Monday, July 10, 2006

Itália campeã do mundo


Em 1982, o futebol italiano vivia um escândalo relacionado com apostas ilegais, a selecção chegou ao mundial disputado em Espanha e venceu-o, ultrapassando as poderosas selecções do Brasil e da Argentina, agora 24 anos depois, temos o “calciocaos”, e de novo a Itália campeã do mundo.

Sobre a Itália já escrevi algumas coisas, e o jogo de ontem pouco ou nada trouxe de novidade em relação à sua forma de jogar - apenas a primeira repetição de um onze neste mundial por parte de Lippi - em termos de sistema táctico, algo entre o 4x2x3x1 e o 4x4x1x1. A França fiel ao seu sistema (4x2x3x1) e ao seu onze (poucas vezes mudou ao longo dos vários jogos) até foi a equipa que parecia estar mais próxima da vitória, sobretudo ao longo da segunda parte e do prolongamento.

Ambas as equipas se apresentaram extremamente bem organizadas em termos defensivos, nesse sentido a França utilizou uma zona pressionante que procurava bloquear a construção do processo ofensivo da equipa italiana, e de facto, foi uma estratégia eficaz, sobretudo na segunda parte do jogo, em que os italianos raramente conseguiram libertar-se dessa pressão e consequentemente não conseguiam iniciar as transições ofensivas, daí que a estratégia passasse pelos passes longos para Iaquinta e Luca Toni, no entanto os defesas franceses estiveram sempre em grande nível. A Itália defendia à zona, mas mais em contenção, não pressionando em zonas tão adiantadas do terreno de jogo, ao contrário da equipa francesa. Ainda assim, não obstante os maiores sustos terem sido vividos pela defesa italiana, o empate subsistiu até ao final. O resto já se sabe, desta vez os italianos não se deram mal com as grandes penalidades e levam o troféu pela quarta vez, passando a ser o segundo país com maior número de mundiais ganhos, logo atrás do Brasil.

Wednesday, July 05, 2006

Itália venceu o "catenaccio" alemão!


As equipas Italianas e a selecção Italiana nunca se livram do rótulo de “defensivistas”, equipas cínicas e outras coisas afins. Na minha opinião esses rótulos não passam de uma grande falácia, como aliás já tive oportunidade de referir.

O jogo da meia-final frente à selecção Alemã confirmou isso mesmo de forma bastante clara.
Apesar do rigor táctico foi um jogo agradável de seguir, com momentos de futebol bastante interessantes e emocionantes.

A Itália tem alterado o seu sistema táctico ao longo do torneio (4x3x1x2; 4x3x2x1; 4x4x1x1). Frente à Alemanha, a dinâmica da equipa fazia com que, sem bola, se aproximasse de um 4x4x1x1, e com bola de um 4x2x3x1. Na primeira linha do meio campo, mais recuados, Gattuso e Pilro, o primeiro com tarefas de recuperação de bolas, o segundo acumulava essas tarefas com a missão de iniciar os processos ofensivos. Perrota a médio ala esquerdo e Camoranesi no lado contrário tinham a missão de fechar os corredores a defender, e a apoiar o ataque quando a equipa tinha a bola alternando e em alguns casos realizando permutas e compensações com os defesas laterais Zambrotta na direita e Grosso na esquerda. Na frente, Totti a apoiar o ponta de lança Luca Toni. No entanto, apesar de algumas alterações em termos de sistema, a equipa manteve o seu modelo de jogo que assenta em termos gerais, na segurança defensiva (defesa à zona) e no ataque rápido ou contra-ataque.

A Alemanha alterou um pouco a sua forma de jogar, substituindo um médio ala rápido e com elevado pendor ofensivo, por um médio mais de contenção (Borowski). Defendendo também à zona, foi uma equipa que jogou sempre de forma a privilegiar mais a segurança defensiva. Foi raro ver a sua equipa desequilibrada no seu sector mais recuado, deixando lá na frente a dupla de sucesso neste mundial - Klose-Podolski - bastante desapoiada aquando dos contra-ataques, nem os laterais desceram tanto nos seus corredores, como até aqui haviam feito. Sobretudo a partir da segunda parte, foi sempre a Itália que construiu as melhores jogadas e que procurou mais a obtenção do golo. Ambas as equipas, defendiam com muitos jogadores, constituindo duas linhas muito próximas uma da outra à frente da sua grande área, nunca se perderam as referências posicionais nesse sector, no entanto, quando ganhava a bola, a Itália fazia-a circular com muito muita eficiência e chegava com maior facilidade à área contrária. É certo que a capacidade técnica de jogadores como Pilro (um nº 10 convertido a médio defensivo), Perrota e outros também fez a diferença.

O seleccionador alemão ainda lançou dois jogadores mais rápidos para as alas (odonkor e o até então indiscutível Schweinsteiger), a Alemanha ainda acelerou o jogo no seu meio campo, mas os defesas italianos e também Buffon mostraram a sua classe. Para além disso, o apelidado “defensivista” Marcelo Lippi, lançou Del Piero, Iaquinta e Gillardino, mantendo Totti no seu apoio, não alterou muito estruturalmente, mas sendo todos avançados acabou por dar uma dinâmica bastante ofensiva, sendo que a equipa no seu processo ofensivo quase desenhava um 4x3x3.

O resto já se sabe, excelente execução de Pilro no passe para o excelente golo de Grosso, e já com a Alemanha totalmente desequilibrada defensivamente, um contra-ataque puro, com primordial finalização de Del Piero.

Monday, July 03, 2006

Para além do espírito de grupo


Ainda não tinha escrito nada sobre a selecção de Portugal, apenas pelo simples facto de que Luís Freitas Lobo, o analista de serviço no programa da RTP1 "Alemanha 2006", o ter vindo a fazer bem. Muito melhor que eu!

Contudo, queria apenas deixar uma ideia que julgo não ter tido ainda o devido e merecido destaque.

Para além do espírito de grupo e capacidade de sacrifício da equipa que têm sido aspectos muito referidos pela generalidade dos comentadores, e que são de facto evidências bem destacadas, penso que a equipa portuguesa está muito mais madura sob o ponto de vista táctico e também emocional. Sabe quando deve acelerar ou desacelerar o jogo, sabe controlar um jogo, mesmo sem o dominar, só ataca quando entende haver condições para isso, sabe quando deve pressionar mais em cima ou quando deve ficar mais expectante, não corre riscos desnecessários. O jogo com o México foi um bom exemplo, com os jogadores a trocarem a bola no meio campo, sem devaneios ofensivos. Nesse jogo ao ver a nossa equipa jogar lembrei-me do futebol italiano (sei que não é muito do agrado da maioria dos adeptos, mas o futebol moderno está cada vez mais "italianizado", não quero dizer com isto que seja defensivo ao contrário do que muitos dizem...).