Thursday, August 31, 2006

O mito do "catenaccio"


O futebol italiano não se livra do rótulo de “defensivista”, que foi e continua obstinadamente a ser colado ao seu futebol..
Ultrapassando a questão de se saber se, actualmente, a dicotomia do futebol defensivo/futebol ofensivo faz sentido, é incontornável reflectir sobre os rótulos permanentemente aplicados (por muitos) ao futebol italiano.

Importa recordar que o País onde foi inventado o catenaccio, foi o mesmo país que deu a conhecer ao mundo do futebol, a chamada “zona mista”, que tal como o nome indica, consistia num método defensivo que mesclava marcações á zona e marcações ao homem. Contudo o advento ainda mais significativo foi a “zona pressionante” de Arrigo Sachi.

É certo que o “catenaccio” era um sistema de jogo, enquanto que a “zona pressionante” era um método de jogo (defensivo), contudo, daí não se pode concluir a maior importância do primeiro face ao segundo, aliás, se se subscrever aquela ideia de que mais do que o sistema de jogo, é a dinâmica do mesmo (dada pelo modelo de jogo) que é realmente importante, então, é que não se pode mesmo subvalorizar o advento da “zona pressionante”.

A incorporação do pressing na “defesa à zona” consistia numa forma agressiva de marcar o espaço e o portador da bola, com o claro objectivo de, não apenas impedir o desenvolvimento da acção ofensiva contrária, mas também de recuperar a bola de forma rápida para poder iniciar o ataque.

A “zona pressionante” de Arrigo Sachi, implementada no seu A.C. Milan da década de 80, para além de um método defensivo, constituía, também, uma forma organizada de atacar. Uma equipa tem que ter um método para defender e outro para atacar, e de preferência, ambos devem ser compatíveis de forma a potenciarem a eficiência do jogo da equipa no seu todo, isto é, nas fases defensiva e ofensiva e respectivas transições entre as mesmas, o que constitui actualmente um dos grandes princípios de jogo das equipas de top actuais. No entanto, e apesar de quase nada restar dele nos campos de futebol mundiais, o futebol italiano continua a ser olhado, injustamente, apenas à luz da invenção do catenaccio.

Frase do dia

"...Em França não há um F.C. Porto, um Sporting ou um Benfica, mas o futebol francês supera o português..."

Laszlo Boloni

Tuesday, August 29, 2006

Sporting: o losango dinâmico


Como já referi, e sendo uma questão pacífica para quem gosta destas reflexões em torno das questões tácticas, o sistema 4x4x2 com o meio campo disposto em losango, é um sistema que, comparativamente a outros, exige alguns preceitos específicos.
Defendem alguns especialistas que este sistema de jogo é algo desequilibrado, sobretudo quando comparado com outros sistemas. Esse desequilíbrio justifica-se por via de uma distribuição pouco racional dos jogadores no terreno de jogo (mais em profundidade que em largura).

É evidente que, tal como em outros sistemas de jogo, há que considerar a dinâmica do sistema que é dada, quer pelo modelo de jogo que o treinador preconiza, quer pelas características dos jogadores.

Ao nível da dinâmica de jogo, existem algumas ideias que podem minimizar esse desequilíbrio teórico, desde logo, a dinâmica dos médios interiores, tornando-se imperioso que joguem em permanente transição defensiva/ofensiva. A questão da largura é bastante importante neste sistema, que não contempla jogadores posicionados, de base, nas alas. A lateralização do jogo fica assim entregue à referida dinâmica dos médios interiores, às subidas dos defesas laterais e também à mobilidade dos avançados.
Em suma, poder-se-á afirmar que existem princípios de jogo quase obrigatórios para este sistema: muita mobilidade; permanentes acções de permuta posicional e muita circulação de bola.

O Sporting é um exemplo em Portugal, de uma equipa que utiliza este sistema com reconhecida eficiência.
Para já, encontra-se rotinada neste sistema, visto que iniciará a terceira época consecutiva com a utilização do mesmo, apesar dos diferentes treinadores que o têm vindo a trabalhar. Outro aspecto a assinalar é o facto de possuir um plantel “à medida” do sistema de jogo. Não existem médios ala ou extremos no plantel, com excepção do Camaronês Douala, existindo sim, bastantes médios centro. Para o vértice recuado do losango, existem duas opções “naturais”: Custódio e Carlos Paredes. Para os restantes vértices, existe um lote considerável de jogadores que aí poderão encaixar: Carlos Martins; João Moutinho; Nani; Romagnoli; João Alves; Farnerud sendo que qualquer um deles poderá ocupar qualquer um dos vértices. Acrescente-se ainda, Paredes e Tello, que também poderão jogar na posição de médios interiores.
Da observação dos jogos de pré-época e do jogo contra o Boavista, pôde constatar-se a evidência dos princípios de jogo supra-mencionados.

Wednesday, August 23, 2006

Luz aos pés do maestro



O S.L. Benfica conseguiu a passagem à fase de grupos da Liga dos Campeões, juntando-se assim a F.C. Porto e Sporting.

A classe de Rui Costa foi uma constante até à saída aos 66 minutos para uma justa e estrondosa ovação dos milhares de adeptos que, maravilhados por tudo o que fez em campo, não deixaram de lhe prestar.

Alinhando no habitual sistema táctico dos últimos anos (4x2x3x1) e com o mesmo “onze” que conseguira empatar há 15 dias em Viena, o Benfica teve sempre o controlo e o domínio do jogo, e claro está, a “batuta” de Rui Costa que deliciou os adeptos do clube e do futebol em geral. O maestro “empurrou” a equipa através de passes curtos e longos, “rasgos” individuais e a sua extraordinária visão de jogo. A bola sempre que saía dos seus pés quase sempre desembocava numa jogada de perigo para o adversário. Tudo isto culminado com um excelente remate à entrada da área que resultou no primeiro golo, acção que teve a importância directa de abrir o marcador no jogo de ontem, mas também, de ter constituído um momento revestido de enorme importância do ponto de vista simbólico.

Rui Costa empolga o público, mas também os companheiros e para além disso, o Benfica colmatou uma grande insuficiência patenteada durante os últimos anos ao nível do seu jogo: a transição defesa-ataque.

Em termos individuais, destaque também para Nuno Gomes, sempre activo, em permanente movimento e denotando um entendimento perfeito com Rui Costa.
Nas alas, Manú, um velocista que acelerou o jogo sempre que pôde e sempre que se impunha em jogadas de um-contra-um (e foram várias essas situações).

Paulo Jorge, bastante influente na movimentação sem bola, sempre muito móvel, criou muitas vezes linhas de passe, fundamentais na fase ofensiva do jogo da equipa. A disponibilidade que manifestou em recuar no terreno foi sempre, também, muito valiosa em termos defensivos.

No meio campo, para além da habitual entrega de Petit, katsouranis, que começou lentamente a assumir grande importância nas acções de recuperação da bola. Extraordinária a capacidade do grego, de adivinhar o espaço onde a bola vai parar, antes da mesma partir dos pés do adversário.

Em termos colectivos, deixo aqui as palavras de Fernando Santos que resumem bem o que penso e que vão ao encontro do que já foi referido em posts anteriores.


Pergunta: A equipa já se adaptou à táctica?

“…em termos de filosofia e modelo, estávamos claramente a chegar lá. Hoje conseguimos pegar mais à frente, pressionar mais alto…É isso que permite mandar no jogo…”

Convocatória de Scolari: dois destaques


Carlos Martins: Se conseguir ultrapassar os problemas físicos que o têm apoquentado nos últimos anos, pode fazer uma época à medida do seu talento.
Carlos Martins é um médio centro cujas principais características são a entrega ao jogo e a versatilidade. No Sporting, ocupa, normalmente, a posição de médio interior, quer à esquerda, quer à direita. Também pode ocupar o vértice ofensivo do losango leonino, apesar de raramente Paulo Bento o colocar nessa posição. Carlos Martins tem dotes de organizador de jogo: qualidade no passe, visão de jogo, os arranques e os remates de meia distância. Constitui boa alternativa a Maniche ou Deco.


Ricardo Rocha: Defesa central muito forte na marcação, também ele fazendo da polivalência um verdadeiro trunfo, sobretudo tendo em conta a importância que a mesma tem a nível de selecções. Ricardo Rocha também pode ocupar a posição de defesa lateral, tendo já desempenhado inúmeras vezes essa função no S.L. Benfica, uma das quais terá ficado na retina pela boa exibição e que até valeu um elogio do melhor jogador do mundo.

Monday, August 21, 2006

Início da Liga Inglesa: primeiras impressões

O Chelsea iniciou o campeonato com uma vitória (3-0 frente ao Manchester City).
Apesar de ter jogado num sistema diferente daquele que na maioria das vezes jogara nos dois últimos campeonatos, os princípios de jogo não se alteraram.

A equipa jogou com um sistema de 4x4x2 clássico: uma linha de quatro defesas, Bridge na esquerda, P.Ferreira, na direita, e no centro, R.Carvalho e J.Terry; no meio campo, uma linha de quatro homens: ao centro, Essien e Lampard, o primeiro como médio mais defensivo e o segundo mais como médio de transição; nas alas, Robben, na esquerda e Wright-Philips na direita; na frente a dupla Schevchenko/Drogba.

Em teoria, o sistema pode parecer algo desequilibrado em termos defensivos. Jogando com extremos puros, com pouca cultura defensiva, com Essien como único médio defensivo, sabendo-se que é um jogador com elevada propensão para subir no terreno, ao contrário do habitual ocupante desse espaço, Makelele, muito mais reservado no que respeita a subidas às áreas contrárias.














Posto isto, seria de esperar alguma dificuldade no que respeita às transições ataque-defesa. No entanto, não foi isso que se verificou. O Chelsea manteve os seus sólidos princípios de jogo: pressão alta; muita posse de bola; circulação rápida da mesma, quando ganha em zonas próximas da área adversária; utilização dos corredores laterais, por via da velocidade imposta pelos jogadores que daí partem.
Em termos de transição defensiva, a “zona pressionante” foi quase sempre eficaz, tendo-se visto sempre os jogadores em permanentes acções de cobertura, quer na fase defensiva, quer na fase ofensiva.
O único aspecto que, porventura, ainda terá que ser mais consolidado, será ao nível das movimentações da dupla atacante. Schevchenko, e sobretudo Drogba (apesar do belo golo que marcou) parecem não ter ainda ganho os devidos mecanismos para poderem formar aquilo que potencialmente são: uma das melhores duplas atacantes da Europa.


O Manchester United também entrou com o pé direito, vencendo o Fulham por expressivos 5-1.
Sistematizada também em 4x4x2, a equipa apresentou muita mobilidade na frente de ataque: Rooney e Saha, mais na zona central, com o primeiro mais móvel, partindo muitas vezes das alas, ou surgindo nas costas do Francês. Nas alas, também muita mobilidade, Giggs e Ronaldo permanentemente a trocarem de faixa, também flectiam para o centro muitas vezes. Movimentos ofensivos em largura e profundidade, sempre com o apoio dos laterais; Neville (depois, Wes Brown ) e Evra. Foi um vendaval de futebol ofensivo a que a equipa do Fulham não resistiu, até porque o resultado começou a construir-se bem cedo (4-0 aos 19 minutos).

Se Chelsea e M.United entraram com o pé direito, já o mesmo não se pode dizer dos outros dois candidatos ao título, Arsenal e Liverpool, empataram (1-1 foi o resultado nos dois jogos) com Aston Villa e Sheffield United, respectivamente.

Apesar do mau resultado (ainda por cima na estreia oficial do seu novo estádio), o Arsenal teve uma exibição muito atraente, como aliás, tem sido seu apanágio nos últimos anos.
Alinhando em 4x4x2 clássico, teve sempre o domínio do jogo, com um caudal de futebol ofensivo absolutamente esmagador. Passe curto, desenhando harmoniosas triangulações, quase sempre em 1 / 2 toques, a equipa ocupou o meio campo adversário quase durante toda a partida, mais em profundidade, e pela zona central, que em largura, fruto porventura de ter nas alas dois “falsos extremos”, Ljungberg e Hleb. O Arsenal acabaria por ver o adversário inaugurar o marcador, na sequência de um pontapé de canto. Se a equipa de Birmingham até então havia privilegiado o jogo defensivo, a partir daí, foi aquilo a que por cá costumamos chamar de “autocarro estacionado em frente à baliza”, pois é, não é apenas na liga portuguesa que existe o fenómeno…

Já o Liverpool, apesar de não ter jogado em sua casa – deslocou-se ao estádio do recém-promovido, Sheffield United – teve para além do resultado não positivo, uma exibição também pouco conseguida. Também, com um sistema de 4x4x2, o Liverpool teve claras insuficiências em termos de transição ofensiva.












Num meio campo onde apenas o médio defensivo Sissoko deu nas vistas, jogavam também Zenden e Gerrard, este último descaindo para o lado direito. Sabendo-se que, apesar de ser um extraordinário jogador, o “habitat” natural do capitão da equipa é ao centro e pelo facto de se estar a dividir entre o centro do terreno e a ala direita, a equipa, não apenas deixou de usufruir da capacidade de construção de Gerrard, como pareceu algo desequilibrada, encarrilando o seu jogo exterior mais pela ala esquerda, onde estava Mark Gonzalez (que entrara para substituir o lesionado Riise) que, apesar da velocidade que procurava imprimir, acabou por estar pouco inspirado nas suas acções.
Um Liverpool que revelou os pontos fracos já vistos anteriormente: dificuldade de jogar em ataque continuado/organizado, que normalmente é mais evidente quando tem que enfrentar equipas muito "fechadas"e a excessiva dependência de Steven Gerrard.

Thursday, August 17, 2006

LEITURAS


Imprescindível para os amantes do desporto rei.
Para além de biografia, este livro é também parte importante da história do futebol, e não só .

Copa Libertadores 2005-2006



O Internacional de Porto Alegre ganhou a Copa Libertadores, empatando 2-2 em casa frente ao São Paulo F.C., na segunda mão da final da edição deste ano da mais prestigiada competição de clubes do continente americano.
Há quinze dias, o Inter tinha vencido no Morumbi por 2-1.

Treinado por Abel Braga, um treinador que já trabalhou em vários clubes portugueses, o Inter jogou frente ao São Paulo num sistema de 3x5x2. Na defesa, três centrais: Fabiano Éller, Bolívar e Índio. Os laterais, Jorge Wagner e Ceará apoiando muito nas acções ofensivas, não deixavam de recuperar rapidamente no terreno quando a equipa não tinha a bola. No meio campo, Edinho, o médio mais defensivo, posicionava-se um pouco à frente dos centrais, recuando também para perto destes quando o adversário tinha a bola. À frente destes, Tinga (já jogou no Sporting) e Alex são os responsáveis pela transição ofensiva, sendo que o primeiro mais descaído para a direita, também tinha a missão de compensar as subidas do lateral Ceará. Na frente, a grande coqueluche da equipa, um vagabundo que deambula por toda a frente de ataque, ora aparece ao meio, ora arranca de uma das faixas, um jogador com enorme talento, veloz, esquivo e muito forte no um-contra-um: Rafael Sóbis, que joga nas costas de Fernandão, o ponta de lança mais fixo e que ontem abriu o marcador para a equipa do Colorado.

Thursday, August 10, 2006

Red Bull Salzburg: Um paradigma da modernidade

O Red Bull Salzburg que ontem cometeu a proeza de vencer o Valência na 1ª mão da 3ª pré-eliminatória da Liga dos Campeões é o paradigma da comercialização do futebol, e até, em última análise, da comercialização da história.

O clube, fundado em 1933 com o nome SV Austria Salzburg, após várias fusões ao longo dos anos que lhe foram alterando o nome (SV Casino Salzburg, SV Salzburg), acabou por ser comprado pela empresa Red Bull no início de 2005.

É conhecida a aposta estratégica da empresa de bebidas energéticas austríaca, ao nível do investimento no desporto de alta competição, sendo a Fórmula 1 o exemplo com maior visibilidade.

No futebol, para além da aquisição do histórico clube da cidade austríaca, a Red Bull também adquiriu o franchise do New York Metro Stars da Major League Soccer (liga de futebol profissional norte-americana), não obstante neste caso os contornos da aquisição terem sido diferentes dos que envolveram o clube de salzburg.

Assim que se oficializou a compra do SV Salzburg, os novos proprietários do clube anunciaram que o clube era um novo clube, manifestando a vontade de renegar a sua história e de alterar o seu nome, o emblema e as cores, o que motivou uma reacção de revolta dos seus adeptos. Assistiu-se também a uma verdadeira onda de solidariedade para com os adeptos do clube austríaco em diversos estádios de futebol europeus.



As pretensões dos responsáveis da empresa austríaca acabaram por concretizar-se e assim nasceu o Red Bull Salzburg com um novo emblema e novas cores. Os adeptos dividiram-se, uns aceitaram a situação, outros não, o que é certo é que o Red Bull Salzburg está aí e ontem até deu um enorme passo para a entrada na principal prova de clubes realizada na Europa.

Orientada por uma dupla famosa no futebol europeu, um como jogador de topo, outro como jogador e treinador, Lothar Matthaus e Giovanni Trappatoni, sendo este último, na prática, o grande responsável técnico da equipa, o Red Bull constituiu um plantel com quantidade e qualidade para lutar por objectivos ambiciosos. Nomes como Alexander Zickler, Thomas Linke, e Niko Kovac, entre outros, são nomes sonantes que compõem o actual plantel.



O ano passado ficaram em segundo lugar na Bundesliga austríaca, o que lhes valeu disputar a 3ª pré-eliminatória da Liga dos Campeões.

A equipa frente ao Valência actuou num sistema de 4x2x3x1, alicerçada numa sólida organização defensiva, fazendo um pressing intermédio e procurando a saída rápida para o ataque.

No sector defensivo, dois centrais experientes, Thomas Linke (ex-jogador do Bayern Munique), forte na marcação e no jogo aéreo e Jorge Vargas (várias épocas na liga Italiana), um central mais móvel, que também sabe sair a jogar desde a sua grande área.
Os laterais, Dudic na esquerda, sempre mais recuado e com missões mais defensivas e Bodnar na direita, já procurando algumas vezes apoiar o ataque. No meio campo, um médio defensivo “todo-o-terreno” argentino, Carboni, exímio na recuperação de bola e na ocupação de espaços; Janocko e sobretudo o internacional Croata Niko Kovac são os artificies da construção de jogo em termos ofensivos. Na frente o experiente Zickler, forte no jogo aéreo e a jogar em cunha entre os centrais, mas também com alguma mobilidade, recuando muitas vezes no terreno para apoiar os seus colegas da intermediária. É, no entanto, nas alas que residem os jogadores mais interessantes da equipa, e que, frente ao Valência, fabricaram em conjunto o golo que valeu a vitória da equipa, na direita Pitak, robusto e tecnicista, tanto sobe no corredor para desferir cruzamentos para a área, como arranca em diagonais na direcção da mesma, juntando-se por vezes a Zickler fazendo de 2º avançado. Na esquerda, Patrick Jesek, um jogador de elevado recorte técnico, com velocidade e muito forte no um-para-um. Uma equipa interessante para seguir daqui a quinze dias no Mestalla.

Tuesday, August 08, 2006

Benfica: o modelo e o sistema

«Este ano, mais importante que o sistema, o Benfica vai ter, e não vou abdicar disso, uma filosofia de jogo que é a minha...quero uma equipa que mande no jogo, uma equipa capaz de pressionar alto, um bloco compacto mas mais subido, capaz de impor o respeito em relação aos adversários, e não uma equipa de contra-ataque, uma equipa que joga mais baixa no campo, que procura essencialmente defender, através de lances individuais ou no contra-ataque, resolver o jogo. Não vou abdicar dos meus princípios, repito, e mais importante que o sistema é aprender essa filosofia, o que não se consegue em 20 ou 30 dias

Fernando Santos


Tal como já tinha escrito, o sistema de jogo por vezes é sobrevalorizado por quem analisa o rendimento de uma equipa, quer sejam os adeptos, quer sejam - e estes com maior responsabilidade - os jornalistas.
Há aspectos tão ou mais importantes que o posicionamento de base dos jogadores de uma equipa, como sejam o modelo e/ou a filosofia de jogo. Ora a este nível, os expectadores mais atentos sabem que nos últimos anos, para além de um sistema de jogo assente no 4x3x3 e suas variantes, em termos de modelo de jogo, o Benfica foi essencialmente uma equipa de contra-ataque, uma equipa que pressionava em zonas mais recuadas, que assentava a sua forma de jogar numa defesa sólida, e que procurava lançar contra-ataques ou ataques rápidos, daí as dificuldades sentidas no seu reduto frente a equipas mais fechadas, nos jogos a contar para o campeonato nacional.
E alterar o modelo de jogo, a par do sistema, é de facto bem mais complexo. Olhar para o rendimento dos jogos de pré-época em função apenas do sistema de jogo é muito redutor.

Thursday, August 03, 2006

Benfica: que sistema?


O debate está na ordem do dia, qual o sistema táctico mais adequado para o Benfica?
Afirma-se que o 4x4x2 com o meio campo disposto em losango não está a ser assimilado pelos jogadores, foi o próprio Fernando Santos a fazê-lo, mostrando-se disposto a regressar ao sistema que o Benfica teve nas últimas épocas, o 4x3x3 ou a variante do 4x2x3x1.

As opiniões dividem-se, quer na imprensa desportiva, tendo já sido solicitados os pareceres de diversos técnicos sobre a questão, quer também em conversas de café entre os adeptos do clube.

Os sistemas tácticos têm importância, é um facto, pois são eles que definem o modo de colocação dos jogadores no terreno de jogo, e que servem de base ou ponto de partida para os deslocamentos dos jogadores e para a coordenação das respectivas acções individuais e colectivas. A importância dos sistemas é esta, depois há outras coisas tão ou mais importantes que o sistema, como sejam o modelo de jogo, ou seja, a dinâmica que se quer dar a esse sistema, o método de jogo, quer defensivo quer ofensivo e muitos outros aspectos.
Duas equipas podem jogar com o mesmo sistema táctico e apresentarem uma forma de jogar totalmente diferenciada, uma pode apresentar um futebol mais apoiado, passe curto, triangulações ao longo do campo, um ataque posicional ou organizado, a outra pode praticar um futebol mais directo com muitos passes longos a defender à zona e a atacar pode utilizar o método ofensivo do contra-ataque.

Os críticos do 4x4x2 (losango) costumam argumentar que o sistema faz “afunilar” o jogo, que se perdem as referências atacantes por via da não utilização dos corredores laterais. Não é verdade, é certo que o sistema não contempla a utilização de médios ala ou extremos de raiz, mas neste sistema cabe aos laterais terem a disponibilidade e características para poderem descer pelos seus corredores e apoiar as acções ofensivas e também através da mobilidade dos avançados, com um deles ou os dois a descaírem para uma das alas em determinados momentos. Outro aspecto importante deste sistema é o médio mais recuado, é importante que este tenha um bom sentido posicional e que esteja disponível para compensar as descidas dos laterais, é necessário não apenas ter atenção a onde está a bola, mas também ter uma noção dos espaços, no que respeita à cobertura dos mesmos e também às acções de cobertura defensiva dos colegas de equipa. A dinâmica dos médios interiores também tem que ser muita, em termos de mobilidade, de permutas posicionais e de muita posse e circulação de bola, quer entre eles, quer com os laterais.

O plantel do Benfica com a perspectiva de venda de Simão Sabrosa, com a saída de Geovanni e também com o regresso de Rui Costa, pareceu talhado para este sistema, dada a quantidade e qualidade de opções para o meio campo e ataque. Assim também pensou Fernando Santos. Mantendo a estrutura defensiva que se mostrou bem sucedida na época passada e com a profundidade em termos ofensivos que Léo e Nelson imprimem, o losango do meio campo seria constituído da seguinte forma: nos vértices defensivo e ofensivo, nomeadamente e respectivamente, Katsouranis ou Petit e Rui Costa, sendo que Karagounis parece ter características para encaixar em qualquer um dos quatro vértices, ainda há Nuno Assis e também Paulo Jorge, um polivalente que também pode jogar numa faixa. Na frente abundam as soluções, sobretudo com a contratação do internacional Mexicano Kikin Fonseca a juntar-se a Miccolli, Marcel, Mantorras e Nuno Gomes, sendo que este último parece sentir-se muito mais à vontade jogando em sistemas que contemplem dois avançados. Por tudo isto o 4x4x2 (losango) parecia uma opção válida, porém os resultados e sobretudo as exibições, excepção feita ao jogo frente ao Bordéus onde a equipa deu boas indicações, não confirmaram isso levando o treinador Fernando Santos a assumir que regressará ao anterior sistema, o 4x3x3 e sua variante 4x2x3x1.

Vistos os três últimos jogos o que se observou foi uma total incapacidade para fazer circular a bola, a ponto de serem raras as vezes em que esta chegou à área contrária, apenas esporadicamente e por via de passes longos ou bolas paradas, pouca ou nenhuma coordenação da acção colectiva da equipa, uma excessiva fragilidade defensiva, pouca ou nenhuma mobilidade, uma incapacidade de reagir ao pressing dos adversários (bem patente no jogo frente ao Sporting). Em termos de colocação dos jogadores apenas se poderá discutir Petit na posição de médio interior direito, será aquela e talvez a única a considerar-se algo “contra-natura”, quanto ao resto nada a assinalar.

Se o regresso ao sistema das últimas épocas se consumar, a boa notícia seria o não avanço das negociações que viabilizariam a saída de Simão Sabrosa, pois o plantel foi pensado sem ele, e os médios ala/extremos que entraram este ano não são substitutos à altura de Simão, apesar das boas indicações de Manu e Paulo Jorge.
O 4x3x3 puro não parece ser o mais indicado para tirar partido da classe de Rui Costa, pois isso envolveria o jogador em tarefas defensivas que o desgastariam para aquelas em que ele é um exímio executante, portanto tudo indica que a opção será o 4x2x3x1, mantendo a estrutura defensiva, colocando um duplo pivot na primeira linha do meio campo, constituído por Petit e Katsouranis, na segunda linha do meio campo jogariam Manu na direita e Paulo Jorge na esquerda, com Rui Costa no apoio a um único ponta de lança. A questão que se coloca é o desperdício de médios centro como Assis e Karagounis, e sobretudo o desperdício de avançados, aliada à falta de soluções para as alas, para além das já referidas. Uma alternativa seria a colocação de Miccoli numa faixa (algo que não é estranho para o jogador, já que no Perugia jogou diversas vezes nessa posição), Fonseca também tem mobilidade para jogar mais descaído para um dos corredores laterais, é um mero exercício de especulação, pois apenas Fernando Santos terá a palavra decisiva



PS: Na edição de hoje do jornal “A Bola”, José Manuel Delgado avançou com uma alternativa, o 3x4x1x2. De facto também me parece uma solução que potencia a composição do actual plantel, evitando o desperdício de jogadores que o 4x2x3x1 acarreta, no entanto há apenas um pormenor que o autor não refere e que poderá ser um “pormaior” - na impossibilidade de utilizar Nelson e Léo (lesões, cartões), quem ocuparia essas posições tão fulcrais nesse sistema?
A existência de apenas dois laterais no plantel é aliás, para mim, a única debilidade para a utilização do 4x4x2 (losango).