Sunday, May 25, 2008

Recomendações de leitura

O poderoso futebol inglês?

Chelsea e Manchester United representaram o futebol inglês em Moscovo. Mas esta frase pode ser desmentida palavra por palavra. Em primeiro lugar, há que esclarecer que metade dos clubes ingleses (36 em 72 das I à III divisões) se declararam insolventes nas últimas temporadas, pelo que a palavra «poderoso» só deve ser aplicada a alguns clubes privilegiados por uma política eficiente ou por desfrutarem de poderosos mecenatos. E quanto a saber se Chelsea e Manchester United representam o futebol inglês, também convém esclarecer alguns pormenores. O Chelsea pertence a Roman Abramovich, empresário russo enriquecido até à obscenidade, graças à escandalosa política de privatizações empreendida por Boris Yeltsin. Como Abramovic procurava a celebridade mediática e o Chelsea precisava de dinheiro, o feliz encontro de interesses perdura até ao momento. O Manchester, por seu lado, pertence a Malcolm Glazer, empresário norte-americano que sabe muito mais de negócios do que de futebol e que pagou o clube endividando o próprio clube. Fora dos relvados também há cracks! Também convém recordar que 331 jogadores das três divisões inglesas são estrangeiros. A Inglaterra oferece grandes cenários, tem um público entusiasta, um excepcional aparelho publicitário e organizativo e alguns jogadores que não são capazes de se qualificar para o Campeonato da Europa. As identidades fraccionadas que propõe a globalização permitem estas indagações. Mas o mundo está tranquilo: Joga-se em Inglaterra? Pois é, futebol inglês.


Jorge Valdano, Jornal A Bola, 24-01-2008

Friday, May 23, 2008

Manchester United: uma liga dos campeões à custa de uma inversão de estilo


A final da Liga dos Campeões acabou por não ser muito diferente dos duelos para a liga inglesa. Algumas nuances estratégicas, todavia, não suficientes para se considerar um jogo “fechado” como alguns tinham previsto.

Do lado do United, houve a colocação algo surpreendente de Hargreaves como ala direito. Com isso a equipa em termos de estrutura, alternava entre o 4-4-2 clássico e o 4-3-3. Mas essa opção reservava outro importante propósito: equilibrar a “luta do meio campo”. O resto era a habitual mobilidade dos três homens da frente, com destaque para o corredor esquerdo com as movimentações de Evra e Ronaldo.

Quanto ao Chelsea, o figurino e os intérpretes habituais, tendo alternado o seu jogo entre o futebol mais apoiado e o directo para Drogba (talvez o ponta de lança que melhor entende os desígnios dessa forma de jogar no actual futebol europeu). Na segunda parte houve um dado novo: anular a dupla Evra-Ronaldo, através do extraordinário desempenho defensivo de Joe Cole e da basculação de Ballack que também permitia a Essien participar, não raras vezes, na manobra ofensiva da equipa. A ideia acabou por ser bem sucedida o que acabou por condicionar o futebol da equipa de Ferguson e Queirós e contribuir para o domínio dos blues em quase toda a segunda metade do jogo.
Do jogo, pouco mais há a acrescentar, prolongamento e penalties já foram mais do domínio das emoções...

O que talvez mereça alguma nota de destaque é a alteração, mais do que táctica, filosófica, na forma de jogar dos red devils. Depois da lição táctica que levou de Ancelotti o ano passado, Ferguson lá entendeu que para poder erguer de novo a famosa “orelhuda” teria que ceder ao imprescindível pragmatismo, imagem de marca dos vencedores do futebol actual. Não tanto neste jogo, onde tudo se decidia, mas nas eliminatórias frente a AS Roma e Barcelona isso ficou por demais evidente.
Qualquer semelhança entre este Manchester United e o último que ergueu a mesma taça é mera coincidência.

Tuesday, May 20, 2008

Breves

Por cá, foi a festa da taça que acabou por premiar um Sporting que, tendo sido sempre a equipa mais esclarecida em campo, justificou plenamente a conquista do troféu.

Jesualdo continua a falhar do ponto de vista táctico e estratégico sempre que defronta equipas da sua igualha.

Paulo Bento, após uma época pobre ao nível da liga, acaba por obter, em termos gerais, resultados muito aceitáveis. É natural que os caluniadores de ontem, estejam agora a endereçar-lhe louvores…

No Benfica, a demora em resolver a questão do treinador só vem provar que Rui Costa apenas começou a desempenhar as suas novas funções após pendurar as chuteiras, ao contrário do que muitos também foram dizendo ao longo da época…

Lá fora, em Espanha, Schuster apesar de ter revalidado o título, não conseguiu justificar a "real" razão da sua contratação. O futebol do Real Madrid não foi, nem de perto nem de longe, o espectáculo que se pretendia e previa com o alemão ao leme…

No Barcelona fechou-se um ciclo. Para os adeptos do futebol ofensivo e criativo foi angustiante ver a forma como uma das maiores constelações de bons jogadores se foi arrastando pelos relvados espanhóis…

Mas a nota de maior destaque vai para Saragoça e Valência. O primeiro caiu na segunda divisão e nem jogadores como Aimar, D` Alessandro ou Diego Milito foram suficientes para evitar a derrocada, o que só vem provar que sem uma política desportiva sólida e racional não há equipa que aguente. O mesmo se passou no Valência, que também andou perto de fazer companhia aos aragoneses na despedida da primeira liga. Como contraponto, o Racing Santander sem nomes sonantes no plantel, alcançou um brilhante 6º lugar que lhe dá acesso à Taça Uefa.

Em Itália, o Inter tremeu no final, mas acabou por se sagrar campeão. Poderá também aqui estar a fechar-se o ciclo da conjuntura produzida pelo calciocaos. A revitalização desportiva da Vechia Signora e a renovação do AC Milan serão previsivelmente obstáculos complicados para os interistas durante a próxima época. A não ser que um tal de special one

Friday, May 16, 2008

Salvador Cabañas: um goleador que a Europa não descobriu




Nome: Salvador Cabañas Ortega
Data de nascimento: August 05, 1980
Local de nascimento: Asunción, Paraguay
Nacionalidade: Paraguaio
Altura: 173 cms
Peso: 77 kgs


Fonte: http://www.footballdatabase.com/


Salvador Cabañas é um desconhecido na Europa que tem passado a sua carreira no continente americano a fazer o que melhor sabe: marcar golos.

O melhor marcador da Copa Libertadores da época passada (10 golos), esta temporada já apontou 8 golos na mesma competição ao serviço do América (México). Ontem, o paraguaio marcou os dois golos com que a sua equipa derrotou o Santos na primeira-mão dos quartos de final da competição.

Já na última Copa América, ao serviço da selecção do Paraguai, saltou do banco para substituir o nosso conhecido Óscar Cardozo, e nos dois primeiros jogos marcou três golos.

Cabañas não tem grande estatura e parece um pouco pesado, no entanto não é um jogador lento, longe disso. O jogador apresenta boa mobilidade e uma velocidade de execução assinalável. Possuidor de forte remate, desmarca-se bem e acima de tudo possui um excelente sentido de oportunidade, algo que é naturalmente fundamental num ponta-de-lança. Também joga bem de cabeça. No jogo de ontem frente ao Santos, actuou sozinho e muito desapoiado na frente, tendo sido permanentemente solicitado através de passes longos, nessa medida jogou invariavelmente de costas para a baliza. Ao serviço da selecção joga normalmente com outro avançado o que lhe permite movimentar-se mais livremente não se dando tanto à marcação. Em qualquer um destes cenários, Cabañas apresenta-se sempre como um goleador temível.

Wednesday, May 14, 2008

Poll: Quem deve ser o próximo treinador do Benfica?



À questão “Quem deve ser o próximo treinador do Benfica?” responderam 57 visitantes deste espaço.

Como se observa, o treinador que recolhe o maior número de votos, é o italiano, actual campeão do mundo, Marcello Lippi (13 votos), seguido de perto pelo actual seleccionador nacional Luiz Felipe Scolari (10 votos). O terceiro treinador mais votado é o português Jorge Jesus com 7 votos.

Por outro lado, Ernesto Valverde, Alberto Zacheroni e Carlos Carvalhal são os técnicos menos votados. O actual técnico do RCD Espanyol, tem apenas um único voto, o que causa algum espanto, na medida em que o espanhol encaixa bem naquele perfil que muitos defendem ser o ideal: o de técnico jovem, ambicioso (!) e já com algum sucesso (recorde-se a campanha do Espanyol na Taça Uefa da época passada)...

A parca votação em Carvalhal também não deixa de constituir alguma surpresa, tendo em conta que é um dos actuais treinadores da moda no futebol português…

Ainda uma pequena nota para a elevada votação em Scolari. A óbvia urgência do clube em contratar um treinador que comece desde logo a trabalhar com Rui Costa na preparação da próxima época, não se compadece com uma demora de mês e meio, que é o tempo que falta até ao fim do campeonato da Europa. O mesmo raciocínio se aplica a Gus Hiddink, actual seleccionador da Rússia.



Monday, May 12, 2008

Obrigado Rui


Nunca houve um texto que me custasse tanto escrever como este. Sinto não existir léxico que chegue para escrever sobre o grande acontecimento que ocorreu no dia 11 de Maio de 2008 no estádio da Luz.

Antes de mais, importa referir que tudo o que possa escrever é frívolo face à dimensão do jogador, do cidadão e do homem que dá pelo nome de Rui Manuel César Costa.

Para além de ser um dos futebolistas mais geniais de sempre, Rui Costa é a prova viva das maiores virtudes que o futebol encerra: a memória, a emoção e os sonhos, as três maravilhas humanas que Jorge Valdano refere e que se encontram no cabeçalho deste blog. As emoções que provocou com a excelência dos seus gestos técnicos em campo, mas também com os seus gestos humanos dentro e fora dele, ficarão para sempre guardadas na memória de todos os adeptos do futebol. A mesma memória que os adeptos do Benfica nunca fizeram questão de apagar durante doze anos de ausência em que foram alimentando o sonho do seu regresso. Enquanto se eternizou em Florença e Milão, Rui Costa também sempre sonhou com o dia em que voltaria a vestir a camisola do clube do seu coração, tal como um dia sonhara, enquanto jogava à bola nas ruas da Damaia, vir a ser jogador de futebol.

Rui Costa foi o maior exemplo da comunhão perfeita entre o campo e as bancadas. Fossem as da Luz, do Artemio Franchi ou de San Siro.
No dia 11 de Maio, Rui Costa concretizou o seu último sonho nos relvados, despedir-se deles no meio da sua gente. Quando no minuto 85 se anunciou a sua substituição, o jogo que decorria dentro das quatro linhas deixou de ter importância. Mais de 50 mil aplaudiram de pé e gritaram pelo seu nome. Também o futebol quis celebrar o momento, ainda se comemorou fugazmente um golo, mas de imediato as atenções se viraram para o momento da noite, o único que permanecerá indelével na memória de todos os que estiveram presentes.

Friday, May 09, 2008

Buonanotte (também de Bergessio)


Na noite em que Gonzalo Bergessio – sim, esse mesmo que Camacho decidiu dispensar do Benfica – atirou com o River Plate para fora da Libertadores, detive-me a observar um jogador que no meio de um jogo, com mais picardia do que futebol, decidiu mostrar o seu inegável talento. Diego Buonanotte é mais um produto da fértil cantera do clube de Buenos Aires, tendo-se estreado pela equipa principal com apenas 17 anos.
Ontem jogou nas costas dos dois avançados, Garcia e Abreu, e sempre que o deixaram (leia-se, quando não era travado em falta) procurou desequilibrar a defesa adversária. Buonanotte possui capacidade técnica notável, que se expressa em acelerações com a bola colada ao seu pé esquerdo, o mesmo pé que invariavelmente também executa bons passes e remates colocados, existindo semelhanças com Andrés D'Alessandro, seu adversário na noite de ontem.

O jovem jogador argentino, agora com 20 anos, integra a lista, elaborada pela revista World Soccer, dos 50 jovens mais promissores do futebol mundial, da qual também fazem parte os nossos conhecidos Angel Dí Maria, Fábio Coentrão e Rabul Ibrahim.

Para finalizar fica o vídeo da noite em que o grande protagonista até nem foi Buonanotte, mas antes um nosso (pouco) conhecido.



Tuesday, May 06, 2008

Patriotismo bacoco

Que na condição de portugueses, nos sintamos muito orgulhosos dos feitos de José Mourinho e Cristiano Ronaldo, é normal e compreensível. Esse orgulho e satisfação também pode encher os egos de quem ganha a vida a falar e escrever sobre futebol? Pode. O que não deve é levar essas pessoas a tecer considerações pouco sérias que facilmente descambam no facciosismo.

Desde que o Chelsea apanhou o Manchester United no topo da liga inglesa e sobretudo, desde que atingiu a final da Liga dos Campeões, não temos assistido a outra coisa que não sejam vozes ou letras a atribuírem o feito ao trabalho anterior levado a cabo por José Mourinho. Nunca ao longo da época tal se ouviu ou leu, pois aí os vaticínios iam todos no sentido da queda do clube no maior desastre desportivo possível. Porque não reconhecer o óbvio? Que Para além dos frutos do trabalho desenvolvido pelo técnico português, também existe um plantel com jogadores de grande qualidade e que Avram Grant também terá dado algum contributo para o que se está a passar, ou querem-nos fazer crer que o israelita é apenas um espectador privilegiado com assento no banco de suplentes de Stamford Bridge?

Outro exemplo de excessivo zelo patriótico é a exaltação de Cristiano Ronaldo e do seu Manchester United que é também de Carlos Queirós. Não tenho memória de ter existido alguém que salientasse a parca prestação do craque português no duplo duelo com o Barcelona. O que se ouviu durante as transmissões dos dois jogos, como uma espécie de justificação embaraçada para o fraco rendimento do jogador, foi o enaltecimento das suas qualidades de jogador de equipa, o que constituía, na opinião do comentador, mais um ponto a favor do português na comparação com Messi…

O Manchester United que abordou a eliminatória com uma autêntica táctica do ferrolho foi amplamente glorificado pela generalidade dos comentadores. Equipa madura e tacticamente inteligente, disseram. Concordo, o problema é que se fosse uma equipa italiana, a jogar da forma que a equipa de Ferguson e Queirós jogou, abundavam os chavões do futebol cínico e afins…

É caso para pensar que se fôssemos tão patrióticos noutras áreas de actividade como somos no futebol, decerto estaríamos a contribuir para um país melhor…

Saturday, May 03, 2008

Reflexão

"Se Avram Grant sai campeão da Europa parecer-nos-à elegante, sábio e até lhe atribuiremos um estilo. Eu gosto mais assim: um Don Ninguém que chegou para desmistificar a gigantesca figura do treinador e ajudar-nos a recordar que o jogo pertence aos jogadores."

Jorge Valdano, A Bola, 3/5/2008

Friday, May 02, 2008

FC Zenit S. Petersburgo: vendaval russo a assolar a Europa do futebol


De um lado Ribery, Luca Toni, Miroslav Klose, Khan e muitos outros nomes de alto gabarito, do outro, um conjunto de nomes complicados de pronunciar e maioritariamente desconhecidos do comum adepto. De um lado o histórico e poderoso Bayern Munique, do outro, um clube que até nem é dos mais glorificados da Rússia.

Só estará espantado quem ainda não tinha visto jogar esta equipa do Zenit S. Petersburgo que ontem venceu com estrondo aquela que era apontada como a grande favorita para vencer a competição. É que para trás, os russos já tinham eliminado equipas como Marselha, Villarreal e o Bayer Leverkusen, estes últimos vencidos de forma categórica no seu estádio.

Os nomes mais sonantes do Zenit, serão provavelmente o do seu treinador, o experiente holandês Dick Advocaat, Andrei Arshavin, um médio ofensivo russo internacional pelo seu país (excelente jogador) e Tymoschuk, também internacional pela Ucrânia. Pavel Pogrebnyak é outro nome que já começa a dar que falar devido à quantidade de golos que já marcou na competição - onze no total - tornando-se o melhor marcador da prova até ao momento, sendo que ontem facturou os dois golos que lhe permitiram atingir essa posição, ultrapassando, precisamente um seu adversário da equipa bávara, Luca Toni. Certo é que o jogador russo dificilmente deixará de ser o melhor marcador desta edição da Taça Uefa, não obstante não poder disputar a final devido a castigo. É que, quem está atrás de Pogrebnyak na lista, já não se encontra em competição.

Pavel Pogrebnyak, Arshavin, e outros elementos da equipa são excelentes jogadores, contudo, a grande virtude da equipa russa reside no colectivo (Arshavin nem jogou ontem). O futebol do Zenit parte de uma boa organização defensiva, sustentando o seu processo ofensivo em função das circunstâncias do jogo e do posicionamento do adversário, isto é, seja em contra-ataque e/ou ataque rápido ou em ataque posicional, a equipa facilmente consegue criar desequilíbrios nas estruturas defensivas dos adversários. Futebol fluído, processos simples e velocidade são em traços gerais os grandes condimentos da equipa russa. Veremos o que farão perante o ferrolho escocês do Rangers FC, na grande final de Manchester.

Depois do CSKA em 2004/2005, uma outra lufada de ar fresco oferecida por uma equipa russa num futebol europeu moldado para as grandes potências das ligas mais opulentas.