Thursday, June 29, 2006

França manda Espanha para casa

Um jogo que bem pode ser apontado como o paradigma daquilo em que se tornou o futebol.
Jogo muito táctico, muito disputado a meio campo. As duas equipas exercendo forte pressão e apostadas em "jogar no erro" do adversário. A frança acabou por ter mais sorte, mas também terá feito por isso!

A equipa espanhola ao mudar o seu figurino táctico acabou por servir os interesses gauleses! Abandonou o vistoso 4x3x3 que até então tinha apresentado, e iniciou o jogo com um 4x4x2 em losango, sendo Raúl o homem do vértice ofensivo e Xavi Alonso o jogador do vértice defensivo, como interiores na direita e esquerda do meio campo, Xavi e Cesc Fabregas. Em teoria seria uma forma de equilibrar a luta do meio campo, pois a França sem bola coloca 5 jogadores nessa zona do terrreno (o sistema táctico preferencial é o 4x2x3x1), mas a enorme experiência de um grupo de jogadores que o mundo do futebol, e de forma mais veemente a arrogante imprensa espanhola, tem teimado em considerar "velhos e acabados", acabou por vir ao de cima.
O sector defensivo espanhol colocava-se em zonas próximas do meio campo, apostando muito na colocação em fora-de-jogo dos jogadores franceses, foi uma estratégia quase sempre bem sucedida (que o diga Henry), porém, nem sempre assim foi, e Ribery aproveitou isso muito bem aquando do golo que marcou e que empatou o jogo.

Na segunda parte, Aragonés voltou ao 4x3x3 que tão bons frutos dera em jogos anteriores, lançando Joaquín e Luís Garcia para as alas, mas, o jogo de paciência dos franceses não se esgotou, bem como a capacidade física e táctica de Makelele e Vieira, e de bola parada a França marcou quando já havia pouco tempo para a inversão do resultado.

Mais uma vez a fúria espanhola saiu curvada perante as expectativas que criara!
A hesitação táctica do seleccionador espanhol terá dado um contributo para que a Espanha tenha abandonado o Mundial 2006. Mas a França foi enorme em termos de superação e de disciplina táctica! E o Brasil que se cuide nos quartos de final...

Thursday, June 22, 2006

O Brasil jogou hoje!


O Brasil jogou hoje pela primeira vez neste mundial, pelo menos aquele Brasil que todos esperavam ver!

E apareceu hoje porque aquela aberração denominada de "quadrado mágico" foi finalmente desmontada!

O Brasil apresentou um dispositivo táctico de 4x2x3x1, com um duplo pivot defensivo - Pernambuncano e Gilberto Silva - sendo que o primeiro era também o elemento que muitas vezes inciava a transição ofensiva, com Káká e Robinho nos corredores laterais trocando permanentemente as posições e Ronaldinho Gaúcho no papel de "playmaker" no apoio ao ponta de lança Ronaldo.

Foi um Brasil que produziu aquilo que toda a gente sempre espera: o elevado pendor ofensivo e o futebol envolvente e espectacular, mas também foi uma equipa mais equilibrada.

O futebol não é apenas táctica, todos sabemos isso, mas este jogo da equipa brasileira provou a importância incontornável dos aspectos tácticos para a definição do jogo da equipa, e também para a potenciação das individualidades que compõem a mesma.

Nos últimos dias, muito se falou da parca prestação do Brasil nos anteriores jogos tendo sido Ronaldo o alvo mais apetecido para a justificação dessas exibições menos conseguidas, pobres até, diria eu!

O facto é que Ronaldo hoje jogou e jogou bem, até marcou dois golos! Bem apoiado por Ronaldinho, Ronaldo pareceu um jogador renascido, sempre a procurar os espaços vazios, combinando bem com os seus companheiros, tabelando e posicionando-se muito bem na área japonesa arrastando as marcações contrárias. O problema nos jogos frente à Croácia e à Austrália não era Ronaldo, não obstante o mesmo não ter tido um bom desempenho, o problema era um sistema táctico que bloqueava o processo ofensivo e desiquilibrava a equipa na transição defensiva.

Laranja (menos) mecânica


Esta selecção holandesa, do que se tem visto neste mundial, não tem a qualidade - no que respeita às suas individualidades - de outras selecções de um passado recente, contudo, a marca distintiva do futebol que pratica está lá e de forma bem evidente! Se o conceito "escola de futebol" precisar de um paradigma, ele é inexoravelmente o futebol holandês.

No jogo com a Ucrânia ofereceu uma boa exibição, já contra a Costa do Marfim, o brilhantismo exibicional não foi tão evidenciado, tendo mesmo na segunda parte desse jogo, passado por grandes dificuldades impostas pela selecção africana. O jogo com a Argentina foi um jogo "suspeito", pois ficou-se com a sensação que ambas as equipas, tendo em conta as circunstâncias, jogaram qb, não obstante o ascendente do jogo ter pertencido à selecção argentina.

Em termos técnico-tácticos, a equipa mantém-se fiel ao estilo que caracteriza o futebol holandês, 4x3x3 puro, sempre com um acentuado e forte jogo exterior, procurando jogar com largura e profundidade. Muita posse e circulação de bola, pressing alto, linha defensiva adiantada no terreno e ataque organizado.

Há no entanto alguns pontos fracos que merecem nota de destaque: ao contrário de outras brilhantes equipas que todos os adeptos de futebol recordarão, esta equipa não apresenta uma forte dinâmica de jogo. Os três avançados (Robben na esquerda, V.Persie na direita e Nistelroy ao centro) raramente ou quase nunca trocam de posição, permanecem o jogo todo ocupando os mesmos espaços, a mobilidade também não é muita, apenas aquela que Robben (o jogador de maior qualidade desta equipa) promove, Nistelroy não atravessa um bom momento.
No meio campo parece faltar alguma criatividade, não parecendo existir grande ligação com o sector avançado.

Monday, June 19, 2006

La Revancha del Tango

Mais uma vez a Argentina...


O resultado e a exibição frente à selecção da Sérvia e Montenegro falam por si, no entanto, mais uma vez há que realçar a forma como esta equipa aborda os seus jogos.
É difícil definir qual o sistema táctico utilizado no jogo com a Sérvia. Como já foi dito anteriormente, o sistema (referências posicionais dos onze jogadores) é totalmente subvertido pela dinâmica da equipa, ou seja, o que caracteriza a abordagem do jogo da equipa argentina é o seu modelo e princípios de jogo, tendo esta ideia ficado ainda mais evidente neste segundo jogo.

Em diferentes situações podia observar-se diferentes disposições da equipa em campo (3x5x2; 4x3x3; 4x4x2). A dinâmica e mobilidade da equipa baralhava qualquer tentativa de análise nesse sentido, tendo-se assistido a um verdadeiro "carrossel" que baralhou e "esmagou" a selecção Sérvia.













A defesa era composta por uma linha de quatro jogadores, não obstante as constantes subidas pela faixa, do lateral esquerdo Sorín! No meio campo, Mascherano com missões exclusivamente defensivas e Lucho (Cambiasso depois no seu lugar), partilhando essa missão com o seu colega de sector, mas ocupando-se também de fazer o transporte da bola para o início do processo ofensivo - até aqui pouco ou nada de novo face ao jogo com a Costa do Marfim - Riquelme a pautar o ataque, depois na frente pôde observar-se Saviola e Crespo, inúmeras vezes a encostarem às faixas, quando a bola vinha sendo jogada pelo seu lado (o direito), Saviola encostava nesse corredor, enquanto Crespo flectia para o meio, e vice-versa, Maxi Rodriguez aparecia no lado esquerdo, sendo que quando tinha a bola e arrancava com ela, Crespo e Saviola apareciam na zona central. Saviola, quando a equipa estava sem bola fechava o lado direito a defender. Aliás, tendo que destacar algum jogador no meio de tão fantástica exibição colectiva, teria que ser, na minha perspectiva, o pequeno genial Saviola que teve papel activo nos 3 primeiros golos! No final ainda saltaram do banco mais dois geniais, Tévez e Messi, também sempre em permanente movimento, ora apareciam pela esquerda, ora pela direita, e sempre a fazer estragos!

Até agora, foi a selecção que mais encantou neste Mundial!

Wednesday, June 14, 2006

Mundial 2006 - 3 destaques





Vistas já quase todas as selecções presentes neste campeonato do mundo (falta apenas a Tunísia e a Arábia Saudita jogarem entre si), fica-se já com a percepção de quais as equipas mais fortes, aquelas que apresentaram uma maior qualidade ao nível do futebol praticado e porventura, até aventurar-mo-nos em adiantar potenciais favoritos à conquista do título - agora já com alguns fundamentos, ainda que, como se sabe, no âmbito deste desporto isso seja de um relativismo muito grande!

Uma das selecções que gostaria de destacar, é a selecção Argentina.
Se há casos em que a dinâmica de uma equipa se sobrepõe ao sistema táctico, a selecção Argentina é um dos expoentes máximos dessa afirmação! Pode dizer-se que a Argentina utiliza dois sistemas - sem bola o sistema assenta num 4x3x1x2, com bola e a atacar, o sistema desdobra-se num 3x2x3x2 - sendo o lateral esquerdo Sorín, e graças à sua propensão ofensiva, a peça chave para incutir esta dinâmica, subindo até ao meio campo e participando muitas vezes das movimentações ofensivas já perto da área adversária! Importantes também são os dois médios de contenção, Cambiasso e Mascherano, o segundo posicionado à frente dos centrais, com tarefas, sobretudo, de recuperação, quanto a Cambiasso, para além da partilha da missão mais defensiva com Mascherano, também se ocupa do transporte de bola para iniciar o processo ofensivo da equipa! Na frente, um nº 10 clássico (Riquelme) que tem a missão de construir as jogadas de finalização dos dois avançados que estão à sua frente, Saviola e Crespo, e pelo que se viu do jogo frente à Costa do Marfim, fê-lo com grande precisão e eficácia - o passe para Saviola no lance do golo é uma obra prima! As subidas de Sorín são assim compensadas por Mascherano, mas também pelo facto de do lado direito da defesa jogar agora Burdisso que é central de raíz, este pelo facto de subir menos no terreno, acaba por permanecer junto dos centrais quando a equipa ataca.
Esta equipa tem ainda no banco, jogadores como Messi, Tévez, Aimar, entre outros de reconhecida qualidade acima da média.

Outra selecção a destacar é a Italiana, e sobre esta importa realçar o seguinte: aquela ideia de que as equipas italianas, e a própria selecção, são defensivas e que como tal apresentam sempre um futebol aborrecido e entediante é uma verdadeira falácia, sobretudo para quem viu jogar a Itália neste campeonato do mundo. Uma coisa é o rigor táctico, e isso é ponto assente que constitui imagem de marca do futebol italiano, outra coisa é futebol defensivo.
A Itália apresentou um sistema de 4x3x1x2, de onde se destaca o trio da primeira linha do meio campo, composto por Perrota, De Rossi e Pilro, este trio incutiu uma dinâmica muito importante quer a nível de transição ofensiva, quer a nível de transição defensiva. Os três jogadores desdobraram-se inúmeras vezes em tarefas de recuperação e tarefas de construção de jogadas de ataque - logo que a bola era recuperada a equipa iniciava jogadas de ataque rápido muito bem desenhadas. A circulação de bola foi também muito bem conseguida por parte da equipa! Outro factor a destacar na equipa italiana são os seus homens da frente - Luca Toni - possante a jogar mais em cunha entre os centrais, Gillardino mais móvel e procurando outras zonas do campo para partir em direcção à baliza e ainda outro ponta de lança possante que entrou na segunda parte para o lugar de Gillardino - Vicenzo Iaquinta que assim fez dupla com Toni - uma dupla de avançados temível a fazer recordar as velhas duplas de pontas de lança fortes físicamente, que hoje em dia raramente se vêem no futebol.

Por último, a conhecida "fúria espanhola", pelo que se viu no jogo frente à selecção Ucraniana, parece estar empenhada em afastar o velho estigma de selecção que tendo muito valor nunca consegue provar esse mesmo valor em fases finais de Europeus ou Mundiais!

Uma novidade em termos de sistema táctico, um 4x3x3, que apresentou uma impressionante dinâmica em termos de processo ofensivo, sobretudo ao nível da enorme mobilidade dos três jogadores mais adiantados (Villa, Luís Garcia e Fernando Torres)! A constante permuta posicional efectuada pelos três jogadores da frente provocou o desiquilíbrio permanente do sector defensivo da equipa ucraniana.
A este propósito deve referir-se que há quem defenda que o 4x3x3 é um sistema que acaba por ser algo previsível, pois o facto de existirem referências posicionais relativamente destinadas a um lugar específico leva a que as tarefas de cobertura defensiva e marcação sejam mais fáceis de desempenhar, no entanto, essa teoria desmonta-se facilmente, através da mobilidade e da permuta posicional - lição que a Espanha deu frente à Ucrânia .
O trio do meio campo, composto por Xavi Alonso, Marcos Senna e Xavi foi também determinante na exibição e resultado que a selecção espanhola efectuou.

E atente-se que no banco, ficaram nomes como Cesc Fabregas, Reyes, Marchena, Joaquín, entre outros.