (campeão em 95/96); Deportivo (99/00) e por último, e mais recentemente, o Valência (01/02 e 03/04).

Esta temporada não fugirá à regra, e quer Barcelona, quer Real Madrid estarão no “pelotão da frente” a fim de arrecadarem mais um título para juntar à enorme colecção que já possuem.
No entanto, haverá mais uma vez, quem queira contrariar essa tendência, tendo para o efeito, apresentado argumentos extremamente fortes, sobretudo no que respeita ao reforço das suas equipas. Dentro desse grupo, encontra-se o C.F. Valência, que se tem afirmado nas últimas épocas como um dos mais sérios candidatos a lutar pelo título espanhol.

Após as malogradas negociações para a contratação de Simão Sabrosa, e também após alguma especulação em torno do possível interesse em Cristiano Ronaldo, o clube che virou-se para outros lados e conseguiu, sem dúvida, colmatar o insucesso desses fracassos negociais.

Existem três reforços que merecem nota de destaque: Morientes; Joaquín e Francesco Tavano. Não esquecendo ainda, Asier Del Horno e Edu.
Com a contratação de Joaquín, a juntar ao já “morador” no clube, Vicente, o clube consegue ter ao seu dispôr os dois melhores médios ala/extremos espanhóis, não esquecendo também, o irrequieto internacional uruguaio, Regueiro, que foi titular durante grande parte da época passada devido à lesão que afastou Vicente dos relvados e que o impossibilitou até de estar presente no mundial da Alemanha.

Fernando Morientes, após um período algo apagado em Inglaterra, é indiscutivelmente um dos melhores pontas de lança espanhóis, que também poderá formar com David Villa, uma das mais atraentes duplas de avançados a actuar em Espanha, e não só.

Um nome menos conhecido é o do avançado Francesco Tavano. O italiano, que há duas épocas atrás, jogava na série B italiana, foi uma das grandes revelações da última temporada no Cálcio, ao serviço do Empoli, tendo apontado 19 golos em 37 partidas jogadas. Já na penúltima época, na série B, apontara o mesmo número de golos em 42 jogos realizados.
As principais características de Tavano são a velocidade, mobilidade e grande sentido de finalização.

Refira-se que o clube manteve o "núcleo duro" da equipa. Quique sanchéz Flores continua a ser o treinador e no que respeita a saídas de vulto do plantel, destacam-se apenas os casos de Pablo Aimar (Real Zaragoza) e do avançado Mista (Atlético Madrid), quanto ao resto, destaque para a permanência dos internacionais Ayala e Marchena - pilares do eixo defensivo da equipa nos últimos anos - e Baraja e Albelda, no meio campo - uma das melhores duplas de pivots defensivos do campeonato espanhol.

Plantel do C.F. Valência - 2006/2007:


  • Guarda-Redes: Cañizares; Butelle ; Mora
  • Defesas: Miguel; Ayala; D. Navarro; Curro Torres; Marchena; Albiol; Moretti; Del Horno
  • Médios: Vicente; Joaquín; Regueiro; Hugo Viana; Albelda; Baraja; Jorge López; gavillan; Silva; Edu
  • Avançados: David Villa; Morientes; Angulo; Tavano

Thursday, August 31, 2006

O mito do "catenaccio"


O futebol italiano não se livra do rótulo de “defensivista”, que foi e continua obstinadamente a ser colado ao seu futebol..
Ultrapassando a questão de se saber se, actualmente, a dicotomia do futebol defensivo/futebol ofensivo faz sentido, é incontornável reflectir sobre os rótulos permanentemente aplicados (por muitos) ao futebol italiano.

Importa recordar que o País onde foi inventado o catenaccio, foi o mesmo país que deu a conhecer ao mundo do futebol, a chamada “zona mista”, que tal como o nome indica, consistia num método defensivo que mesclava marcações á zona e marcações ao homem. Contudo o advento ainda mais significativo foi a “zona pressionante” de Arrigo Sachi.

É certo que o “catenaccio” era um sistema de jogo, enquanto que a “zona pressionante” era um método de jogo (defensivo), contudo, daí não se pode concluir a maior importância do primeiro face ao segundo, aliás, se se subscrever aquela ideia de que mais do que o sistema de jogo, é a dinâmica do mesmo (dada pelo modelo de jogo) que é realmente importante, então, é que não se pode mesmo subvalorizar o advento da “zona pressionante”.

A incorporação do pressing na “defesa à zona” consistia numa forma agressiva de marcar o espaço e o portador da bola, com o claro objectivo de, não apenas impedir o desenvolvimento da acção ofensiva contrária, mas também de recuperar a bola de forma rápida para poder iniciar o ataque.

A “zona pressionante” de Arrigo Sachi, implementada no seu A.C. Milan da década de 80, para além de um método defensivo, constituía, também, uma forma organizada de atacar. Uma equipa tem que ter um método para defender e outro para atacar, e de preferência, ambos devem ser compatíveis de forma a potenciarem a eficiência do jogo da equipa no seu todo, isto é, nas fases defensiva e ofensiva e respectivas transições entre as mesmas, o que constitui actualmente um dos grandes princípios de jogo das equipas de top actuais. No entanto, e apesar de quase nada restar dele nos campos de futebol mundiais, o futebol italiano continua a ser olhado, injustamente, apenas à luz da invenção do catenaccio.

Frase do dia

"...Em França não há um F.C. Porto, um Sporting ou um Benfica, mas o futebol francês supera o português..."

Laszlo Boloni

Tuesday, August 29, 2006

Sporting: o losango dinâmico


Como já referi, e sendo uma questão pacífica para quem gosta destas reflexões em torno das questões tácticas, o sistema 4x4x2 com o meio campo disposto em losango, é um sistema que, comparativamente a outros, exige alguns preceitos específicos.
Defendem alguns especialistas que este sistema de jogo é algo desequilibrado, sobretudo quando comparado com outros sistemas. Esse desequilíbrio justifica-se por via de uma distribuição pouco racional dos jogadores no terreno de jogo (mais em profundidade que em largura).

É evidente que, tal como em outros sistemas de jogo, há que considerar a dinâmica do sistema que é dada, quer pelo modelo de jogo que o treinador preconiza, quer pelas características dos jogadores.

Ao nível da dinâmica de jogo, existem algumas ideias que podem minimizar esse desequilíbrio teórico, desde logo, a dinâmica dos médios interiores, tornando-se imperioso que joguem em permanente transição defensiva/ofensiva. A questão da largura é bastante importante neste sistema, que não contempla jogadores posicionados, de base, nas alas. A lateralização do jogo fica assim entregue à referida dinâmica dos médios interiores, às subidas dos defesas laterais e também à mobilidade dos avançados.
Em suma, poder-se-á afirmar que existem princípios de jogo quase obrigatórios para este sistema: muita mobilidade; permanentes acções de permuta posicional e muita circulação de bola.

O Sporting é um exemplo em Portugal, de uma equipa que utiliza este sistema com reconhecida eficiência.
Para já, encontra-se rotinada neste sistema, visto que iniciará a terceira época consecutiva com a utilização do mesmo, apesar dos diferentes treinadores que o têm vindo a trabalhar. Outro aspecto a assinalar é o facto de possuir um plantel “à medida” do sistema de jogo. Não existem médios ala ou extremos no plantel, com excepção do Camaronês Douala, existindo sim, bastantes médios centro. Para o vértice recuado do losango, existem duas opções “naturais”: Custódio e Carlos Paredes. Para os restantes vértices, existe um lote considerável de jogadores que aí poderão encaixar: Carlos Martins; João Moutinho; Nani; Romagnoli; João Alves; Farnerud sendo que qualquer um deles poderá ocupar qualquer um dos vértices. Acrescente-se ainda, Paredes e Tello, que também poderão jogar na posição de médios interiores.
Da observação dos jogos de pré-época e do jogo contra o Boavista, pôde constatar-se a evidência dos princípios de jogo supra-mencionados.

Wednesday, August 23, 2006

Luz aos pés do maestro



O S.L. Benfica conseguiu a passagem à fase de grupos da Liga dos Campeões, juntando-se assim a F.C. Porto e Sporting.

A classe de Rui Costa foi uma constante até à saída aos 66 minutos para uma justa e estrondosa ovação dos milhares de adeptos que, maravilhados por tudo o que fez em campo, não deixaram de lhe prestar.

Alinhando no habitual sistema táctico dos últimos anos (4x2x3x1) e com o mesmo “onze” que conseguira empatar há 15 dias em Viena, o Benfica teve sempre o controlo e o domínio do jogo, e claro está, a “batuta” de Rui Costa que deliciou os adeptos do clube e do futebol em geral. O maestro “empurrou” a equipa através de passes curtos e longos, “rasgos” individuais e a sua extraordinária visão de jogo. A bola sempre que saía dos seus pés quase sempre desembocava numa jogada de perigo para o adversário. Tudo isto culminado com um excelente remate à entrada da área que resultou no primeiro golo, acção que teve a importância directa de abrir o marcador no jogo de ontem, mas também, de ter constituído um momento revestido de enorme importância do ponto de vista simbólico.

Rui Costa empolga o público, mas também os companheiros e para além disso, o Benfica colmatou uma grande insuficiência patenteada durante os últimos anos ao nível do seu jogo: a transição defesa-ataque.

Em termos individuais, destaque também para Nuno Gomes, sempre activo, em permanente movimento e denotando um entendimento perfeito com Rui Costa.
Nas alas, Manú, um velocista que acelerou o jogo sempre que pôde e sempre que se impunha em jogadas de um-contra-um (e foram várias essas situações).

Paulo Jorge, bastante influente na movimentação sem bola, sempre muito móvel, criou muitas vezes linhas de passe, fundamentais na fase ofensiva do jogo da equipa. A disponibilidade que manifestou em recuar no terreno foi sempre, também, muito valiosa em termos defensivos.

No meio campo, para além da habitual entrega de Petit, katsouranis, que começou lentamente a assumir grande importância nas acções de recuperação da bola. Extraordinária a capacidade do grego, de adivinhar o espaço onde a bola vai parar, antes da mesma partir dos pés do adversário.

Em termos colectivos, deixo aqui as palavras de Fernando Santos que resumem bem o que penso e que vão ao encontro do que já foi referido em posts anteriores.


Pergunta: A equipa já se adaptou à táctica?

“…em termos de filosofia e modelo, estávamos claramente a chegar lá. Hoje conseguimos pegar mais à frente, pressionar mais alto…É isso que permite mandar no jogo…”

Convocatória de Scolari: dois destaques


Carlos Martins: Se conseguir ultrapassar os problemas físicos que o têm apoquentado nos últimos anos, pode fazer uma época à medida do seu talento.
Carlos Martins é um médio centro cujas principais características são a entrega ao jogo e a versatilidade. No Sporting, ocupa, normalmente, a posição de médio interior, quer à esquerda, quer à direita. Também pode ocupar o vértice ofensivo do losango leonino, apesar de raramente Paulo Bento o colocar nessa posição. Carlos Martins tem dotes de organizador de jogo: qualidade no passe, visão de jogo, os arranques e os remates de meia distância. Constitui boa alternativa a Maniche ou Deco.


Ricardo Rocha: Defesa central muito forte na marcação, também ele fazendo da polivalência um verdadeiro trunfo, sobretudo tendo em conta a importância que a mesma tem a nível de selecções. Ricardo Rocha também pode ocupar a posição de defesa lateral, tendo já desempenhado inúmeras vezes essa função no S.L. Benfica, uma das quais terá ficado na retina pela boa exibição e que até valeu um elogio do melhor jogador do mundo.

Monday, August 21, 2006

Início da Liga Inglesa: primeiras impressões

O Chelsea iniciou o campeonato com uma vitória (3-0 frente ao Manchester City).
Apesar de ter jogado num sistema diferente daquele que na maioria das vezes jogara nos dois últimos campeonatos, os princípios de jogo não se alteraram.

A equipa jogou com um sistema de 4x4x2 clássico: uma linha de quatro defesas, Bridge na esquerda, P.Ferreira, na direita, e no centro, R.Carvalho e J.Terry; no meio campo, uma linha de quatro homens: ao centro, Essien e Lampard, o primeiro como médio mais defensivo e o segundo mais como médio de transição; nas alas, Robben, na esquerda e Wright-Philips na direita; na frente a dupla Schevchenko/Drogba.

Em teoria, o sistema pode parecer algo desequilibrado em termos defensivos. Jogando com extremos puros, com pouca cultura defensiva, com Essien como único médio defensivo, sabendo-se que é um jogador com elevada propensão para subir no terreno, ao contrário do habitual ocupante desse espaço, Makelele, muito mais reservado no que respeita a subidas às áreas contrárias.














Posto isto, seria de esperar alguma dificuldade no que respeita às transições ataque-defesa. No entanto, não foi isso que se verificou. O Chelsea manteve os seus sólidos princípios de jogo: pressão alta; muita posse de bola; circulação rápida da mesma, quando ganha em zonas próximas da área adversária; utilização dos corredores laterais, por via da velocidade imposta pelos jogadores que daí partem.
Em termos de transição defensiva, a “zona pressionante” foi quase sempre eficaz, tendo-se visto sempre os jogadores em permanentes acções de cobertura, quer na fase defensiva, quer na fase ofensiva.
O único aspecto que, porventura, ainda terá que ser mais consolidado, será ao nível das movimentações da dupla atacante. Schevchenko, e sobretudo Drogba (apesar do belo golo que marcou) parecem não ter ainda ganho os devidos mecanismos para poderem formar aquilo que potencialmente são: uma das melhores duplas atacantes da Europa.


O Manchester United também entrou com o pé direito, vencendo o Fulham por expressivos 5-1.
Sistematizada também em 4x4x2, a equipa apresentou muita mobilidade na frente de ataque: Rooney e Saha, mais na zona central, com o primeiro mais móvel, partindo muitas vezes das alas, ou surgindo nas costas do Francês. Nas alas, também muita mobilidade, Giggs e Ronaldo permanentemente a trocarem de faixa, também flectiam para o centro muitas vezes. Movimentos ofensivos em largura e profundidade, sempre com o apoio dos laterais; Neville (depois, Wes Brown ) e Evra. Foi um vendaval de futebol ofensivo a que a equipa do Fulham não resistiu, até porque o resultado começou a construir-se bem cedo (4-0 aos 19 minutos).

Se Chelsea e M.United entraram com o pé direito, já o mesmo não se pode dizer dos outros dois candidatos ao título, Arsenal e Liverpool, empataram (1-1 foi o resultado nos dois jogos) com Aston Villa e Sheffield United, respectivamente.

Apesar do mau resultado (ainda por cima na estreia oficial do seu novo estádio), o Arsenal teve uma exibição muito atraente, como aliás, tem sido seu apanágio nos últimos anos.
Alinhando em 4x4x2 clássico, teve sempre o domínio do jogo, com um caudal de futebol ofensivo absolutamente esmagador. Passe curto, desenhando harmoniosas triangulações, quase sempre em 1 / 2 toques, a equipa ocupou o meio campo adversário quase durante toda a partida, mais em profundidade, e pela zona central, que em largura, fruto porventura de ter nas alas dois “falsos extremos”, Ljungberg e Hleb. O Arsenal acabaria por ver o adversário inaugurar o marcador, na sequência de um pontapé de canto. Se a equipa de Birmingham até então havia privilegiado o jogo defensivo, a partir daí, foi aquilo a que por cá costumamos chamar de “autocarro estacionado em frente à baliza”, pois é, não é apenas na liga portuguesa que existe o fenómeno…

Já o Liverpool, apesar de não ter jogado em sua casa – deslocou-se ao estádio do recém-promovido, Sheffield United – teve para além do resultado não positivo, uma exibição também pouco conseguida. Também, com um sistema de 4x4x2, o Liverpool teve claras insuficiências em termos de transição ofensiva.












Num meio campo onde apenas o médio defensivo Sissoko deu nas vistas, jogavam também Zenden e Gerrard, este último descaindo para o lado direito. Sabendo-se que, apesar de ser um extraordinário jogador, o “habitat” natural do capitão da equipa é ao centro e pelo facto de se estar a dividir entre o centro do terreno e a ala direita, a equipa, não apenas deixou de usufruir da capacidade de construção de Gerrard, como pareceu algo desequilibrada, encarrilando o seu jogo exterior mais pela ala esquerda, onde estava Mark Gonzalez (que entrara para substituir o lesionado Riise) que, apesar da velocidade que procurava imprimir, acabou por estar pouco inspirado nas suas acções.
Um Liverpool que revelou os pontos fracos já vistos anteriormente: dificuldade de jogar em ataque continuado/organizado, que normalmente é mais evidente quando tem que enfrentar equipas muito "fechadas"e a excessiva dependência de Steven Gerrard.