Thursday, December 27, 2007

Bwin Liga: primeiro balanço

Cumpridas que estão catorze jornadas da Bwin liga, será altura de partilhar algumas reflexões.
Relativamente aos três grandes, pouco há a dizer, na medida em que são escalpelizados diariamente pela imprensa e não só...

O FC Porto é líder incontestável, mercê de uma equipa totalmente rotinada, um onze que quase joga de olhos fechados. Adriaanse deixou uma boa herança a Jesualdo Ferreira, e isso traduz-se naturalmente num avanço significativo relativamente aos seus opositores directos, que mexeram na estrutura das respectivas equipas - sendo o Benfica um caso flagrante.
Jesualdo apenas puxou uma peça do meio campo para a defesa no tabuleiro do dragão, porque quanto ao resto, não se vislumbram grandes diferenças, sobretudo no que respeita às opções para titulares do onze portista (O problema é quando falha uma das peças do onze titular...).
Até Tarik, inicialmente proscrito pelo Professor tem a assinatura do excêntrico treinador holandês.

No que respeita ao Benfica, já muito foi escrito. Plantel renovado, e refira-se, tardiamente; substituição de treinador já com a época em curso...
Não se poderia esperar muito dos encarnados. José António Camacho tem esta época para construir uma equipa. E tem, na minha opinião, matéria prima para o fazer.

O Sporting após um início de época prometedor baixou o seu rendimento e os maus resultados começaram a aparecer. Apareceram também as diversas análises acerca do fenómeno, umas a incidirem na pouco profícua política desportiva, nomeadamente no que se refere a algumas contratações duvidosas, outras houve, que incidiram fundamentalmente em questões técnicas e tácticas.
Na minha opinião, nem umas nem outras explicam a crise leonina. O que se passa no Sporting é uma crise de balneário. Os sinais estão aí, só quem não quiser ver.

Para além dos grandes, há que referir as excelentes campanhas dos Vitórias, ambos sem terem plantéis com nomes sonantes, têm conseguido estar muito para além das mais optimistas expectativas.

Destaco também o Belenenses, que me parece ser uma equipa com uma excelente organização em campo. Do ponto de vista táctico, o Belenenses é de facto um caso interessante. Creio que com um pouco mais de qualidade (leia-se capacidade de finalização) na sua linha avançada, a equipa do Restelo poderia dar mais que falar.

Monday, December 24, 2007

Tuesday, December 18, 2007

O melhor do mundo, para mim.

Sempre achei estas atribuições do "melhor jogador do mundo" uma perfeita tolice. O futebol é um desporto colectivo. Não faz qualquer sentido. Um jogador por muito talentoso e influente que seja numa equipa, estará sempre condicionado por uma infinidade de variáveis dessa índole colectiva.

Nesse colectivo que é uma equipa de futebol, existem posições e funções específicas e distintas, e normalmente nestas atribuições há como que uma implícita e injustificável superioridade moral dos avançados ou dos médios criativos face aos defesas, guarda-redes ou médios defensivos. Há excepções, ainda o ano passado houve uma, que por sinal bastante alarido provocou na prosa de muitos analistas…

Mas está bem, aceitemos a coisa. Podemos considerar, que de facto as individualidades que compõem essa ordem colectiva, muitas vezes são de tal forma influentes e geniais que podem mesmo sobrepor-se a ela, proporcionando-nos aqueles jogos que por vezes assumimos terem sido resolvidos por um jogador (o que será sempre um exagero).

Outro factor que pode levar à aceitação do evento é o facto de que a atribuição resulta do sufrágio de um universo qualificado e supostamente competente. Não se entendem por isso as afirmações que apontam a existência de critérios relacionados com os desempenhos / resultados das equipas a que pertencem os jogadores nomeados, o que nos remete para a evidência referida no primeiro parágrafo. Esses critérios até poderão existir, mas serão sempre subjectivos, e é da soma dessas subjectividades todas que surge então o FIFA player of the year. E já que é de subjectividade que estamos a falar, aproveito para assumir quem é o jogador que para mim é o melhor do mundo na actualidade. E não o vou fazer recorrendo a estatísticas de golos, assistências, ou títulos conquistados, muito menos com recurso a argumentos científicos relativos a capacidades físicas, técnicas ou tácticas. A minha escolha centra-se em algo mais simples. A emoção, a satisfação própria de quem aprecia um espectáculo, a estética se preferirem. Tudo aquilo que o jogo provoca a quem gosta tanto dele. Por isso para mim, o melhor jogador do mundo da actualidade é inequivocamente, Lionel Messi.

Monday, December 17, 2007

A muito lenta construção do Benfica...

A incontestável vitória do Belenenses sobre o Benfica não me surpreendeu.
Ainda recentemente, após ouvir inúmeras dissertações acerca do sistema e modelos de jogo do Sporting, no programa Pontapé de saída, não resisti a enviar esta mensagem para o dito programa: Custa-me ver semanalmente, no melhor programa sobre futebol da televisão nacional, ouvir tanta dissertação acerca do losango do Sporting. Porque não uma palavrinha para uma equipa que joga de forma muito boa nesse sistema. A equipa que melhor aplica o método da defesa zonal em Portugal e exímia a aplicar a "off-side trap". Falo naturalmente do Belenenses.


Sobre o Belenenses, de forma sucinta, está tudo dito.

Já falar sobre o Benfica é algo que se afigura ligeiramente mais complexo. A verdade, dura e crua, é que este Benfica, após quatro meses de Camacho, ainda não apresenta uma ideia clara de jogo. Não tem modelo, nem dinâmica. O que vai disfarçando esta situação são as “muchas ganas” que o treinador espanhol certamente incute nos treinos e no balneário, aliada à qualidade individual dos jogadores. De facto, em termos de atitude, os encarnados têm feito alguns jogos que têm que ser considerados como muito satisfatórios, no entanto, uma equipa de futebol não se pode esgotar nessa única variável.

Era expectável e até compreensível que esta época não viesse a ser recheada de sucessos, tendo em conta os disparates ocorridos durante a preparação da mesma. Seria de esperar, tal como o treinador José António Camacho inúmeras vezes assumiu, que esta seria uma época para construção de uma equipa. No entanto, julgo que neste momento, já era altura dessa equipa apresentar um modelo de jogo com alguma consistência...

Sunday, December 16, 2007

Afinal, o que é a mística do Benfica?

É preciso sair do país para enxergar o prestígio e o tamanhão do Benfica em todo o mundo. Estive três anos em França, no Marselha, joguei num estádio fantástico, o Vélodrome, convivi com grandes jogadores como Pain e Waddle, mas o Benfica estava sempre no meu pensamento. Os meus companheiros de equiopa não percebiam o meu entusiasmo pelo clube, já que sabiam pouco do futebol português, embora reconhecendo o tremendo historial do Benfica.

Durante os primeiros tempos tive de aturar os comentários de Papin, logo desde o início, sempre que jogávamos em casa. Uns dias antes de cada jogo, o Papin chegava para mim e me dizia: "Mozer, vais ver o que é um estádio cheio e um ambiente terrível." Terrível para os outros. Não sei se o Papin fazia isso para me intimidar, já que era ainda novo no clube e não percebia muito daquela conversa. Mas para mim, sempre pensava: "Este cara precisava de jogar no Maracanã ou no estádio da Luz, cheios." Era o que eu pensava.

Até que, na taça dos Campeões, nas meias-finais, o Benfica calhou no caminho do Marselha. Fiquei, ao início, desgostoso, porque ia defrontar o meu Benfica, clube que os meus companehiros sabiam que eu adorava,. Me lembro do sauzée, o meu zagueiro do lado, me ter perguntado:"você vai estar em condições de jogar contra o Benfica?" Aí, senti que beliscavam o meu profissionalismo. Nos dois jogos, joguei a duzentos por cento. Depois do primeiro jogo, em Marselha, uns dias antes de jogarmos na Luz, virei para o Papin e lhe perguntei: " Papin, você quer mesmo ver o que é um estádio cheio, com 120 mil a gritar todos para o mesmo lado?" Engraçada, a reacção do Papin: "Você está me querendo meter medo, Mozer?" Não estava não e por isso lhe disse para esperar e ver. E já agora tremer. Pois bem, chegou o dia, chegámos no estádio da Luz e fomos indo para os balneários. Muitos risos, muita convicção de que íamos jogar a final da Copa dos Campeões. Lembro até que Tapie disse aos jornalistas franceses que lhe podiam chamar Bernardette se o Marselha perdesse a eliminatória.

Antes de subirmos ao relvado, para o aquecimento, Papin ainda troçou de mim, dizendo que estava já "tremendo de medo". E ria-se bastante.

Os jogadores foram saindo do balneário e eu atrasei um pouco, porque estava colocando uma ligadura no tornozelo. Quando cheguei perto do túnel de acesso ao estádio, começo a ver os meus companheiros, completamente assustados e todos do lado de dentro, não querendo entrar. Só depois é que percebi que, nessa altura, o Eusébio foi chamado ao relvado para receber uma homenagem e foi aí que o estádio quase vinha abaixo. Logo no momento em que os meus companheiros do Marselha se preparavam para entrar. Claro que voltaram atrás, assustados e me perguntando "o que era aquilo?". Aquilo, respondi eu, é o inferno da Luz. Aí todos começam a me dizer para ser eu o primeiro a avançar, subi as escadas, entrei no relvado, não fui mal recebido e quando olhei para trás, estava sozinho. Espreitando, à saída da escadaria, estavam alguns companheiros do Marselha, ainda com um olhar de medo e só nessa altura foram começando a entrar. No regresso às cabinas, perguntei ao Papin: "Já sabe agora o que é um estádio cheio e um grande ambiente?". A resposta nunca mais a esqueci: "Mozer, nunca vi uma coisa destas. Tudo isto é incrível. Sempre tiveste razão, o Benfica é enorme." Naquela noite, o Marselha perdeu, fiquei triste mas senti orgulho pelo Benfica. E já agora, naquele balneário, fui o único a ter uma vitória. Foi uma vitória moral, sobre aqueles que não acreditavam na grandeza do Benfica.

Mozer

Retirado de, Pela Mística dentro, José Marinho, Prime Books

Monday, December 10, 2007

Itália: viveiro de pontas de lança


São aqueles de quem se espera a concretização da emoção máxima do jogo. Os adeptos desesperam por ter um destes jogadores, que garantam uma eficácia finalizadora na ordem dos 15/20 golos por época. Os treinadores afirmam que todas as grandes equipas têm um e que a sua eficácia se traduz em valores de mercado muito inflacionados.

Por muito que nos deslumbremos com as correrias de um extremo ou com a criatividade de um nº 10, o homem que nos faz gritar a plenos pulmões é o ponta de lança.

Há vários tipos de ponta de lança: os ágeis, velozes e tecnicistas, que por norma garantem uma maior mobilidade no sector mais avançado da equipa, normalmente não são jogadores de grande estampa física. Dentro deste tipo há aqueles que têm grande facilidade em aparecer nos espaços vazios e por tal assumem uma capacidade finalizadora acima da média, há outros que com as mesmas características não são tão exímios na concretização, pelo que se sentem mais confortáveis jogando com outro avançado ao seu lado, ou então movimentando-se nas suas costas.

Também existem os chamados pontas de lança “posicionais”, normalmente de estampa física considerável, fortes nos lances divididos, no jogo aéreo e com grande capacidade de choque. Geralmente jogam como pivot, de costas para a baliza, segurando a bola e permitindo assim a subida da equipa.
E há também aqueles que conseguem ser um misto disto tudo.

O tipo de ponta de lança que uma equipa possui é factor determinante da forma de jogar da mesma. Por norma, um jogador móvel assentará melhor numa equipa cujo método ofensivo seja o ataque rápido e/ou contra-ataque. Por outro lado, um jogador mais posicional, assentará melhor numa equipa que jogue em ataque organizado.

Há na Europa um enorme viveiro deste tipo de jogadores. Na série A italiana – curiosamente aquela onde todos dizem que só se joga à defesa - todas as equipas têm pelo menos um jogador destes.
Ficam os números, à 15ª jornada (apenas jogadores italianos):

Cristiano Doni (Atalanta): 12 jogos / 11 golos
Cláudio Belucci (Sampdoria): 12 / 8
Marco Borrielo (Génova): 12 / 7
Di Natale (Udinese): 12 / 6
Francesco Tavano (Livorno): 12 / 6
Vincenzo Iaquinta (Juventus): 11 / 6
Quagliarella (Udinese): 15 / 6
Maccarone (Siena): 14 / 5
Tommaso Rochi (Lazio): 15 / 5
Nicola Pozzi (Empoli): 10 / 5
Nicola Amoruso (Reggina): 13 / 5
E relembremo-nos que saíram esta época do calcio, os goleadores Luca Toni (16 golos na época passada); Riganó (19); Bianchi (18); Lucarelli (20)