Monday, December 21, 2009

A queda de alguns mitos

O futebol português é pródigo em mitos. Alguns resumem-se a apenas duas palavras, como por exemplo, Carlos Queiroz. Outros há que são sustentados por teses mais complexas ou até mesmo ininteligíveis.

O jogo de ontem ajudou a derrubar o patético mito da força mental que emana não se sabe muito bem de onde e que invade todo e qualquer elemento que ao F.C. Porto esteja directa ou indirectamente ligado.

Afinal o que é essa treta da força mental? Resultará de alguma substância que, à imagem de uma boa obra de ficção cientifica, é administrada aos funcionários, e portanto, também aos jogadores? Não, nada disso. É apenas mais uma enorme baboseira que muitos analistas e comentadores (alguns com o estatuto de profisisonal) do nosso futebol vão alarvemente expelindo vezes sem conta, tal como foi ocorrendo ao longo desta semana que antecedeu o jogo.

Outro mito que ontem foi derrubado é um mito menor, no entanto não deixa de ser relevante fazer-lhe referência. O processo ofensivo do S.L. Benfica não está absolutamente dependente da brilhante capacidade - e conhecimento que ambos têm um do outro - de Javier Saviola e Pablo Aimar. É óbvio que estes dois juntos, só podem melhorar esse e outros processos em qualquer equipa do mundo, contudo, este Benfica, independentemente do brilhantismo destes dois e de outros, vale essencialmente pelo enquadramento táctico que o seu treinador tem trabalhado desde o primeiro dia da época.

Sunday, December 13, 2009

Descubra as diferenças


Têm a mesma profissão e encontram-se ambos munidos das mais conceituadas qualificações.
Um e outro ainda não confirmaram o potencial que muitos lhes reconheceram – e alguns continuam teimosamente e incompreensivelmente a reconhecer – para além de que coleccionam mais insucessos que sucessos ao longo das respectivas carreiras.

Um e outro ao chegarem ao seu actual posto de trabalho preocuparam-se mais consigo próprios do que com a real situação da entidade que os empregou. Quiseram marcar a diferença, obliterando e até enxovalhando o trabalho dos antecessores. Encetaram uma revolução que era de todo desaconselhável pois até o mais imberbe dos observadores sabe que a mesma, nos respectivos contextos, seria apenas contraproducente.

Um e outro não tiveram capacidade para perceber que a única coisa inteligente a ter sido feita era precisamente o contrário do que fizeram, ou seja, terem aproveitado qualquer coisa do que estava realizado – ainda que essa coisa fosse totalmente contrária às suas ideias, pelo menos era algo de consolidado – e terem construído aí o princípio de algo que, com o tempo, fosse, então sim, evoluindo no sentido das suas concepções para as respectivas entidades patronais. Mas não, a ânsia de afirmação tolheu-lhes a racionalidade e os resultados estão à vista.

A única, e se calhar grande diferença, é que um tem como colaboradores meia dúzia de executantes que estão entre os melhores da profissão, e também contou com alguma ajuda de terceiros para alcançar os seus intentos (ai se a Suécia ganha à Dinamarca…), já o outro não se pode gabar do mesmo…

Agora fazem todo o sentido as palavras de José Eduardo Bettencourt acerca das saudades que Paulo Bento acabaria por suscitar em algumas pessoas.

Monday, December 07, 2009

Flamengo campeão brasileiro

No Rio de Janeiro, e um pouco por todo o Brasil e resto do Mundo, onde quer que haja um brasileiro adepto das cores rubro-negras, iniciar-se-á um Carnaval bem antecipado. O Flamengo sagrou-se campeão brasileiro, 17 anos depois da última conquista, pondo assim fim à hegemonia que o São Paulo F.C. tem exibido nos últimos anos.

A equipa da Gávea foi guiada no banco por Andrade – uma velha glória do “mengão” que fez parte de uma das melhores equipas da história do clube, com Zico, Adílio, entre outros. Andrade pegou na equipa à 14ª jornada, ocupava esta a 7ª posição da tabela e de imediato se socorreu da experiência de alguns jogadores do plantel para iniciar este percurso glorioso que terminou ontem. O novo treinador também alterou aos poucos a maneira de jogar da equipa, desde logo, substituindo a habitual defesa a três que o seu antecessor utilizava, por uma linha de quatro defesas, estruturando a equipa em 4x4x2 ou 4x5x1.

Para além de estarem atrasados em relação às equipas que andaram o campeonato todo nos primeiros lugares, os rubro-negros viram-se privados de um dos seus mais influentes jogadores aquando da abertura da janela de transferências – Ibson partiu para o campeonato russo e deixou a equipa algo órfã de criatividade – o que adensou as dificuldades em termos de construção de jogo. E não foi apenas essa a única perda do clube. O avançado Obina partiu para o Palmeiras, Emerson para os Emirados Árabes Unidos, Josiel para o México...
Perante este quadro, o astuto Andrade deu a batuta do meio campo ao experiente Petkovic (37 anos), e claro, continuou a confiar na capacidade goleadora de Adriano. Não foi assim muito difícil para o Sérvio, em conjunto, com o "imperador" Adriano, tornarem-se os dois grandes símbolos da equipa, jornada após jornada.
Apesar disso, também outros jogadores merecem destaque nesta conquista. O defesa/ala Léo Moura, o também experiente Maldonado, o "meia" Zé Roberto e o guarda-redes Bruno, foram também figuras emblemáticas da equipa do Rio.

Ontem, com 85.000 nas bancadas do Maracanã, o Flamengo teve que sofrer, pois foi necessário dar a volta a um resultado desfavorável. O Grémio contribuía para que o seu arqui-rival Inter pudesse ser o campeão, no entanto, mais uma vez, foi a experiência a resolver a contenda. O sérvio Petkovic – que até estava para ser substituído nesse momento – bateu o pontapé de canto que materializaria o golo do título, marcado por um outro veterano do plantel. Ronaldo Angelim cabeceou a bola para o fundo das redes gremistas, dando assim o tão desejado título de campeão brasileiro ao maior clube do país.

Wednesday, December 02, 2009

Patetice sem limites

Assim se consegue manietar a mente de alguns espectadores atentos, mas pouco esclarecidos, do fenómeno futebol.
Para além disto ser uma cópia – portanto nem na patetice são originais –, é algo de um mau gosto inenarrável.
O que eu sugeria era um prémio do verborreico do ano para atribuir ao jornalista que tem as ideias mais patéticas e infelizes. O problema é que a lista de nomeados nunca mais acabava.

Wednesday, November 25, 2009

Nota

Já se encontra disponível o texto desta semana no Academia de Talentos.

Thursday, November 19, 2009

Leituras


Parabéns, Scolari

Estive a pensar melhor e tenho que admitir que, ao contrário do que venho escrevendo nesta coluna há um ano, Carlos Queiroz e os seus correligionários provavelmente tinham razão quando falavam na "herança de Scolari" como uma das principais condicionantes do rendimento da Seleção Nacional. E é baseado neste pressuposto que gostaria de felicitar publicamente o treinador brasileiro pela qualificação de Portugal para o Mundial'2010. Penso até que, estranhamente, sou o primeiro a fazê-lo, apesar de este ser um raciocínio lógico. A não ser que se defenda que quando se perde a culpa é dos outros, e que quando se ganha o mérito é nosso.

Dito isto, a boa notícia é que nem o prof. Carlos Queiroz conseguiu evitar que uma Seleção composta por inúmeros jogadores de classe mundial se qualificasse para a África do Sul - esta é, sem dúvida, a maior prova de sempre da maturidade do futebol português. Noutros tempos, as substituições duvidosas, as convocatórias excêntricas e as declarações falhadas do atual selecionador nacional custava-nos as qualificações. Agora, não. Atrasam-nos um bocadinho a qualificação, é certo. Mas, no cômputo geral, esta é uma Seleção à prova de Queiroz. E este é um dos maiores elogios que se pode fazer à equipa nacional.

Ultrapassada a qualificação, permanece o problema do relacionamento da Seleção com os portugueses. Ainda no Portugal-Bósnia da semana passada, ficou patente a descrença do público da Luz nas possibilidades da Seleção em se conseguir qualificar: Numa conferência de imprensa, Carlos Queiroz tinha dito que já cheirava a África do Sul; em resposta a estas declarações, os milhares de espectadores contrapuseram com "cheira a Lisboa", a cidade a partir da qual o selecionador devia assistir aos jogos do Mundial.



MIGUEL GÓIS , Record, 19 de Novembro de 2009

Wednesday, November 18, 2009

O refugo em Alvalade

A contratação envergonhada de Carlos Carvalhal faz luz sobre as afirmações de Bettencourt aquando da conferência de imprensa referente à demissão de Paulo Bento, onde deu a entender que os sportinguistas ainda iriam sentir saudades do treinador demissionário.
Carvalhal ganha assim o estatuto de “refugo”, o que até nem é descabido para um treinador que, desde que abandonou um dos poucos trabalhos assinaláveis (só teve dois), conta com duas ou três vitórias.

Claro que há quem se apresse em louvar o mérito da escolha. Carvalhal é o moderno da periodização táctica. Sinceramente a única periodização que se lhe viu recentemente foi a periodização (longa) com que os seus pupilos ficavam deitados na relva do estádio da Luz, durante aquilo que foi um dos maiores hinos ao antijogo que se viu no futebol luso.

Bom, mas pelo menos agora os doutos que criticavam o Paulo Bento pelo facto de este apenas conhecer o sistema do losango, agora vão passar a ter um treinador que apenas conhece o 4x3x3. Ironias à parte, essa foi das mais estapafúrdias críticas que foi feita a Paulo Bento.

Mas, voltando a Carvalhal, é verdadeiramente impressionante a forma como certos treinadores, depois de revelarem um rol interminável de falhanços e incompetências, continuam a ter uma imprensa e uma crítica, de uma maneira geral, tão favorável e simpática. Em sentido contrário há outros que ao mínimo deslize vão parar à “fogueira” sem grandes demoras…

Tuesday, November 17, 2009

Nota

No âmbito de uma colaboração com o jornal Online Academia de Talentos, irei escrever uma coluna semanal dedicada ao trabalho de José Mourinho no Inter de Milão e de André Villas-Boas na Académica.

Aqui fica o link do primeiro texto.

Saturday, November 14, 2009

Senhora do Caravagio

Oração à Nossa Senhora do Caravagio - (26 de maio)
Lembrai-vos, ó puríssima Virgem Maria, que jamais se tem ouvido que deixásseis de socorrer e consolar a quem vos invocou e visitou no vosso Santuário, implorando a vossa proteção e assistência.
Assim, pois, animado com igual confiança, como a mãe amantíssima, ó Virgem das virgens, a vós recorro, de vós me valho, gemendo sob o peso de meus pecados humildemente me prostro a vossos pés.
Não rejeiteis as minhas súplicas, ó Virgem do Caravaggio, mas dignai-vos de as ouvir propícia e de me alcançar a graça que vos peço.

Amém


Retirado de um sítio qualquer por aí

Tuesday, November 10, 2009

Friday, November 06, 2009

Chico-espertismo

Houve tempos, no futebol cá do burgo, em que se cozinhavam as maiores patifarias à vista desarmada. Foram os tempos do guarda Abel, dos Calheiros, dos “quinhentinhos”, da agência Cosmos, do leite e do chocolate, dos bombons e das visitas para aconselhamento de problemas familiares…
Fez-se tudo e à grande, sob o olhar mais complacente que se possa imaginar por parte das pseudo-autoridades desta antro de “faces ocultas” a que chamam Portugal. No entanto chegou a altura em que a dimensão da pirataria se tornou gigantesca. A coisa já era de tal ordem que dava um bocado de mau aspecto, então lá foi realizada uma longa-metragem jurídica, daquelas a que se assiste regularmente neste país e que no final resultam sempre em nada…no entanto, se alguma coisa mudou, não foi tanto o conteúdo, mas sim a forma. Agora há uns serviçais que se colocam a jeito – a troco de umas quantas migalhas – para realizar essas famosas malfeitorias. Esses mesmos serviçais que se arvoram nos emergentes poderes do futebol lusitano e que, muito provavelmente, acabarão como outros seus homólogos de um passado recente. É o chamado, e tão característico entre nós, chico-espertismo. Umas das mais emblemáticas idiossincrasias do nosso Portugal.

Tuesday, October 27, 2009

Pornográfico

É o único adjectivo que me ocorre. Todos os outros que me vêm à cabeça estão mais que vistos. Ver as tabelinhas entre Aimar e Saviola, os piques de Di Maria, a exuberância de Jorge Jesus na área técnica e no final olhar para o placard e ver o resultado, é algo que de facto não pode ser aconselhável a pessoas nervosas e facilmente impressionáveis.
Os sintomas de algumas dessas mentes já se vão observando. Há quem estrebuche, quem se contorça, quem destile e vomite palavras que têm mais de comicidade do que desonestidade, o que torna tudo ainda mais saboroso para aqueles que vibram com os sucessivos espectáculos proporcionados pela equipa do Benfica. No entanto, a caravana lá vai passando e levando tudo à frente, arrastando todo um país atrás de si. E ainda faz filantropia, já que vai dando de comer aos mais necessitados, mesmo que estes por vezes sejam – como diz o povo – pobres e mal agradecidos. E a referência ao povo, quando se fala do Benfica, fica sempre bem...

Friday, October 23, 2009

Barrigada de golos (e de riso)

Mais impressionante que o futebol do Benfica, só mesmo a excentricidade daqueles escribas que, com uma manipulação argumentativa a roçar o surrealismo, tentam desvalorizar o axiomático brilhantismo de Jorge Jesus, Aimar, Saviola, Dí Maria e companhia, mesmo que esse estéril desígnio já só encontre paralelo nos castelos voadores que assombravam Dom Quixote.

Ultrapassada que está a fronteira que separa a tendência clubística do ridículo, já vale tudo.
Uma coisa é certa, para muitos desses ressentidos, o Benfica vai estar a fazer “o verdadeiro teste” jornada após jornada, enquanto que outros andarão a exibir o seu “estofo”, ainda que às custas de vitórias suadas frente a adversários de países onde o futebol é profissional há meia dúzia de anos…

Naturalmente que para os benfiquistas isto não passa de apenas mais uma (pequenina) componente do enorme espectáculo que tem sido o futebol benfiquista. Efeitos colaterais.

Sunday, October 18, 2009

Epílogo risível de uma (des)qualificação

De repente, após estrondosas vitórias frente às fortíssimas selecções da Hungria e Malta, e a uma conjugação de factores relacionados com terceiros (muita sorte teve a Dinamarca no jogo com a Suécia), eis que surgem umas trombetas anunciadoras da revelação apocalíptica: afinal “Queiroz é o homem”! A noção do ridículo não tem limites em muito cantinho desta nossa risível imprensa desportiva.
E o mais caricato é que para não falhar o seu terceiro apuramento para uma fase final, o professor ainda terá que ultrapassar o adversário do Play-off. E atenção, que talvez com excepção da Eslovénia, as outras três hipóteses são todas de um nível muitíssimo superior ao das últimas equipas que Portugal defrontou.

Monday, September 28, 2009

Dúvida

Lista dos jogadores com mais faltas sofridas*

Pablo Aimar (Benfica), 24
Bruno Gama (Rio Ave), 23
Alan (Sp. Braga), 20
Kanu (Marítimo), 19
Yontcha (Belenenses), 19
Rabiola (Olhanense), 19
Fucile (F.C. Porto), 17
Di María (Benfica), 17


Fonte: maisfutebol.iol.pt

Onde está o Hulk nesta lista?

Breve nota

O Benfica continua a encantar. Os jogadores têm sido uma das óbvias causas deste brilhantismo, contudo, o grande (enorme) obreiro deste encanto é, indubitavelmente, Jorge Jesus. As maiores adversidades que este Benfica vai encontrar durante a época, é certo e sabido, que serão cópias deste débil Leixões que visitou a Luz na última jornada – antijogo e muita boçalidade (qual agressividade qual quê). Jorge Jesus revela estar perfeitamente consciente disso…
Para os estruturalistas (também me incluo no grupo, embora num sub-grupo mais moderado), apetece perguntar: onde anda Luís Filipe Vieira? É que ninguém se lembra. Faz lembrar os bons velhos tempos do clube encarnado em que o Presidente só aparecia para os protocolos. A verdade é que um treinador competente faz muita, mesmo muita diferença.

Por falar em treinadores competentes, parece que a periodização táctica não resultou muito bem lá na ilha da Madeira. É normal, depois de Braga, Restelo e outras paragens, junta-se mais um desastre na carreira do treinador a quem se aplica um famoso adágio: muita parra, pouca uva…

Sobre o clássico, tendo em conta o antes, o durante e o depois, nem apetece dizer muita coisa… o que vale é que a seguir a ele houve um Benfica - Leixões que fez - por via do brilhantismo dos anfitriões - esquecê-lo muito rapidamente.

Monday, September 14, 2009

Ignorância ou incompetência?

Ao cuidado de alguns jornalistas da Sportv e de Bernardo Ribeiro do jornal Record.


LEI 11 - FORA-DE-JOGO

(...) Um jogador encontra-se em posição fora-de-jogo se estiver mais perto da linha de baliza adversária do que a bola e o penúltimo adversário (...)


E são estes indivíduos que ganham a vida a falar e a escrever sobre futebol...

Monday, September 07, 2009

Tragicomédia

É difícil entender o espanto de alguns relativamente ao trajecto da selecção nacional nos últimos tempos. O jogo na Dinamarca foi apenas mais um acto da enorme tragicomédia que tem sido exibida ao mundo inteiro. Não se entende, sobretudo tendo em conta os sucessos que o "realizador" da obra tem ostentado ao longo da sua carreira. Será que alguém que ande minimamente atento ao fenómeno futebolístico acreditaria num espectáculo diferente deste? Não creio. Mas mais hilariante que o próprio espectáculo é o que se passa nos bastidores, com um conjunto de cómicos a conseguirem - sem se rirem! - argumentar que a culpa é de quem antecedeu o ex-adjunto de Ferguson, daquele que até foi campeão do mundo...

Monday, August 24, 2009

Curtas da jornada

1) Os adeptos de futebol saúdam o regresso de Hugo Viana ao futebol português (merecia outra camisola vestida...).

2) Ontem em Guimarães, um proscrito por um treinador fabricado pela imprensa tratou de mostrar a sua real valia, para quem ainda duvidava...Nuno Assis encheu o campo em Guimarães. Normal.

3) Nelo Vingada, por mais que tente, não consegue deixar de ser um manifesto representante dos mais velhos e piores hábitos do futebol luso. No final do jogo falou em desigualdade de critérios (?) e outras baboseiras, claro que não explicou, não podia explicar o inexplicável. Mas podia ter ficado calado. Pelo menos.

4) Mas já agora, falando em critérios, e desta vez com razão de ser, o FC Porto lá "desembrulhou" um jogo "complicadinho", graças a uma grande penalidade cuja avaliação não foi a mesma que se realizou noutros relvados e até noutras jornadas...

5) Em França o Bordeaux começou o campeonato da mesma forma com que tinha terminado o anterior: brilhante. E, claro, com um grande destaque que não deixa de ser um tremendo mistério. Gourcuff não teria lugar naquele depauperado meio-campo do AC Milan?

6) Por falar em Milão, acreditar que o outro clube da cidade, o Inter, poderá lutar pela conquista da Liga dos Campeões com aquele lote de médios, e sem Ibrahimovic, é das maiores anedotas deste início de temporada.

Monday, August 17, 2009

O embuste

Há muito que o digo. Este eternamente anunciado novo Mourinho não passa de um enorme embuste. Se alguém ainda tem dúvidas que reveja o jogo de ontem na Luz.
Diz o embuste que a sua equipa anulou o Benfica e que apesar de obrigada a jogar no seu meio campo nunca retirou os olhos da baliza adversária…

Na verdade o que se passou foi a anulação do futebol, já quanto aos olhos na baliza adversária, acredito que de facto tal tenha acontecido, mas apenas durante as inúmeras paragens que o jogo teve para que os jogadores do marítimo fossem assistidos.

São artimanhas como esta que o embuste colocou em prática ontem que amesquinham o nosso futebol e que contribuem para o êxodo de espectadores das bancadas dos nossos estádios.

Monday, August 10, 2009

Danos laterais


A pré-época do Benfica tem sido de sonho. Há muitos anos que não se viam as camisolas encarnadas serem protagonistas de um futebol tão agradável (talvez apenas com Fernando Santos a espaços).

Da época passada para esta a diferença é monstruosa. Apesar desta dissemelhança não ter sido muito difícil de prever, em função das qualidades que Jesus tem vindo a anunciar desde há muito, mas também devido às evidências mais do que provadas do embuste em que consiste Quique Flores.

Ainda assim, e porque a perfeição em futebol será sempre algo de intangível, existem uns “danos laterais” por resolver. Jorge Jesus gosta de ter laterais que, acima de tudo, sejam competentes do ponto de vista defensivo. Relativamente às acções ofensivas destes jogadores, Jesus não lhes dá a mesma importância. Apesar do losango, a largura é assegurada logo na primeira fase de construção pelos médios interiores e pela mobilidade de pelo menos uns dos dois avançados, portanto, laterais sobretudo têm que interpretar bem as acções defensivas individuais e colectivas. Evaldo (no Sp. Braga) e Rodrigo Alvim (Belenenses) são o paradigma de defesa lateral “preferido” de Jorge Jesus. Ora, Schaffer e Patric estão muito longe desse modelo, desde logo porque vêem de um futebol com um padrão táctico totalmente diferente do europeu, e como tal, terá que haver um necessário tempo de adaptação. No entanto, os dois laterais encerram em si algumas diferenças do ponto de vista técnico-táctico, diferenças essas que têm sido validadas nas primeiras opções do treinador. No caderno de encargos de Jorge Jesus, Patric está claramente uns furos abaixo do seu companheiro.

Sobre Schaffer, antes de mais gostaria de fazer aqui referência a uma opinião muito bem fundamentada, a qual subscrevo por inteiro.

Na lateral esquerda, o problema estará aparentemente resolvido com a contratação de César Peixoto – jogador da confiança de Jesus e que já está habituado às suas exigências. Se o internacional português não se afirmar na equipa, o risco de se ver repetido um dos grandes erros de casting da fase Quique é bem real: a utilização de David Luiz no lado esquerdo da linha defensiva…

Quanto a Patric, o caso é mais complicado. Para já porque o jogador já foi unanimemente eleito por imprensa, adeptos, blogosfera, e mais uns quantos, como o “patinho feio” do plantel desta época. E isso é um clássico na Luz. Faz sempre bem para exorcizar as emoções do terceiro anel. Até é engraçado que outro antigo “patinho feio” tenha sido resgatado para ocupar o seu lugar. Não interessa nada racionalizar e ter em conta que o jogador é jovem e que a sua formação foi feita a jogar como ala em sistemas de três centrais, não isso não interessa. O que é importante é ressalvar o facto de ter sido batido num lance de um contra um (sendo que o outro um era apenas Alexandre Pato!) e de ainda ter tido o desplante de cometer um pecado que até Maradona experimentou: falhar a conversão de uma grande penalidade…

Friday, July 31, 2009

Adeus, até sempre

Abandonou-nos hoje um grande treinador, mas sobretudo um grande homem que Portugal teve o privilégio de receber durante um largo período. Por cá foi feliz, por cá também enfrentou algumas agruras típicas, oriundas da mesquinhez de algumas espécimes do burgo...
Sempre senti uma profunda admiração por Bobby Robson, admiração essa que se fortaleceu com a leitura da sua autobiografia, que aproveito para recomendar outra vez.
Bobby Robson é daqueles seres que apesar de partirem deixam por cá marcas tão fortes que parece que afinal por cá continuam - é essa, afinal, a única imortalidade que podemos assegurar como sendo possível.

Sunday, July 19, 2009

Curtas de Verão


No Benfica, euforias de pré-época à parte, é de registar os bons sinais que a equipa orientada por Jorge Jesus tem revelado. Se compararmos com aquilo que foi a pré-época passada, as diferenças são abissais...
Jorge Jesus é dos poucos treinadores da actualidade que consegue juntar extremos, um nº 10 e dois pontas-de-lança no mesmo onze. Isto porque as suas equipas não têem sectores estanques para divisão de funções, as equipas orientadas pelo treinador da Reboleira são o paradigma de defender e atacar em bloco.

No Sporting, conversas de e sobre tótós à parte, a grande e única novidade chama-se Matías Fernandez. Para já causa alguma sensação, se o chileno será suficiente para aguentar o entusiasmo dos adeptos ao longo da época, é que já não se sabe...

No F.C. Porto, piratarias habituais de pré-época à parte, saem os abonos Lucho e Lizandro, entram para os substituir, Falcão, e no caso de Lucho González – têem que ser dois, um só não chega! – Valeri e Beluschi. Apesar de tudo, as indicações que a equipa deu até ao momento são positivas.

Quanto ao resto, há que destacar o Vitória de Setúbal do sinistro Azenha – a mais recente coqueluche da imprensa desportiva – que se assume, simultaneamente (!) seguidor de Sachi e Van Gaal e que assim que chegou ao Bonfim tratou de levar a cabo uma autêntica revolução, fazendo mesmo as malas a históricos do clube como Ricardo Chaves, Auri e outros. É certo que o F.C. Porto dará a ajuda já tradicional ao clube do Sado, mas mesmo assim, a curiosidade é grande relativamente a este projecto desportivo.

Outro menino bonito da imprensa, Domingos Paciência, vai lançando umas sobranceiras considerações acerca da época passada do seu actual clube. Apetece perguntar, mas quem é Domingos Paciência (o treinador)? E ficar por aqui...

Lá fora, para além da megalomania galáctica que se vive aqui ao lado, há que realçar a depauperação do Inter. A verdade é que se se confirmar a perda da sua jóia da coroa (Ibrahimovic), Mourinho terá mesmo que se virar para o esoterismo para poder competir com os crónicos candidatos a ganhar a Liga dos Campeões.

Monday, July 06, 2009

Leituras


O Templo do Povo

Um dos grandes mistérios da humanidade reside no entendimento da noção de idolatria por parte das massas em redor de um indivíduo. São vários os exemplos do passado a iluminar esta realidade e, embora os mais atentos estejam cientes dos constantes sinais de despotismo que os tiranos, desde muito cedo, alimentam, nem por isso a história se reescreve com novos capítulos nem com diferentes percepções dos indícios que perigosamente adivinham o futuro. É-me difícil assistir à cegueira generalizada das massas em função do seu líder tirano sem que, de dentro de mim, avancem aos tropeções cães raivosos em busca de um motivo, um só motivo que me faça explicar e entender a razão pela qual as pessoas, com ou sem olhos, sofrem de miopia no cérebro.
Assistindo ao discurso formatado de Vieira, na tomada de posse de mais um mandato no trono benfiquista, lembrei-me de um tal de Jim Jones, o homem que levou ao suicídio colectivo, em delírio e de livre vontade, um milhar de pessoas. Pessoas como nós, crentes e descrentes no mundo, pais, filhos, primos como nós, uns aos outros atirados, gente. O cerebelo engaiolado de milhares de pessoas na ideia de um homem e das suas loucuras.
Jim Jones convenceu o povo de que o caminho era ele que o conhecia e, com isso, permitiu-se todos os delírios que o mundo ainda estava para adivinhar: violência mental, violação física, humilhação, aniquilamento, desprezo e homicídio - tudo de forma perfeitamente natural e quase sem contestação (alguns, no fim da crença, desconfiaram do homem mas já seria demasiado tarde). Gente como nós. Pessoas como nós, que religiosamente seguiram aquele homem até à própria morte, desterrados na Guiana, entregues ao cultivo dos alimentos e ao desaparecimento da consciência e do pensamento próprio. No fim, devotados à causa, devotaram-se à morte e entregaram-se-lhe livres, inteiros e preenchidos por, com aquele gesto, seguirem viagem para o lado de lá com o seu líder. Entender isto? Não sei. Explicá-lo? Menos ainda. Só a certeza da incompreensão por tamanho delírio colectivo.
Ao ver o pavilhão da Luz repleto de benfiquistas em louca e desenfreada euforia, gritando "O Benfica é nosso até morrer", idolatrando em êxtase o tirano, não pude, não consegui, deixar de ver naqueles que gritavam a mesma alma de pedra daqueles que um dia foram ao encontro da sua própria demência, cruzando o canal do Panamá.
Ontem, 91,7 por cento dos benfiquistas votantes entregaram o Benfica a quem o desprezou, o humilhou e o desrespeitou. Ofereceram ao líder, de livre e espontânea vontade, a crença na obra feita - a obra dos terceiros e quartos lugares no campeonato (haverá tetra para a medalha de bronze?), a obra da mentira, do enxovalho, da contradição, da falsidade, da injustiça, da desvalorização do que é, ou do que foi?, este clube.
E o líder subiu ao palanque. Não riu porque os líderes não riem, não precisam. Leu o texto que o súbdito lhe escreveu e, ditas as banalidades que o povo queria ouvir, abandonou o local em ombros (mas cuidado com as intimidades), seguro de si e do seu próprio ego. Estava concluída a sessão.



Ricardo, O Templo do Povo, Ontem vi-te no Estádio da Luz

Monday, June 22, 2009

A caneta de aluguer

Quando não se está a refastelar em almoçaradas ou jantaradas (habitualmente pagas) no restaurante Catedral, no estádio da Luz, José Manuel Delgado é a voz do "dono" nas páginas do jornal “A Bola”. Isto é do conhecimento geral e portanto não espanta muito. No entanto, e como nos últimos tempos, a estratégia do “dono” é a do vale tudo, Delgado lança hoje nas páginas do jornal onde escreve, uma teoria da conspiração digna de poder – com um pouco mais de esforço, diga-se – dar corpo a uma série televisiva que possa ombrear com um qualquer prison break. A história que Delgado conta começa logo com um título pomposamente ridículo, fazendo alusão a um período da história do país – o período filipino e a um assalto espanhol ao Sport Lisboa e Benfica. Segundo fontes "altamente colocadas" – não se sabe muito bem onde, mas também não interessa muito – haveria uma operação, altamente complexa – de facto, a complexidade da tese é tanta que não se chega a perceber grande coisa da mesma – com várias entidades, fusões entre elas, algumas dessas fusões encontrando-se ainda no plano das previsões, empréstimos bancários. Enfim, uma salganhada apenas passível de ser engendrada por um jornalista (?!) como Delgado. A coisa mete a Prisa, a Cofina, a Mediacapital/TVI, uma tal de Mediapro, outras entidades que ainda não existem, e por aí fora, pelo meio José Eduardo Moniz é, para o articulista, o facilitador do negócio que viabilizaria a venda dos direitos televisivos dos jogos do Benfica à TVI. E Delgado até adianta, sem explicar como lá chega, o valor da negociata – oito milhões de euros / época!! Mas a tese não fica por aqui, não, isto ainda não é nada. Segundo as mesmas fontes “altamente colocadas”, O futebol do Benfica com Moniz seria colocado nas mãos de investidores privados…mais uma vez, a caneta de aluguer de Vieira se esquece de, para uma conclusão desta espécie, estabelecer um nexo de causalidade minimamente congruente e coerente, basta a garantia das fontes e da sua alegada boa “colocação”. Isto é o jornalismo que se pratica no jornal que em tempos chegou a ser uma referência da comunicação social, e até, da cultura portuguesa.

Mas José Manuel Delgado, não contente ainda com esta história fabulosa, na última página do jornal, no seu habitual espaço de opinião, tem o fantástico descaramento de pedir ao presidente demissionário da Assembleia Geral – aquele que compactuou com o maior golpe anti-democrático que o Benfica já viveu – para que seja benevolente para com Bruno Carvalho, no sentido de permitir a viabilização da sua candidatura, isto em nome da tradição democrática do clube, que merece ter um acto eleitoral que não seja de candidato único. Dá para acreditar nisto?!!

Thursday, June 18, 2009

A deriva benfiquista continua...

Hoje ficou a saber-se que a deriva desportiva do Sport Lisboa e Benfica irá continuar, para grande júbilo dos seus adversários e simultaneamente para grande desalento dos benfiquistas mais esclarecidos.
A “chico-espertice” de Luís Filipe Vieira deu este fruto e, portanto, o objectivo da mesma foi alcançado. No entanto, na cabeça dos mais esclarecidos, este atropelo da cultura e história do clube, não será esquecido tão cedo. Não bastava a Vieira ser o presidente cujo número de treinadores contratado é superior aos anos que leva de presidência do clube, não lhe bastava ser o presidente com piores resultados desportivos (numa lógica de rácio entre anos de presidência e títulos) da história do clube, não, Vieira tinha também que perpetrar este golpe baixo, que, repito, manchará indelevelmente a sua história no clube.

Agora resta ir assistindo a um filme que já é mais visto que a “Música no Coração”.
Todos os anos se vão vendendo novas ilusões, vai-se acenando com a obra feita (mas que raio, mal feito fora se em oito anos não houvesse obra para apresentar), e com um discurso demagógico assente num maniqueísmo patético de que de um lado está o único indivíduo competente e sério e do outro apenas se encontra uma legião de abutres, pára-quedistas, oportunistas e outras coisas que tais…no fim, o resultado é sempre o mesmo: o Benfica perde, a culpa é sempre de alguém, menos, claro está, do seu inimputável presidente.

Já o disse, e nunca é demais repetir, Vieira foi o homem providencial que teve um papel crucial numa fase muito delicada da vida do clube. É impossível não reconhecer isto. Contudo, este facto não pode fundamentar quase uma década de equívocos em termos de política desportiva e, pior ainda, a perpetuação de Vieira no cargo de presidente do Sport Lisboa e Benfica. Segundo esta lógica, António de Oliveira Salazar ou Adolf Hitler também se deveriam ter perpetuado no poder, afinal ambos recuperaram os respectivos países de situações profundamente caóticas sob quase todos os pontos de vista…

Monday, June 15, 2009

Leituras

"(...)Tivesse Vieira para as coisas do futebol, a intuição animal e o saber prático, intratável, que tem para estas coisas da política interna, e o Benfica já somaria um ror de títulos nacionais e internacionais.
Ou seja… se o presidente do Benfica fizesse gato-sapato dos adversários externos como faz dos adversários internos… imaginem, caros benfiquistas, como ia bordejado a ouro, a diamantes e a tacinhas de todos os tamanhos e feitios, o nosso palmarés desportivo dos últimos anos.(...)"


Leonor Pinhão, A BOLA, 11 de Junho 2009

Monday, June 08, 2009

Um grande apego...

Ora aqui está um acto de grande apego ao Sport Lisboa e Benfica. Um apego exagerado. Um apego que já é tudo menos desinteressado. Um apego que já é algo que não se coaduna com a história e cultura democráticas do clube encarnado. Este apego déspota e desenfreado revela, como todos os despotismos, que a sua única prioridade é a perpetuação do poder do apegado, mostrando também, de forma inequívoca, o seu temor em enfrentar possíveis candidatos num acto eleitoral que se deveria pretender de discussão salutar e imbuído do tal espírito que faz parte da genética benfiquista.

Sunday, June 07, 2009

Leituras

"(...) A verdade é que o prof. Carlos Queiroz é um treinador único. Sobretudo no sentido em que é o único treinador que eu conheço que, tendo à disposição simão Sabrosa e Nani, escolheria Luís Boa Morte como primeira opção. É possível que haja apenas uma posição nas qual a selecção de Portugal não tem qualquer problema: a de extremo. Carlos Queiroz conseguiu arranjar um. É preciso talento.
Quando se lamenta a escolha de Quique Flores para treinador do Benfica, é importante não esquecer que Carlos Queiroz chegou a ser hipótese. Muita sorte tivemos nós."


Ricardo Araújo Pereira, A BOLA, 7 de Junho 2009

Thursday, June 04, 2009

Never Ending Story

O Sport Lisboa e Benfica é como a água, está sempre em constante renovação. A coisa já é um lugar-comum.
Desde a época 2005-2006, que os disparates vêm sucedendo a um ritmo frenético. Contudo, neste momento só há um adjectivo capaz de qualificar a situação do clube: caótico.
Oficialmente o clube tem contrato com um treinador que já sabe há cerca de um mês ou mais (ele e o mundo) que não irá terminar o seu vínculo contratual. Enquanto clube e treinador se vão tentando entender quanto ao valor da indemnização, já se sabe (também há muito tempo) quem irá ser o seu sucessor, que entretanto também continua ao serviço de outro clube, com o qual tem contrato em vigor. Pelo meio desta salganhada, também já se contrataram dois ou três jogadores, não se sabe é se foram contratados com o aval do treinador em exercício ou do treinador a exercitar, ou, mais ridículo ainda, se sequer tiveram aval de algum deles.
Até o já clássico “roubo” de contratação, perpetrado pelo clube ressentido do norte, teve lugar.

A situação financeira, após uma época de avultado investimento, e sem qualquer retorno em termos de resultados, obriga a vender uma ou mais jóias da coroa – fala-se em Luisão, Cardozo e Dí Maria…tiros no pé, portanto.

O presidente quer a demissão dos órgãos sociais para provocar eleições antecipadas e com isso minar as hipóteses dos seus adversários, salvaguardando o seu absolutismo obsessivo que é pródigo em delírios com abutres e conspiradores vindos de todos os lados e outros tiques autocráticos.

No que respeita à gestão do futebol do Benfica, em traços gerais, a situação objectiva e conhecida é esta. E isto é a balbúrdia total que se tem repetido época após época. É uma história interminável, tal como indica o título deste texto. A diferença é que o Never Ending Story que foi um sucesso nas salas de cinema durante a década de 80 teve um final feliz, o mesmo não se poderá dizer desta história que o clube da Luz vai vivendo.
Naturalmente que deste quadro não se pode augurar nada de bom, nem sequer razoável. Mas atenção, parece que o clube foi distinguido pela terceira vez, como sendo marca de excelência

Todos os benfiquistas estarão seguramente satisfeitos com o novo estádio, com o centro de estágio, com o projecto olímpico, com a revitalização das modalidades, com o aumento do número de sócios, com a clínica e o canal Benfica, etc.
Mas…e o futebol? Como tem sido gerido o core business da empresa Benfica? Está á vista de todos. Quer dizer…nem todos, basta ler uma entrevista de Domingos Soares Oliveira no último número da revista mística, onde o guru se multiplica em considerações vácuas acerca da saúde empresarial do clube.

Importa abrir um parêntesis para deixar bem claro o seguinte: Luís Filipe Vieira foi o homem providencial numa fase terrível da vida do clube. Não o nego e sempre soube reconhecer essa importância. No entanto, dos muitos ciclos que o Benfica tem vindo a iniciar e a acabar, o ciclo do presidente é o único que justifica uma conclusão. O projecto desportivo para o futebol tem sido permanentemente adiado. O Benfica clube não ganha e com isso, a prazo, o Benfica empresa também estará em dificuldades. Não é preciso ser guru da Gestão para alcançar tão óbvia constatação.

Saturday, May 30, 2009

Leituras



Tenho com o Barça uma estranha relação. Cresci a admirar o Dream Team, a delirar com os golos deliciosos de Romário e com Laudrup a olhar para um lado e a dar para o outro. Mas mal este acabou, virei-me para o Madrid de Raúl para chatear o meu pai e por lá fiquei. Hoje, mesmo preferindo o Madrid ao Barça, é-me humanamente impossível não admirar a orquestra blaugrana. Uma equipa que ameça seriamente tornar-se uma das míticas.Apesar da globalização, as equipas mantêm uma certa identidade. Não falo apenas do Athletic de Bilbao (esse mostra o dedo do meio à globalização), falo de várias: o Milan é cínico, a Juve chega a ser velhaca. O Liverpool é mítico e o Real Madrid monstruoso. Pensamos no Manchester United e vem-nos um vendaval à cabeça, o Bayern de Munique um exército. E quando pensamos no Barça?O Barça de Pep Guardiola (um jogador tão brutal que Valdano dizia que ninguém o devia tratar por tu em campo) é uma delícia muito difícil de descrever e está tão afinado que dói. A equipa que faz coisas que, como escrevi sobre a finta de Messi no Calderón, dão vontade de virar a cara por pudor. Um pudor que o Barça já não tem. Em certos momentos, a humilhação do rival chega a dar pena. Acabam de joelhos, cansados, desmoralizados, esmagados.A bola parece não parar. Minha, tua, tua, minha. Passe longo, passe curto. Um, dois, três e a equipa mexe-se como num tango. Divertem-se todos, disfrutam. Tudo começa em Xavi, um maestro que - passe a heresia - passou o mestre Pep que se senta num banco. Refinou o futebol a dois toques que o mítico 4 tanto amava: parar e receber. A melhor solução está sempre ali: perto ou longe, depressa ou devagar, o arranque fatal ou o passe para trás. A bola sempre com ele, a orquestra a girar. Os rivais desesperam. Depois, há Iniesta, a centopeia (expressão de Jorge Valdano). Um anjo com a bola nos pés. Siamês de Xavi, é como se fosse uma versão mais mexida, mais driblador. A maneira como ontem arrancou entre Carrick e Anderson para o primeiro golo é de uma elegância artística. Repare-se na diferença: Cristiano Ronaldo quando arranca é em força, tipo vulcão. Iniesta ontem pareceu-me que voava.

Por fim destaco, obviamente, Leo Messi. A pulga que nos parece mesmo ter genes de, ele mesmo, Maradona. A bola colada ao pé esquerdo como por encanto, a anca que finta repetidamente, os arranques imparáveis, como se fintasse os buracos da rua onde jogava quando era pequeno e depois tentasse rematar entre baldes do lixo. Messi é o menino da rua que, como li nalgum lado, paarece-nos que chega ao campo de boné para trás e pergunta timidamente se pode jogar.

Mas mais do que isso, este Barcelona revolucionou o futebol. Entregou-o de novo aos artistas. E até a mim, um defensivista, me conquistaram. Honra seja feita a Pep e a Luis Aragonés (que descobriu no Europeu que se desse um trinco - e, logo, a liberdade - a Xavi e a Iniesta dava à equipa a hipótese de poder mesmo passar os 90 minutos com a bola nos pés). O Barcelona que vi esta época fez jus à cidade. Não à parte turística, cheia de ingleses bebâdos. Fez jus aos bares escondidos no Bairro Gótico, onde se fala em catalão de liberdade.

Ver este Barça jogar emociona-me mesmo, como me emocionei a ler o "Por quem os sinos dobram". Arrepia-me ver aquela equipa baixinha, em Roma, trocar a bola rente à relva como se ensina aos infantis. E a alegria com que toda a gente se mexe e descobre um espaço e passa e arranca e a maneira como todos disfrutam. Ontem, em Roma, ganharam os bons. Os príncipes, os artistas. Aqueles a quem normalmente se reservam as vitórias morais. O Manchester, mais alto e mais forte, talvez lhes ganhasse todas as provas de atletismo. Mas ontem, a beleza do futebol - aquela que Nélson Rodrigues descreveu antes de todos os outros e Valdano continuou - revelou-se toda, num jogo que sintetizou uma época que será sempre falada no Bairro Gótico.


Este Barça não é uma equipa, é uma orquestra. Um sinfonia, um hino, arte. Quando Xavi lançou aquela bola celestial para Messi, percebi logo o lance e arrepiei-me. Arrepiei-me mesmo, como se um calafrio me passasse. A bola é divina, é perfeita, há um momento - como diz o jornalista do As - em que até parece que se atrasa para chegar à cabeça de Messi, como se tudo fosse combinado.Não sei se este Barça da bola no chão e tabelas e passes vai durar muito. Se num futebol cada vez mais fodido pela globalização, cada vez mais rápido a consumir-se, se vai durar o suficiente para marcar a década. Mas a mim, que cresci com o jogo e que me apaixono por toda a vida, toda a história que ali se faz, já me marcou.

Foi como se me apaixonasse. Este Barça é o Esplendor na Relva.

Diário de um ultra, 24 de baril de 2009.

Thursday, May 28, 2009

Com naturalidade...

Desilusão e confirmação. Foram as duas realidades que resultaram deste jogo. A desilusão de não vermos um jogo equilibrado, tal como nos tinha vindo a ser anunciando. A confirmação é a de que, actualmente, há a Premiere, a liga espanhola e italiana, e depois há o Barça…

Qualificar o futebol praticado por esta equipa do Barcelona, implica um risco muito provável de incorrer em lugares-comuns, já que o chorrilho de elogios tem sido uma constante ao longo da época. Um dos epítetos mais recorrentes que tem sido imputado ao futebol blaugrana, é o do futebol romântico, em oposição ao pragmatismo e resultadismo, como por exemplo, aquele que o Chelsea revelou nos confrontos das meias-finais. No entanto, parece-me que este futebol está muito para além do romantismo e de todas as outras coisas que lhe têm sido atribuídas. Aquilo é a essência do futebol. Está lá tudo, os deslocamentos, as coberturas ofensivas e defensivas, as compensações, as combinações tácticas e todas as acções e princípios elementares e basilares da organização do jogo. Portanto, este Barcelona ganhou com naturalidade a competição, e as restantes em que esteve envolvido. Com muita naturalidade.

Tuesday, May 12, 2009

O verdadeiro Código Quique

Ser filho de Carmen Flores, sobrinho de Lola Flores e afilhado de Di Stéfano, deu uma ajuda importante na afirmação de um debutante treinador espanhol chamado Enrique Sánchez Flores. Antes de abraçar a carreira de treinador, desenvolveu diversas colaborações com a comunicação social, o que veio cimentar, ainda mais, a relação profícua que Quique mantém com aquilo que se convencionou chamar de “quarto poder”.

Duas temporadas no Getafe com uma subida ao escalão maior e na época seguinte, manutenção da equipa nesse escalão. De seguida, o Valência, onde consegue a qualificação para a Liga dos Campeões e atinge os quartos-de-final da prova. Estes feitos razoáveis serviram para colocar Quique no patamar dos treinadores de sucesso, tendo mesmo chegado a ser comparado, inúmeras vezes, com José Mourinho!

Chega a vez do Benfica. Um clube lendário mas que vive em depressão profunda há uns valentes anos. Mais que um grande desafio, é uma oportunidade de ouro para o espanhol atingir, com fundamento, esse patamar do sucesso. No entanto, Quique não abraçou essa perspectiva.
O espanhol quis grandes jogadores, preferencialmente oriundos do campeonato espanhol, convidou um preparador físico de nome e sucesso, e achou que tudo isso seria mais que suficiente para vencer um campeonato “subdesenvolvido” como o português. Assim que chegou, Quique mostrou ao que vinha. Diamantino Miranda e Fernando Chalana, de imediato foram relegados para papéis abaixo do secundário na estrutura técnica.

Por detrás de uma imagem polida e de um discurso aberto e fluído, o espanhol foi dando mostras de uma enorme arrogância e de um ego desmesurado. Foram inúmeras as acusações de falta de empenho e qualidade que fez à sua equipa e a jogadores em particular, sem nunca assumir (ou sequer admitir essa possibilidade) qualquer responsabilidade quando as coisas corriam menos bem. Para além disso, ia dando umas entrevistas a órgãos de comunicação do seu país onde revelava de forma evidente, o seu desmedido umbiguismo e a atitude desprendida e pouco séria com que sempre encarou esta “passagem” pelo Sport Lisboa e Benfica.

Do ponto de vista táctico, Quique insistiu teimosamente num sistema e modelo de jogo absolutamente desajustados às características do futebol português e ao plantel de que dispunha. Para manter essa sua cruzada, o espanhol foi sacrificando jogadores nucleares. Sobre Léo, mantém-se o mistério de perceber o que teria ele que aprender com Jorge Ribeiro que entretanto também passou, num ápice, de tacticamente culto a jogador descartável. David Luiz acabou por ser o remendo inevitável, o que acabou por, não obstante as cavalgadas ofensivas dos últimos jogos, debilitar a organização defensiva da equipa e atrofiar o desenvolvimento de um defesa central com reconhecido potencial…
Rúben Amorim, já se sabe, um dos melhores para ocupar a zona central do meio-campo, acabou por servir de tampão para atenuar os desequilíbrios potenciados pelo 4-4-2 de Quique. A parca utilização de Óscar Cardozo, as dúvidas permanentes relativamente à constituição da dupla a utilizar na zona central do meio-campo e muitos outros aspectos marcaram esta época de equívocos técnico-tácticos de Enrique Sánchez Flores no clube da Luz. Como resultado, o futebol produzido pela equipa foi sempre qualquer coisa abaixo do sofrível. Isto foi o que toda a gente viu durante a temporada. No entanto parece que há resultados invisíveis, segundo o treinador…

O espanhol teve um dos melhores plantéis da última década, teve sempre a benevolência da comunicação social e do Terceiro Anel, algo de que nem todos os que têm passado pelo clube se podem gabar. Ainda hoje, há adeptos a manifestarem o desejo da sua continuidade em nome de um conceito muito estranho de estabilidade…Apesar disso tudo, o afilhado de Di Stéfano nunca conseguiu perceber o "código" de Tulipa, Domingos Paciência ou Manuel Cajuda, e o pior de tudo é que, facilmente se percebe, que nem sequer se esforçou para o conseguir.


PS: Sei perfeitamente que os problemas do Sport Lisboa e Benfica não se esgotam na questão do treinador, no entanto, uma coisa não invalida a outra. Os problemas estruturais não invalidam a notória incompetência de Quique Flores.

Saturday, May 09, 2009

Começou o Brasileirão

É uma afirmação no mínimo discutível, mas não tenho dúvidas que o Brasileirão, que arranca este fim de semana, é sob várias perspectivas o melhor campeonato do mundo. Nenhum tem tanta paixão acumulada. Nenhum tem tantas equipas grandes em competição. Nenhum tem tantas rivalidades. E, embora sem as grandes estrelas do país, nenhum terá tanto potencial a aparecer de ano para ano.

Filipe, Vai começar o campeonato da paixão!, Jogo directo


Subscrevo totalmente esta opinião relativamente ao campeonato brasileiro. Não o definiria melhor. Esta temporada o Brasileirão conta ainda com o aliciante de podermos ver três grandes craques que a ele regressaram: Ronaldo no Corinthians (que já se fartou de dar que falar durante o Paulistão); Fred no Fluminense, e Adriano, aquele que trocou o glamour de Milão pela rudeza da favela, e que afinal, soube-se agora, também queria trocar o Giuseppe Meazza pela Gávea...

Para além destes três enormes nomes do futebol mundial, há ainda os jovens valores a despontar, tais como Maicosuel do Botafogo, Neymar do Santos e Keirrison do Palmeiras, entre muitos outros.

Sobre o campeonato brasileiro recaiem alguns mitos, como o de que o futebol praticado é lento, individualista, entre outras coisas. Paradoxalmente, a Europa olha de forma sobranceira para o futebol jogado em terras de Vera Cruz, sem no entanto se cansar de lhe subtrair, ano após ano, todos os Patos, Kákás e Robinhos que por lá vão surgindo…
Para além de que quando se fala de futebol brasileiro é necessário ter em atenção que ele assume estilos diferentes em função do território onde é jogado. Por exemplo, a ginga do futebol carioca nada tem a ver com o jogo mais musculado de Rio Grande do Sul.

Eu, pessoalmente, também recomendo este campeonato. Tal como o Filipe do Jogo Directo, também só não verei o que não puder.

Thursday, May 07, 2009

Sobre o Chelsea-Barcelona

Nunca se saberá se Hiddink falava verdade quando afirmou que a sua equipa iria abordar o jogo de forma diferente relativamente ao jogo de Camp Nou. O pontapé certeiro de Essien, nos primeiros minutos do jogo, inviabilizou essa descoberta. No entanto, viu-se a espaços um maior atrevimento por parte dos londrinos quando a bola estava na sua posse. Não foi apenas futebol directo para Drogba como na Catalunha, de vez em quando apareciam 4/5 jogadores em zonas de finalização. Isso, associado ao desacerto defensivo dos homens de Guardiola promoveu a ilusão, “comprada” por muitos, de que o Chelsea foi superior ao Barça neste jogo. Talvez a ilusão também se explique pelo facto de que na verdade, os comandados de Hiddink apenas foram superiores (e muito!) ao Chelsea da primeira mão.

Fragilizados por ausências de peso, os blaugrana foram fiéis a si próprios. Jogaram como jogam sempre. Essa é a sua grande marca distintiva. Não fizeram muitos remates à baliza, dizem os mais radicais compradores de ilusões. Pois não. Mas desde quando é que o Barcelona é equipa que remata muito à baliza? Os remates de meia distância e os cruzamentos para a área são acções que não integram o manual de princípios desta equipa. Ao invés, é em ataque posicional, com passes curtos e tabelas que procuram desequilibrar o dispositivo defensivo dos adversários. Ora, isso, nestes dois jogos foi contrariado com sucesso pela equipa de Londres. As insónias de Hiddink deram frutos e ontem, o meio-campo catalão carecido de Iniesta que estava deslocado para outras paragens, progredia com a bola até á área adversária, contudo o último passe não saía. Esbarrava na extraordinária organização defensiva do adversário. Até ao minuto 93…

Chegou á final a melhor equipa no conjunto dos dois jogos. A equipa que foi igual a si própria e que jogou o futebol que joga sempre. Ficou pelo caminho aquela que, sobretudo num dos jogos, apenas procurou anular o seu adversário.

Sobre a arbitragem…o que se tem dito é manifestamente um exagero. Existirão dois lances passíveis de terem sido mal ajuizados com prejuízo dos londrinos, tal como Abidal também foi mal expulso, e já agora, tal como em Barcelona, também houve vários lances mal ajuizados e que prejudicaram os catalães – um deles provocado por Bosingwa…

Wednesday, May 06, 2009

Insónias

"Penso em diferentes formações. Esta semana tive sempre caneta e papel ao pé da cama. Depois do primeiro jogo não conseguia dormir e passava a noite a escrever"

Guus Hiddink, citado por vários jornais ingleses

Saturday, May 02, 2009

Estabilidade?!

Depois de ver a fragilidade do 4-4-2 clássico – que enorme desperdício de jogadores a que ele obriga! – com que o Real Madrid foi esmagado pela máquina trituradora da Catalunha, vejo o Benfica na madeira com as mesmas fragilidades típicas do sistema, mas com a agravante de o seu oponente não ter, nem de perto nem de longe, os argumentos de uma “grande equipa”. É Confrangedora e embaraçosa a incapacidade do Benfica desequilibrar uma equipa cujo método defensivo é a marcação individual. Como se isso não bastasse, as intervenções emanadas do banco, em vez de resolverem essa incapacidade, ainda a exponenciam mais. Deslocar o suporte de um meio-campo em permanente dificuldade e retirar de campo um de dois avançados que estavam a ser marcados individualmente por três defesas centrais, é algo de inexplicável…

Estabilidade assente num equívoco? Não, obrigado!

Wednesday, April 29, 2009

Meias-finais da Champions League - Preâmbulo

Parece existir alguma tendência crítica nas análises "profissionais" que são feitas à forma como o Chelsea jogou ontem em Camp Nou. Os londrinos estacionaram um autocarro de dois andares na sua grande área e apenas procuraram impedir (com sucesso, diga-se) o desenvolvimento do habitual carrossel catalão. Contudo, não deveria haver crítica nenhuma. A época passada, o por cá tão elogiado, Manchester United (de Ronaldo e na altura ainda de Queiroz) utilizou exactamente a mesma estratégia em Camp Nou e não me lembro de ler ou ouvir grandes críticas, pelo contrário, foi prova de maturidade e sabedoria táctica. Já agora, é a isto que chamam de maravilhoso futebol inglês?

Thursday, April 16, 2009

Belenenses - Declínio de um histórico *

Se falarmos com um estrangeiro sobre o futebol lisboeta, e se o nosso interlocutor for minimamente informado acerca do desporto-rei, seguramente que os nomes de Benfica e Sporting serão pronunciados, e pouco mais. No entanto, lá para os lados de Belém – onde, por acaso, o futebol até recebeu o seu primeiro forte impulso organizativo – habita um clube que também já fez parte da elite alfacinha. Um clube que chegou a ser campeão nacional, que foi orientado por grandes treinadores, como Fernando Riera, Helenio Herrera ou Otto Glória, que teve jogadores lendários, como Matateu, Vicente e Pepe, mas que, apesar do peso histórico, tem vindo a reduzir o seu estatuto no futebol português.

O enfraquecimento gradual do Clube Futebol Os Belenenses deve-se, em boa parte, à complacência e má politica dos sucessivos dirigentes que têm passado pelo emblema do Restelo. O clube parece carregar uma cruz, que ironicamente faz parte do seu emblema.

Esta época é um exemplo claro destas dificuldades, com a equipa a agonizar no fundo da tabela classificativa. E o mais paradoxal é o facto de ter vindo de duas temporadas extraordinárias, onde, inclusive, regressou às competições europeias e marcou presença numa final da Taça de Portugal. O problema é que este ano, para além do abandono do treinador Jorge Jesus, saíram do plantel 19 jogadores, tendo entrado 17 novos atletas, quase todos oriundos do futebol brasileiro – muitos vindos de divisões secundárias, outros das reservas de alguns clubes do Brasileirão.

Face a esta profunda transformação, o futebol da equipa afigurou-se pouco consistente e provocou os maus resultados sofridos nas primeiras jornadas. O treinador brasileiro Casemiro Mior acabou por ser dispensado, sem grande surpresa, tendo entrado para o seu lugar, o já experimentado nestas lides, Jaime Pacheco. O treinador nortenho de imediato começou a trabalhar na construção de uma equipa à sua imagem, recorrendo ao mercado de Inverno para realizar os necessários ajustes nesse sentido. O problema é que enquanto este complicado empreendimento foi ganhando forma, o campeonato não parou, e com isso o clube azul foi perdendo terreno até acabar por se fixar nas sufocantes posições do fundo da tabela. Nesta altura, o espectro da quarta descida de divisão da sua história é uma constante no dia-a-dia do clube.

Princípio da ruína

A queda do Belenenses tem início ainda na década de 80, com a primeira descida de divisão na história do clube. O desastre ocorreu na temporada 81/82 durante a qual, a equipa conheceu sete treinadores, entre os quais Artur Jorge e Nelo Vingada. O inferno da segunda divisão durou duas épocas.

O abandonado campo das Salésias, antiga casa do Belenenses, assemelha-se à perda de importância que o clube tem vindo a sofrer no futebol nacional.


A seguir a esta tempestade, porém, veio uma agradável bonança. O clube reergueu-se e atingiu boas classificações, como um brilhante 3.º lugar em 87/88. Foram também atingidas duas finais do Jamor, sendo que numa das vezes, na época 88/89, o troféu foi mesmo conquistado pelos azuis – o último grande troféu oficial conquistado (vitória frente ao Benfica por 2-1). Também nesse período, as noites europeias voltaram a animar o Estádio do Restelo, com particular destaque para uma eliminatória com o Barcelona que terá promovido, talvez, a última grande enchente. Neste Belenenses, orientado por Marinho Peres, sobressaíam jogadores como Mladenov, Sobrinho, José António, Chiquinho Conde, entre outros. Findo este período, porém, o clube voltaria a cair nas profundezas da Liga de Honra em mais duas ocasiões (90/91 e 97/98). O regresso às competições europeias e a uma final da Taça de Portugal aconteceu apenas recentemente, com Jorge Jesus. Pelo meio houve uma época (95/96) em que, pela mão de João Alves – com jogadores como Ivkovic, Fernando Mendes, Tulipa, Giovanella, Mauro Airez, entre outros – os azuis mantiveram, com o V. Guimarães, uma luta árdua por um lugar de acesso à Europa. Levaram a melhor os homens do Minho, contudo essa equipa garantiu um lugar no cantinho das boas memórias dos adeptos belenenses.

Na actualidade os adeptos do clube continuam a reclamar o estatuto de quarto grande do futebol português, mas apenas a história consegue legitimar tal posto, já que no campo esse estatuto tem sido disputado de forma mais justificada por V. Guimarães, Braga e Boavista (antes da recente queda ao segundo escalão).

O declínio competitivo do futebol do Belenenses, associado ao amadorismo e aventureirismo de muitas das suas direcções, e também às questões relacionadas com o envelhecimento demográfico da população lisboeta, tem levado ao contínuo afastamento dos adeptos do clube – algo que é bem visível de 15 em 15 dias nas despidas bancadas do Estádio do Restelo. O clube de Belém corre o risco de se transformar num resíduo simbólico e histórico, tal como o seu primeiro campo de futebol – as abandonadas e degradadas Salésias.

* Texto publicado em

Monday, April 13, 2009

Corinthians - Uma proposta táctica diferente para conquistar o Paulistão


Foi ontem no Pacaembu que o Corinthians venceu o arqui-rival e todo-poderoso São Paulo FC. Estava em causa o avanço até à final do "Paulistão". Agora, ao "timão", basta um empate daqui a uma semana no Morumbi para atingir esse objectivo. O jogo teve contornos dramáticos para o S. Paulo, já que o golo que deu a vitória ao Corinthians foi obtido no último minuto do tempo de descontos. Após um período de intensa pressão corinthiana, sobretudo depois de se encontrarem em superioridade numérica, Cristian, arrancou e desferiu um potente remate que só fez parar a bola no fundo da baliza de Rogério Ceni.

O jogo de ontem cumpriu com uma das regras basilares do actual futebol brasileiro – muita luta a meio campo, alicerçada na rigidez das marcações individuais. No entanto, do lado do "timão" havia qualquer coisa de pouco habitual no futebol brasileiro dos três “zagueiros”. Mano Menezes estruturou – à semelhança do que tem feito noutros jogos – a sua equipa num sistema de 4-3-3 que, pressionando alto, obrigou o tradicional 3-5-2 do S. Paulo a transformar-se num expectante 5-3-2, pois a permanente procura da profundidade pelos corredores laterais, através da velocidade de Dentinho e Jorge Henrique, obrigava os laterais são-paulinos a terem mais preocupações defensivas do que seria habitual. A equipa do Parque São Jorge teve assim um domínio claro do jogo face a um S. Paulo que ficava assim condicionado a procurar surpreender em contra-ataque ou através de bolas paradas.
É uma proposta táctica de Mano Menezes, que difere dos dominantes 3-5-2 ou 4-4-2 com dois “meias” (4-2-2-2) e que, como tal, junta à recuperação de Ronaldo o “fenómeno”, esta outra particularidade de interesse aos jogos do popular clube brasileiro.

Tuesday, April 07, 2009

Breves notas sobre o Manchester United - FC Porto

1) Exibição personalizada do FC Porto em Old Trafford.

2) Fernando foi, do ponto de vista individual, a unidade em evidente destaque pela positiva.

3) O mais recente ídolo da imprensa lusa conseguiu uma soma de disparates absolutamente notável. Quando mais deu nas vistas, foi quando manifestou a sua patética tendência mártir, que nestes palcos não parece ser muito bem sucedida...

4) Ferguson, agora na recta final da sua carreira, optou por dar um valente pontapé na filosofia que sempre defendeu e que pôs em prática no clube, para se render ao pragmatismo, resultadismo, defensivismo, ou será mesmo cobardia? Herança de Queiroz?

Wednesday, April 01, 2009

ANUÁRIO FUTEBOL MUNDIAL 2008/09 (Rui Malheiro, QuidNovi, 2009).



O futebol português visto à lupa: Liga Sagres, Liga Vitalis, II Divisão, Taça de Portugal, Taça da Liga, Liga Intercalar e Supertaça. A actividade das Selecções nacionais: dos sub-15 aos AA. Os campeonatos de mais de 100 países. Tudo sobre o futebol inglês, italiano, espanhol, francês, alemão, brasileiro e argentino. As provas internacionais de clubes e selecções. O perfil de cerca de 1000 jogadores de todo o Mundo ao longo de 816 páginas.


"Estou feliz por ver um sonho realizado e contente por uma obra tão rica aparecer em Portugal. É um documento fantástico, de enorme valor, que resulta de uma pesquisa exaustiva e que demonstra a dedicação ao futebol por parte do autor. Trata-se de uma obra que tem um largo campo de interesse. Para mim, como treinador, é uma ferramenta de consulta extremamente útil, como também não tenho dúvidas de que o será para os diversos agentes desportivos - clubes, treinadores, jogadores, jornalistas e adeptos -, que passam a ter em mãos um vasto documento com informação organizada sobre os intervenientes dos principais campeonatos".

Paulo Sousa


"À estatística, comum aos dois almanaques internacionais mais conhecidos, decidimos juntar a táctica, a análise e a prospecção de jogadores, com o objectivo de enriquecer a obra, conferindo-lhe um carácter único".

Rui Malheiro



Decorreu ontem a cerimónia de lançamento desta magnífica obra e eu tive o privilégio de ter estado presente. Para além de passar a ter este importante documento na minha estante, tive a oportunidade de conhecer pessoalmente o seu autor - alguém por quem já nutria particular admiração, por via de muitos dos seus trabalhos, disponíveis online, tais como o mítico terceiro anel e o playmaker.
Voltei também a discutir futebol com o Ricardo do Catenaccio. Conheci o Nuno Francisco, director da revista 'Futebolista', o João Gonçalves, do Encarnado e Branco e o jornalista José Marinho, tendo tido também a oportunidade de com eles trocar umas ideias e opiniões sobre este assunto que a todos nos anima. Foi, em suma, um momento muito bem passado.
O Anuário, pelo que já pude observar, é um documento de extraordinária importância - imprescindível para quem, de alguma forma, está ligado ao futebol. Por exemplo, para as coisas que eu por aqui vou escrevendo, o Anuário vai, seguramente, ser consulta recorrente.
Resta-me, mais uma vez, endereçar os meus parabéns ao autor Rui Malheiro, fazendo votos para que continue a aplicar todo o seu saber na elaboração dos próximos anuários e de outros contributos que queira dar ao futebol, pois é das pessoas mais qualificadas para o fazer.

Monday, March 30, 2009

Barcelona – O último refúgio do futebol-arte *

«Todos os treinadores falam sobre movimento, sobre correr muito. Eu digo que não é necessário correr tanto. O futebol é um jogo que se joga com o cérebro. Deves estar no sítio certo, no momento certo, nem demasiado cedo, nem demasiado tarde.»

Johan Cruijff

Os jogos vão passando e o encanto permanece: a actual época do Barcelona está a deslumbrar os amantes do futebol. A qualidade demonstrada pelos catalães resulta, invariavelmente, em copiosas goleadas infligidas aos adversários.

A verdade é que o Barcelona tem sido, nos últimos anos, como que um refúgio dentro do actual modelo do futebol europeu, na medida em que diverge de todos os grandes postulados que regem a ideologia futebolística moderna, cujo grande paradigma reside, actualmente, na liga inglesa.

À dimensão física do jogo, o Barcelona opõe técnica e criatividade, condimentos que bem estruturados tacticamente, têm produzido aquele futebol apoiado, ofensivo, de circulação de bola constante que assombra os adversários.

Se este ano, com Pep Guadiola, os níveis de brilhantismo têm atingido um patamar muito elevado, é preciso não esquecer os anos anteriores com Frank Rijkaard, em que, inclusivamente, o clube se sagrou campeão europeu.

Existe uma simbiose perfeita entre a cidade condal, com os seus elevados padrões estéticos, e o clube, com o seu futebol artístico e harmonioso.

Esta filosofia nasce com a chegada de Johan Cruijff à Catalunha. Foi ele, com os princípios do «futebol total» que trouxe da Holanda, quem marcou indelevelmente o futebol blaugrana. O dream team inscreveu-se no código cultural do clube, como bem atesta, por exemplo, o facto de Guardiola – um dos seus grandes intérpretes – ser o actual treinador.
O futebol produzido pelo gigante da Catalunha é assim um misto do futebol total com o futebol-arte – essa invenção brasileira que também entrou em declínio a partir da década de 70 e que é hoje um conceito que assenta perfeitamente nas exibições de Messi, Iniesta, Xavi e companhia.

Se a conquista da liga espanhola, com um ou outro tropeção, dificilmente deixará de ser uma realidade, o grande desafio deste Barcelona será a tentativa de conquistar a Champions League. Os catalães são apontados como grandes favoritos. No entanto, é preciso recordar que a história do futebol está repleta de casos em que os favoritos, aqueles que mereciam todos os aplausos e vénias, acabaram derrotados face àqueles que eram apelidados de cínicos e pragmáticos. O próprio dream team de Cruijff viveu esse drama quando foi estrondosamente goleado pelo AC Milan de Fabio Capello na final da Taça dos Campeões Europeus de 1994.

Ainda a época passada, o Barcelona foi eliminado por um frio e calculista Manchester United. Na Champions, até um clube como o Manchester United, de Ferguson, trai o seu estilo e transforma-se numa equipa totalmente diferente daquela que joga na Premiere League. Este Barcelona de Guardiola não o faz, nem fará, seguramente. A sua filosofia é dogmática. Joga sempre da mesma forma, seja na liga espanhola, seja na Liga dos Campeões. Isso poderá ser-lhe fatal. Talvez. Mas, tal como já referiu Cruijff, ainda hoje a selecção holandesa do Mundial de 1974 é mais falada e recordada do que a equipa que conquistou a prova.

* Texto publicado em

Sunday, March 29, 2009

Tuesday, March 24, 2009

Leituras

O erro de Soares Franco

O que mais incomoda Soares Franco não é o penaltie assinalado por Lucílio Baptista. Soares Franco está realmente furioso é por ter aceite fazer parte da direcção da Liga e isso não se ter transformado em benefício do Sporting na arbitragem. Só assim se justifica a saída dos Leões daquele órgão directivo. E não adianta vir agora dizer que há várias razões pois, na verdade, quando se assistiu ao triste espectáculo que constituiu o processo Apito Final e a forma como foi conduzido no seio da Liga e até da Federação, ninguém ouviu Soares Franco queixar-se de arbitrariedades e injustiças. A dramatização para justificar uma derrota que nem chega a ser injusta (apesar do penaltie) pode servir para que esqueçamos momentaneamente as vergonhosas cenas de indisciplina que os jogadores do Sporting protagonizam desde o início da pré-época, mas não nos farão esquecer a ausência de posição de Soares Franco em todas elas, atirando para cima do seu conflituoso treinador sucessivos problemas que foi sendo incapaz de resolver. Aparecer agora aos gritos, como fazer parte da direcção da Liga, não vai devolver vitórias ao Sporting e esse é o erro estratégico de Soares Franco. Ao contrário do que possa parecer, ele ainda não percebeu que os jogos e os campeonatos se ganham no campo. E é por isso que vai continuar a perder.


Publicada por Nuno Nogueira Santos em A outra varinha mágica

E sobre isto, sportinguistas, o que dizem?

No momento em que nasce o golo do Sporting...



Vukcevic puxa calções de Maxi Pereira
Enviado por nsalta

Sintomático...

"Em 2008/2009, a tentativa de corrupção não será punida com a descida de divisão, ao contrário do que propôs na Assembleia Geral de ontem a Comissão Disciplinar da Liga. Em contrapartida, para que haja culpa de corrupção consumada deixou de ser necessário provar que houve benefício. Foram essas as principais decisões tomadas numa reunião que acabou interrompida às 00h30 e adiada para a próxima quarta-feira. Até então os membros da Liga tinham aprovado, por maioria, alterações ao artigo 51, nrº 1, referente à corrupção consumada, que passou a ter uma redacção mais próxima da que consta do Código Penal. Para além da questão do benefício, a pena máxima passou a ser a descida de duas divisões, ou seja, ficou aberta a possibilidade exclusão das provas profissionais.A forma tentada, até aqui punida com a subtracção de três pontos e derrota, prometia ser a estrela da assembleia, por ter sido essa a alínea que valeu ao FC Porto o processo actualmente de em fase de recurso no Conselho de Justiça da FPF. Para além dos dragões, também o Sporting votou contra a proposta da Comissão Disciplinar, que pretendia passar a punir esse ilícito com a dita descida de divisão. Foram os próprios leões quem propôs a alternativa: o agravamento da pena para seis pontos, mais derrota ..."

Monday, March 23, 2009

O maior erro de arbitragem

Patético, hilariante, tudo o que se tem dito e escrito sobre a arbitragem de Lucílio Baptista na final da Taça da Liga.
Sempre que o Sporting Clube de Portugal é prejudicado com uma decisão de arbitragem, cai o Carmo e a Trindade. Já se sabe. É assim há muitos anos, desde o início da história do clube.

O árbitro errou ao assinalar a grande penalidade? É óbvio que sim. Tal como errou ao não mandar Polga tomar banho mais cedo, e mais ainda, em deixar que alguém mais especializado em artes marciais, provocações e teatro do que futebol, ficasse em campo até ao final do jogo. Mas é claro que o lance que merecerá toda a espécie de crítica será aquele que prejudicou o clube de Alvalade. E o pior de tudo é que a coisa ocorreu num jogo frente ao Sport Lisboa e Benfica e, pior ainda, valia uma taça.

Um pouco de história

O clube que foi fundado com o propósito de roubar o protagonismo que o Benfica vinha ganhando no futebol lisboeta, depois de aliciar e recrutar os seus melhores praticantes, cedo se iniciou em comportamentos que redundavam numa espécie de esquizofrenia paranóide face ao rival. Não havia um confronto vencido pelos encarnados que não merecesse acesa contestação por parte do clube do Visconde de Alvalade.

Logo ao quarto confronto entre Benfica e Sporting, após um penalty pretensamente mal assinalado por um árbitro inglês e cuja conversão deu a vitória aos encarnados, os leões indignam-se e desistem do campeonato, isso apesar da atitude cavalheiresca do Benfica que declina o direito ao golo e consequentemente recusa a legitimidade da vitória.

Mas há muitos outros episódios em que os sportinguistas, sentindo-se injustiçados, optam pelas faltas de comparência, ou pelos abandonos de campo a meio dos jogos.

Claro que quando as decisões polémicas eram em seu benefício, os procedimentos não coincidiam propriamente com este padrão de comportamento, bem pelo contrário. Há um episódio pitoresco, ocorrido num encontro frente ao Cruz Negra, em que a equipa sportinguista obtém um golo na sequência de uma tabela com uma das árvores plantadas em redor do recinto de jogo. A comunicação que o clube mais tarde produziu em resposta a toda a polémica e discussão que naturalmente este lance provocou, foi a seguinte: «1º - O referee não apitou e, como tal, o jogo devia continuar; 2º - Em igualdade de circunstâncias, quando a bola bateu nas árvores do lado do campo, caindo na volta dentro do jogo, não era considerada fora.» *

De volta ao presente

Há, portanto, como que uma idiossincrasia genética na instituição que explica toda a bizarria a que se assiste desde Sábado passado. A tese, que está a ser veiculada por muitos, de que o árbitro auxiliar teria informado Lucílio de que não era penalty, numa tentativa óbvia de produzir a maior suspeição possível – transformar o erro involuntário em voluntário – chega a ser risível.


Alguém se recorda das reacções que os responsáveis leoninos tiveram aquando daquele penalty assinalado na sequência de um autêntico mergulho de Silva na relva da Luz, na época 2003-2004? Ou daquele que terá sido o penalty mais grotesco da história do futebol português relativamente a uma pretensa falta sobre Jardel na época 2001-2002?
Os responsáveis leoninos esquecem-se até de alguns incidentes engraçados, ocorridos durante o percurso da equipa até à final algarvia, como aquele golo obtido num fora-de-jogo de quilómetros em Vila do Conde.

Por último, há uma reflexão pertinente a fazer. Lucílio Baptista é um daqueles árbitros que se formou à sombra daquilo a que alguns (sportinguistas também) chamaram de “sistema”, algo que tem merecido o maior alheamento estratégico por parte dos actuais dirigentes. Portanto, há em tudo isto, uma inevitável e profunda ironia.


* Afonso de Melo, 100 anos, Benfica-Sporting - Sporting-Benfica, Prime Books, Lisboa, 2007

Homero Serpa, História do Desporto em Portugal – Do Século XIX à Primeira Guerra Mundial, Instituto Piaget, Lisboa, 2007

Friday, March 13, 2009

Hegemonia do futebol inglês!?

Segundo ano consecutivo em que o big four integra as 8 equipas finalistas da principal prova de clubes do velho continente. Muitos têm-se referido ao facto como a hegemonia do futebol inglês. No entanto, há uma questão que se impõe. Os quatro candidatos ao título inglês podem ser representantes de uma determinada ideia de futebol inglês? Apenas na medida em que são clubes que nasceram em terras de Sua Majestade e que integram a liga inglesa. Jogadores ingleses são raros nas quatro equipas. Passa-se o mesmo nas principais equipas das outras ligas, é certo. È a natural consequência de uma lei que se impunha no mundo do futebol, para que as coisas se harmonizassem com a sociedade globalizante que se vinha formando. Como tal, hoje em dia, faz pouco sentido falar em estilos. As idiossincrasias dos povos, outrora tão bem reflectidas no futebol, diluíram-se nestas autenticas torres de babel que pululam por essa Europa fora.

A Premier league é a liga europeia que alberga o maior número de jogadores estrangeiros. Fenómeno que é transversal a todos os clubes que a compõem, ao contrário da liga espanhola ou italiana, em que os candidatos ao título são aqueles que concentram um maior número de estrangeiros nos seus plantéis, algo que não encontra paralelo nos clubes "médios" e "pequenos". Esta situação tem tido, naturalmente, os seus custos para o futebol inglês, sobretudo ao nível do futebol de selecções. A suprema ironia reside no facto de aquele país que sempre olhou sobranceiro para o futebol praticado para lá do canal da mancha, ter acabado por se render a esse futebol e inclusive recrutar seleccionadores estrangeiros.

Voltando ao big four. Com excepção do Manchester United, qualquer semelhança com o futebol praticado pelas restantes equipas e aquilo que são (ou eram) as idiossincrasias do futebol inglês (ou britânico), só pode ser mera coincidência. E mesmo o Manchester United, nos últimos tempos, viu-se na contingência de ter que continentalizar um pouco mais o seu futebol.

O Liverpool então é a verdadeira antítese daquilo que ficou consolidado como o estilo inglês, para o qual, aliás, o clube de Anfield foi um importante contribuinte. Mantém-se o The Kop, o hino You never walk alone e a estátua de Shankly, num estádio onde agora, diariamente, se encontra um astuto treinador espanhol que, sempre de faces rosadas e bloco na mão, criou uma fortaleza futebolística, avessa a grandes espectáculos, mas que é terrivelmente eficaz, sobretudo em provas a eliminar. Falta-lhe ainda saber ser regular, mas essa é uma outra história…

O Chelsea, já antes de Mourinho, era um clube com uma certa tendência “internacionalista” – desde os tempos de Vialli, Gullit e Zola. Depois com Ranieri, e sobretudo José Mourinho, o clube adoptou um estilo futebolístico que também pouco ou nada tem a ver com um “estilo britânico” de jogar futebol.

O Arsenal de Wenger é talvez o produto mais contrastante com aquilo que será o “estilo inglês”. Futebol apoiado, de pé para pé. Um futebol que faz do controle de bola o seu grande e único axioma.

Há ainda outro aspecto que merece reflexão. Para além do big four, o que facilmente se constata é uma certa "leveza" competitiva dos clubes ingleses nas competições europeias (vulgo Taça Uefa).

Portanto, é algo delicado falar de hegemonia do futebol inglês, com excepção daquela época em que a Europa se rendeu verdadeiramente a um domínio avassalador de clubes ingleses, com treinadores ingleses (ou pelo menos britânicos), jogadores ingleses e um estilo futebolístico muito seu e muito próprio – o verdadeiro estilo inglês. Foi a época do brilhante Liverpool de Paisley, do Notthingham Forest de Brian Clough e do Aston Villa. Em nove épocas, esse futebol conquistou sete Taças dos Campeões Europeus.