Quando se fala sobre selecções nacionais, há um aspecto que de imediato urge destacar: a escassez de avançados centro/pontas de lança. Este aspecto ainda ganhou maior realce, desde que Pedro Pauleta decidiu abandonar a selecção nacional, logo após o último mundial.
Após o anúncio de Pauleta, o assunto foi de imediato dissecado nas páginas dos jornais desportivos, faltou contudo, uma verdadeira análise, centrada nas possíveis causas do problema e nas eventuais soluções para o mesmo. A única explicação do fenómeno e a solução do mesmo parece ter formado uma excelente relação de causa e efeito, ou seja, a escassez explica-se pela imigração de jogadores (sobretudo brasileiros) e a solução mais referida, que valeu dias e dias de escrita e conversa, foi a mais simples (e polémica): a naturalização do brasileiro Liedson.
A falta de pontas de lança estará, porventura, relacionada com um sistema e modelo de jogo que é trabalhado a nível de selecções nacionais, desde os escalões mais jovens.
Nesse sentido, o 4x3x3 parece ser o sistema de referência, não apenas ao nível de selecções, mas também no que respeita à maioria das equipas portuguesas dos escalões profissionais. Como se sabe, o sistema privilegia o jogo pelos flancos, e como tal a utilização de médios ala/extremos. Esta situação contribui para que exista um maior número de jogadores com características para jogar nas alas, e em contraponto, um número mais reduzido de jogadores para actuar no lugar do ponta de lança. Acresce a isto, que potenciais jogadores para ocupar esse lugar, acabam por ser desviados para os corredores laterais.
Ainda ontem, ao observarmos a selecção de sub-21, pudemos constatar que dos três jogadores que compunham a linha avançada, nenhum jogou de forma posicional nesse lugar. Vaz Tê era o jogador que no papel ocupava a zona central, efectuando bastantes permutas posicionais com Varela. O caso do jogador do Vitória de Setúbal também é interessante. Varela, quando foi lançado na equipa principal do Sporting, ocupava a posição de ponta de lança, e de facto, o jogador possui algumas características típicas para ocupar esse lugar, no entanto, quer no Vitória de Setúbal, quer agora na selecção, o jogador tem sido destacado para actuar nos corredores laterais. O mesmo tem acontecido com Lourenço, e mais recentemente com Yanick Djaló.
Esta será uma das causas do tão evidente défice de pontas de lança no nosso país.
O trabalho táctico-técnico - ao nível dos escalões de formação da Federação Portuguesa de Futebol - de outro sistema de jogo (4x4x2, por exemplo) seria uma das possíveis soluções, o que não implicaria necessariamente a perda do 4x3x3, como sistema de referência. Não esquecendo também, naturalmente, o trabalho específico com os jogadores, independentemente do sistema e modelo de jogo.
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