O “fenómeno Mourinho” tem tido as mais diversas consequências, muitas delas para além das que decorrem estritamente do trabalho do treinador português, com tradução directa nos excelentes resultados conquistados.
Apesar de estar a iniciar a sua terceira época em Londres, o seu nome continua a fazer ressonância por cá. Multiplicaram-se os livros sobre o treinador – uns mais ao estilo de uma qualquer revista people, outros de teor mais técnico, onde as suas ideias foram esmiuçadas até à exaustão.
Ao nível da classe profissional, também as consequências foram e ainda têm sido por demais evidentes. Apressaram-se uns quantos académicos e recém-licenciados, que emergidos do nada, desataram a reproduzir um estilo alheio, mas um estilo que era acima de tudo uma referência.
Os outros, os que já cá andavam há uns tempos, foram sendo esquecidos e muitos deles procuraram oportunidades de emprego em outras paragens, outros houve que pura e simplesmente caíram mesmo no esquecimento e até mudaram de actividade, após terem visto todo o seu anterior trabalho ser deitado no lixo em detrimento de novos e modernos métodos de trabalho.
Tudo o que Mourinho, do lado de lá do canal da mancha vai dizendo, são verdades absolutas. A sua opinião veiculada semanalmente na revista Dez do jornal Record, era sistematicamente parafraseada por muitos…
Ao nível do comentário e análise, mudou-se a terminologia, a linguagem e os conceitos.
Também foi notório, por parte dos dirigentes dos clubes, o esforço em desencantar um novo exemplar, tendo-se sucedido em catadupa as várias tentativas frustradas…
Para não variar, seja no futebol, seja em outros quadrantes da vida social portuguesa, somos o povo do oito ou do oitenta, onde o meio-termo continua a ser algo intangível.
É evidente que muitos dos treinadores enquadrados naquilo que se convencionou chamar de “velha guarda” ou da “velha escola” também terão dado um contributo para este estado de coisas, pelo facto de não terem procurado evoluir no desempenho do seu trabalho, seja por negligência, ou por teimosia e prepotência que os tenha feito olhar de soslaio para o trabalho de novos profissionais. No entanto, também será exagerado pensar-se que Mourinho e uma nova geração de treinadores que emerge ao mesmo tempo que ele sejam os detentores dos melhores métodos de trabalho.
Actualmente existem dois treinadores que se encontram no auge das boas graças da opinião pública em geral, curiosamente, cada um deles enquadrado nas duas categorias anteriormente referidas: Carlos Carvalhal, o jovem académico e Jesualdo Ferreira, também académico, mas com carreira já longa no futebol português.
Não pretendendo realizar grandes análises aos respectivos trabalhos e desempenhos dos dois treinadores e nem querendo, de forma alguma, pôr em causa a sua qualidade, penso, no entanto, que seria interessante olhar para ambos com base nos mesmos critérios que muitos utilizam para avaliar o desempenho de outros profissionais do treino.
Assim sendo, Jesualdo Ferreira, agora endeusado, foi em tempos um treinador olhado – sobretudo após ter substituído Toni no cargo de treinador principal no Benfica - com muita desconfiança. Antes disso, passagens discretas por Académica, Estrela da Amadora, Far Rabat (Marrocos), Alverca e selecção nacional de esperanças. As duas últimas épocas em Braga – iniciadas com imensa contestação – foram de facto muito bem sucedidas, no entanto, em termos de resultados práticos, foram alcançadas duas qualificações para a taça Uefa.
Quanto a Carlos Carvalhal, conta no seu currículo com uma final da taça ao serviço do Leixões, que na altura disputava a liga de Honra e uma passagem – com grandes expectativas criadas - mal sucedida pelo Beleneneses.
Mais uma vez, volto a referir que não quero, de modo algum, pôr em causa a qualidade e o mérito destes treinadores, apenas deixo a questão: será que o endeusamento deles se justifica, sobretudo quando comparado com a diabolização de outros?
queridas!(*)...mudei de casa
14 years ago
1 comment:
Por um erro de comunicação, os últimos dias não correram nada bem ao treinador do FC Porto, Jesualdo Ferreira. Primeiro, estimulou os jogadores da sua antiga equipa ao dizer que em Braga era "para ganhar". Depois de confirmada a primeira derrota dos "dragões" no campeonato, ficámos a saber que, afinal, "a derrota não é uma tragédia". O problema é que, depois de ter dito que era "para ganhar", a derrota assumiu mesmo contornos de "tragédia". A não ser que o prof. Jesualdo esteja cada vez mais parecido com Fernando Santos e a sua excelente capacidade para relativizar tragédias...
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