Wednesday, April 29, 2009

Meias-finais da Champions League - Preâmbulo

Parece existir alguma tendência crítica nas análises "profissionais" que são feitas à forma como o Chelsea jogou ontem em Camp Nou. Os londrinos estacionaram um autocarro de dois andares na sua grande área e apenas procuraram impedir (com sucesso, diga-se) o desenvolvimento do habitual carrossel catalão. Contudo, não deveria haver crítica nenhuma. A época passada, o por cá tão elogiado, Manchester United (de Ronaldo e na altura ainda de Queiroz) utilizou exactamente a mesma estratégia em Camp Nou e não me lembro de ler ou ouvir grandes críticas, pelo contrário, foi prova de maturidade e sabedoria táctica. Já agora, é a isto que chamam de maravilhoso futebol inglês?

Thursday, April 16, 2009

Belenenses - Declínio de um histórico *

Se falarmos com um estrangeiro sobre o futebol lisboeta, e se o nosso interlocutor for minimamente informado acerca do desporto-rei, seguramente que os nomes de Benfica e Sporting serão pronunciados, e pouco mais. No entanto, lá para os lados de Belém – onde, por acaso, o futebol até recebeu o seu primeiro forte impulso organizativo – habita um clube que também já fez parte da elite alfacinha. Um clube que chegou a ser campeão nacional, que foi orientado por grandes treinadores, como Fernando Riera, Helenio Herrera ou Otto Glória, que teve jogadores lendários, como Matateu, Vicente e Pepe, mas que, apesar do peso histórico, tem vindo a reduzir o seu estatuto no futebol português.

O enfraquecimento gradual do Clube Futebol Os Belenenses deve-se, em boa parte, à complacência e má politica dos sucessivos dirigentes que têm passado pelo emblema do Restelo. O clube parece carregar uma cruz, que ironicamente faz parte do seu emblema.

Esta época é um exemplo claro destas dificuldades, com a equipa a agonizar no fundo da tabela classificativa. E o mais paradoxal é o facto de ter vindo de duas temporadas extraordinárias, onde, inclusive, regressou às competições europeias e marcou presença numa final da Taça de Portugal. O problema é que este ano, para além do abandono do treinador Jorge Jesus, saíram do plantel 19 jogadores, tendo entrado 17 novos atletas, quase todos oriundos do futebol brasileiro – muitos vindos de divisões secundárias, outros das reservas de alguns clubes do Brasileirão.

Face a esta profunda transformação, o futebol da equipa afigurou-se pouco consistente e provocou os maus resultados sofridos nas primeiras jornadas. O treinador brasileiro Casemiro Mior acabou por ser dispensado, sem grande surpresa, tendo entrado para o seu lugar, o já experimentado nestas lides, Jaime Pacheco. O treinador nortenho de imediato começou a trabalhar na construção de uma equipa à sua imagem, recorrendo ao mercado de Inverno para realizar os necessários ajustes nesse sentido. O problema é que enquanto este complicado empreendimento foi ganhando forma, o campeonato não parou, e com isso o clube azul foi perdendo terreno até acabar por se fixar nas sufocantes posições do fundo da tabela. Nesta altura, o espectro da quarta descida de divisão da sua história é uma constante no dia-a-dia do clube.

Princípio da ruína

A queda do Belenenses tem início ainda na década de 80, com a primeira descida de divisão na história do clube. O desastre ocorreu na temporada 81/82 durante a qual, a equipa conheceu sete treinadores, entre os quais Artur Jorge e Nelo Vingada. O inferno da segunda divisão durou duas épocas.

O abandonado campo das Salésias, antiga casa do Belenenses, assemelha-se à perda de importância que o clube tem vindo a sofrer no futebol nacional.


A seguir a esta tempestade, porém, veio uma agradável bonança. O clube reergueu-se e atingiu boas classificações, como um brilhante 3.º lugar em 87/88. Foram também atingidas duas finais do Jamor, sendo que numa das vezes, na época 88/89, o troféu foi mesmo conquistado pelos azuis – o último grande troféu oficial conquistado (vitória frente ao Benfica por 2-1). Também nesse período, as noites europeias voltaram a animar o Estádio do Restelo, com particular destaque para uma eliminatória com o Barcelona que terá promovido, talvez, a última grande enchente. Neste Belenenses, orientado por Marinho Peres, sobressaíam jogadores como Mladenov, Sobrinho, José António, Chiquinho Conde, entre outros. Findo este período, porém, o clube voltaria a cair nas profundezas da Liga de Honra em mais duas ocasiões (90/91 e 97/98). O regresso às competições europeias e a uma final da Taça de Portugal aconteceu apenas recentemente, com Jorge Jesus. Pelo meio houve uma época (95/96) em que, pela mão de João Alves – com jogadores como Ivkovic, Fernando Mendes, Tulipa, Giovanella, Mauro Airez, entre outros – os azuis mantiveram, com o V. Guimarães, uma luta árdua por um lugar de acesso à Europa. Levaram a melhor os homens do Minho, contudo essa equipa garantiu um lugar no cantinho das boas memórias dos adeptos belenenses.

Na actualidade os adeptos do clube continuam a reclamar o estatuto de quarto grande do futebol português, mas apenas a história consegue legitimar tal posto, já que no campo esse estatuto tem sido disputado de forma mais justificada por V. Guimarães, Braga e Boavista (antes da recente queda ao segundo escalão).

O declínio competitivo do futebol do Belenenses, associado ao amadorismo e aventureirismo de muitas das suas direcções, e também às questões relacionadas com o envelhecimento demográfico da população lisboeta, tem levado ao contínuo afastamento dos adeptos do clube – algo que é bem visível de 15 em 15 dias nas despidas bancadas do Estádio do Restelo. O clube de Belém corre o risco de se transformar num resíduo simbólico e histórico, tal como o seu primeiro campo de futebol – as abandonadas e degradadas Salésias.

* Texto publicado em

Monday, April 13, 2009

Corinthians - Uma proposta táctica diferente para conquistar o Paulistão


Foi ontem no Pacaembu que o Corinthians venceu o arqui-rival e todo-poderoso São Paulo FC. Estava em causa o avanço até à final do "Paulistão". Agora, ao "timão", basta um empate daqui a uma semana no Morumbi para atingir esse objectivo. O jogo teve contornos dramáticos para o S. Paulo, já que o golo que deu a vitória ao Corinthians foi obtido no último minuto do tempo de descontos. Após um período de intensa pressão corinthiana, sobretudo depois de se encontrarem em superioridade numérica, Cristian, arrancou e desferiu um potente remate que só fez parar a bola no fundo da baliza de Rogério Ceni.

O jogo de ontem cumpriu com uma das regras basilares do actual futebol brasileiro – muita luta a meio campo, alicerçada na rigidez das marcações individuais. No entanto, do lado do "timão" havia qualquer coisa de pouco habitual no futebol brasileiro dos três “zagueiros”. Mano Menezes estruturou – à semelhança do que tem feito noutros jogos – a sua equipa num sistema de 4-3-3 que, pressionando alto, obrigou o tradicional 3-5-2 do S. Paulo a transformar-se num expectante 5-3-2, pois a permanente procura da profundidade pelos corredores laterais, através da velocidade de Dentinho e Jorge Henrique, obrigava os laterais são-paulinos a terem mais preocupações defensivas do que seria habitual. A equipa do Parque São Jorge teve assim um domínio claro do jogo face a um S. Paulo que ficava assim condicionado a procurar surpreender em contra-ataque ou através de bolas paradas.
É uma proposta táctica de Mano Menezes, que difere dos dominantes 3-5-2 ou 4-4-2 com dois “meias” (4-2-2-2) e que, como tal, junta à recuperação de Ronaldo o “fenómeno”, esta outra particularidade de interesse aos jogos do popular clube brasileiro.

Tuesday, April 07, 2009

Breves notas sobre o Manchester United - FC Porto

1) Exibição personalizada do FC Porto em Old Trafford.

2) Fernando foi, do ponto de vista individual, a unidade em evidente destaque pela positiva.

3) O mais recente ídolo da imprensa lusa conseguiu uma soma de disparates absolutamente notável. Quando mais deu nas vistas, foi quando manifestou a sua patética tendência mártir, que nestes palcos não parece ser muito bem sucedida...

4) Ferguson, agora na recta final da sua carreira, optou por dar um valente pontapé na filosofia que sempre defendeu e que pôs em prática no clube, para se render ao pragmatismo, resultadismo, defensivismo, ou será mesmo cobardia? Herança de Queiroz?

Wednesday, April 01, 2009

ANUÁRIO FUTEBOL MUNDIAL 2008/09 (Rui Malheiro, QuidNovi, 2009).



O futebol português visto à lupa: Liga Sagres, Liga Vitalis, II Divisão, Taça de Portugal, Taça da Liga, Liga Intercalar e Supertaça. A actividade das Selecções nacionais: dos sub-15 aos AA. Os campeonatos de mais de 100 países. Tudo sobre o futebol inglês, italiano, espanhol, francês, alemão, brasileiro e argentino. As provas internacionais de clubes e selecções. O perfil de cerca de 1000 jogadores de todo o Mundo ao longo de 816 páginas.


"Estou feliz por ver um sonho realizado e contente por uma obra tão rica aparecer em Portugal. É um documento fantástico, de enorme valor, que resulta de uma pesquisa exaustiva e que demonstra a dedicação ao futebol por parte do autor. Trata-se de uma obra que tem um largo campo de interesse. Para mim, como treinador, é uma ferramenta de consulta extremamente útil, como também não tenho dúvidas de que o será para os diversos agentes desportivos - clubes, treinadores, jogadores, jornalistas e adeptos -, que passam a ter em mãos um vasto documento com informação organizada sobre os intervenientes dos principais campeonatos".

Paulo Sousa


"À estatística, comum aos dois almanaques internacionais mais conhecidos, decidimos juntar a táctica, a análise e a prospecção de jogadores, com o objectivo de enriquecer a obra, conferindo-lhe um carácter único".

Rui Malheiro



Decorreu ontem a cerimónia de lançamento desta magnífica obra e eu tive o privilégio de ter estado presente. Para além de passar a ter este importante documento na minha estante, tive a oportunidade de conhecer pessoalmente o seu autor - alguém por quem já nutria particular admiração, por via de muitos dos seus trabalhos, disponíveis online, tais como o mítico terceiro anel e o playmaker.
Voltei também a discutir futebol com o Ricardo do Catenaccio. Conheci o Nuno Francisco, director da revista 'Futebolista', o João Gonçalves, do Encarnado e Branco e o jornalista José Marinho, tendo tido também a oportunidade de com eles trocar umas ideias e opiniões sobre este assunto que a todos nos anima. Foi, em suma, um momento muito bem passado.
O Anuário, pelo que já pude observar, é um documento de extraordinária importância - imprescindível para quem, de alguma forma, está ligado ao futebol. Por exemplo, para as coisas que eu por aqui vou escrevendo, o Anuário vai, seguramente, ser consulta recorrente.
Resta-me, mais uma vez, endereçar os meus parabéns ao autor Rui Malheiro, fazendo votos para que continue a aplicar todo o seu saber na elaboração dos próximos anuários e de outros contributos que queira dar ao futebol, pois é das pessoas mais qualificadas para o fazer.