Friday, July 31, 2009

Adeus, até sempre

Abandonou-nos hoje um grande treinador, mas sobretudo um grande homem que Portugal teve o privilégio de receber durante um largo período. Por cá foi feliz, por cá também enfrentou algumas agruras típicas, oriundas da mesquinhez de algumas espécimes do burgo...
Sempre senti uma profunda admiração por Bobby Robson, admiração essa que se fortaleceu com a leitura da sua autobiografia, que aproveito para recomendar outra vez.
Bobby Robson é daqueles seres que apesar de partirem deixam por cá marcas tão fortes que parece que afinal por cá continuam - é essa, afinal, a única imortalidade que podemos assegurar como sendo possível.

Sunday, July 19, 2009

Curtas de Verão


No Benfica, euforias de pré-época à parte, é de registar os bons sinais que a equipa orientada por Jorge Jesus tem revelado. Se compararmos com aquilo que foi a pré-época passada, as diferenças são abissais...
Jorge Jesus é dos poucos treinadores da actualidade que consegue juntar extremos, um nº 10 e dois pontas-de-lança no mesmo onze. Isto porque as suas equipas não têem sectores estanques para divisão de funções, as equipas orientadas pelo treinador da Reboleira são o paradigma de defender e atacar em bloco.

No Sporting, conversas de e sobre tótós à parte, a grande e única novidade chama-se Matías Fernandez. Para já causa alguma sensação, se o chileno será suficiente para aguentar o entusiasmo dos adeptos ao longo da época, é que já não se sabe...

No F.C. Porto, piratarias habituais de pré-época à parte, saem os abonos Lucho e Lizandro, entram para os substituir, Falcão, e no caso de Lucho González – têem que ser dois, um só não chega! – Valeri e Beluschi. Apesar de tudo, as indicações que a equipa deu até ao momento são positivas.

Quanto ao resto, há que destacar o Vitória de Setúbal do sinistro Azenha – a mais recente coqueluche da imprensa desportiva – que se assume, simultaneamente (!) seguidor de Sachi e Van Gaal e que assim que chegou ao Bonfim tratou de levar a cabo uma autêntica revolução, fazendo mesmo as malas a históricos do clube como Ricardo Chaves, Auri e outros. É certo que o F.C. Porto dará a ajuda já tradicional ao clube do Sado, mas mesmo assim, a curiosidade é grande relativamente a este projecto desportivo.

Outro menino bonito da imprensa, Domingos Paciência, vai lançando umas sobranceiras considerações acerca da época passada do seu actual clube. Apetece perguntar, mas quem é Domingos Paciência (o treinador)? E ficar por aqui...

Lá fora, para além da megalomania galáctica que se vive aqui ao lado, há que realçar a depauperação do Inter. A verdade é que se se confirmar a perda da sua jóia da coroa (Ibrahimovic), Mourinho terá mesmo que se virar para o esoterismo para poder competir com os crónicos candidatos a ganhar a Liga dos Campeões.

Monday, July 06, 2009

Leituras


O Templo do Povo

Um dos grandes mistérios da humanidade reside no entendimento da noção de idolatria por parte das massas em redor de um indivíduo. São vários os exemplos do passado a iluminar esta realidade e, embora os mais atentos estejam cientes dos constantes sinais de despotismo que os tiranos, desde muito cedo, alimentam, nem por isso a história se reescreve com novos capítulos nem com diferentes percepções dos indícios que perigosamente adivinham o futuro. É-me difícil assistir à cegueira generalizada das massas em função do seu líder tirano sem que, de dentro de mim, avancem aos tropeções cães raivosos em busca de um motivo, um só motivo que me faça explicar e entender a razão pela qual as pessoas, com ou sem olhos, sofrem de miopia no cérebro.
Assistindo ao discurso formatado de Vieira, na tomada de posse de mais um mandato no trono benfiquista, lembrei-me de um tal de Jim Jones, o homem que levou ao suicídio colectivo, em delírio e de livre vontade, um milhar de pessoas. Pessoas como nós, crentes e descrentes no mundo, pais, filhos, primos como nós, uns aos outros atirados, gente. O cerebelo engaiolado de milhares de pessoas na ideia de um homem e das suas loucuras.
Jim Jones convenceu o povo de que o caminho era ele que o conhecia e, com isso, permitiu-se todos os delírios que o mundo ainda estava para adivinhar: violência mental, violação física, humilhação, aniquilamento, desprezo e homicídio - tudo de forma perfeitamente natural e quase sem contestação (alguns, no fim da crença, desconfiaram do homem mas já seria demasiado tarde). Gente como nós. Pessoas como nós, que religiosamente seguiram aquele homem até à própria morte, desterrados na Guiana, entregues ao cultivo dos alimentos e ao desaparecimento da consciência e do pensamento próprio. No fim, devotados à causa, devotaram-se à morte e entregaram-se-lhe livres, inteiros e preenchidos por, com aquele gesto, seguirem viagem para o lado de lá com o seu líder. Entender isto? Não sei. Explicá-lo? Menos ainda. Só a certeza da incompreensão por tamanho delírio colectivo.
Ao ver o pavilhão da Luz repleto de benfiquistas em louca e desenfreada euforia, gritando "O Benfica é nosso até morrer", idolatrando em êxtase o tirano, não pude, não consegui, deixar de ver naqueles que gritavam a mesma alma de pedra daqueles que um dia foram ao encontro da sua própria demência, cruzando o canal do Panamá.
Ontem, 91,7 por cento dos benfiquistas votantes entregaram o Benfica a quem o desprezou, o humilhou e o desrespeitou. Ofereceram ao líder, de livre e espontânea vontade, a crença na obra feita - a obra dos terceiros e quartos lugares no campeonato (haverá tetra para a medalha de bronze?), a obra da mentira, do enxovalho, da contradição, da falsidade, da injustiça, da desvalorização do que é, ou do que foi?, este clube.
E o líder subiu ao palanque. Não riu porque os líderes não riem, não precisam. Leu o texto que o súbdito lhe escreveu e, ditas as banalidades que o povo queria ouvir, abandonou o local em ombros (mas cuidado com as intimidades), seguro de si e do seu próprio ego. Estava concluída a sessão.



Ricardo, O Templo do Povo, Ontem vi-te no Estádio da Luz