Thursday, October 12, 2006

Um reparo aos comentaristas profissionais (nem todos)

Talvez por desconhecimento ou então – mais grave ainda - por incapacidade, este senhores esquecem-se de uma premissa fundamental no que diz respeito ao futebol: O jogo de futebol é um jogo colectivo que consiste numa relação de antagonismo entre duas equipas, circunscritas a regras, lutando por um objectivo intermédio (a posse da bola) e um objectivo final (a obtenção do golo e evitar essa concretização ao adversário). É uma lógica relativamente simples, sobretudo se pensarmos em outras modalidades. No entanto essa simplicidade pode ser mais ilusória que real.
O jogo de futebol contém um quadro extenso de variáveis físicas, técnico-tácticas, psicológicas, sociológicas e culturais. Estas variáveis condicionam-se reciprocamente, o que torna necessário que o conteúdo de um jogo de futebol seja analisado com rigor.
Uma análise rigorosa de um jogo de futebol não se compadece com a particularização de apenas uma parte que compõe o objecto de análise.
Por muito inferior que uma equipa seja, no conjunto de todas as variáveis supra-mencionadas, desde que reúna as condições iguais do ponto de vista regulamentar (por exemplo, não se encontre em inferioridade numérica), nunca se poderá, em rigor, avaliar o seu insucesso em função, exclusivamente, dessa inferioridade, ou inversamente, tirar mérito à equipa adversária que é superior, pelo facto de ter atingido os objectivos do jogo. Por isso mesmo, é que por vezes, quando surgem as ditas “surpresas” (como a recente vitória do Chipre por 5-2 frente à República da Irlanda), a tendência de vários comentaristas é invariavelmente, a de analisar e explicar o sucedido, nunca reconhecendo, nem uma pontinha de mérito ao autor da surpresa, mas sim, apontando uma série de defeitos no surpreendido…extremamente redutor…

O futebol tem esta particularidade, ou seja, a sua aparente simplicidade, a forma como desperta emoções, a importância sócio-económica crescente que tem vindo a assumir nos últimos anos, o seu carácter universal, tudo isto contribui para o tolhimento cognitivo de quem o analisa. No caso do comum adepto, não é grave, já no caso de quem o analisa com o peso do profissionalismo em cima dos ombros, aí o caso muda de figura.

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