Monday, March 30, 2009

Barcelona – O último refúgio do futebol-arte *

«Todos os treinadores falam sobre movimento, sobre correr muito. Eu digo que não é necessário correr tanto. O futebol é um jogo que se joga com o cérebro. Deves estar no sítio certo, no momento certo, nem demasiado cedo, nem demasiado tarde.»

Johan Cruijff

Os jogos vão passando e o encanto permanece: a actual época do Barcelona está a deslumbrar os amantes do futebol. A qualidade demonstrada pelos catalães resulta, invariavelmente, em copiosas goleadas infligidas aos adversários.

A verdade é que o Barcelona tem sido, nos últimos anos, como que um refúgio dentro do actual modelo do futebol europeu, na medida em que diverge de todos os grandes postulados que regem a ideologia futebolística moderna, cujo grande paradigma reside, actualmente, na liga inglesa.

À dimensão física do jogo, o Barcelona opõe técnica e criatividade, condimentos que bem estruturados tacticamente, têm produzido aquele futebol apoiado, ofensivo, de circulação de bola constante que assombra os adversários.

Se este ano, com Pep Guadiola, os níveis de brilhantismo têm atingido um patamar muito elevado, é preciso não esquecer os anos anteriores com Frank Rijkaard, em que, inclusivamente, o clube se sagrou campeão europeu.

Existe uma simbiose perfeita entre a cidade condal, com os seus elevados padrões estéticos, e o clube, com o seu futebol artístico e harmonioso.

Esta filosofia nasce com a chegada de Johan Cruijff à Catalunha. Foi ele, com os princípios do «futebol total» que trouxe da Holanda, quem marcou indelevelmente o futebol blaugrana. O dream team inscreveu-se no código cultural do clube, como bem atesta, por exemplo, o facto de Guardiola – um dos seus grandes intérpretes – ser o actual treinador.
O futebol produzido pelo gigante da Catalunha é assim um misto do futebol total com o futebol-arte – essa invenção brasileira que também entrou em declínio a partir da década de 70 e que é hoje um conceito que assenta perfeitamente nas exibições de Messi, Iniesta, Xavi e companhia.

Se a conquista da liga espanhola, com um ou outro tropeção, dificilmente deixará de ser uma realidade, o grande desafio deste Barcelona será a tentativa de conquistar a Champions League. Os catalães são apontados como grandes favoritos. No entanto, é preciso recordar que a história do futebol está repleta de casos em que os favoritos, aqueles que mereciam todos os aplausos e vénias, acabaram derrotados face àqueles que eram apelidados de cínicos e pragmáticos. O próprio dream team de Cruijff viveu esse drama quando foi estrondosamente goleado pelo AC Milan de Fabio Capello na final da Taça dos Campeões Europeus de 1994.

Ainda a época passada, o Barcelona foi eliminado por um frio e calculista Manchester United. Na Champions, até um clube como o Manchester United, de Ferguson, trai o seu estilo e transforma-se numa equipa totalmente diferente daquela que joga na Premiere League. Este Barcelona de Guardiola não o faz, nem fará, seguramente. A sua filosofia é dogmática. Joga sempre da mesma forma, seja na liga espanhola, seja na Liga dos Campeões. Isso poderá ser-lhe fatal. Talvez. Mas, tal como já referiu Cruijff, ainda hoje a selecção holandesa do Mundial de 1974 é mais falada e recordada do que a equipa que conquistou a prova.

* Texto publicado em

Sunday, March 29, 2009

Tuesday, March 24, 2009

Leituras

O erro de Soares Franco

O que mais incomoda Soares Franco não é o penaltie assinalado por Lucílio Baptista. Soares Franco está realmente furioso é por ter aceite fazer parte da direcção da Liga e isso não se ter transformado em benefício do Sporting na arbitragem. Só assim se justifica a saída dos Leões daquele órgão directivo. E não adianta vir agora dizer que há várias razões pois, na verdade, quando se assistiu ao triste espectáculo que constituiu o processo Apito Final e a forma como foi conduzido no seio da Liga e até da Federação, ninguém ouviu Soares Franco queixar-se de arbitrariedades e injustiças. A dramatização para justificar uma derrota que nem chega a ser injusta (apesar do penaltie) pode servir para que esqueçamos momentaneamente as vergonhosas cenas de indisciplina que os jogadores do Sporting protagonizam desde o início da pré-época, mas não nos farão esquecer a ausência de posição de Soares Franco em todas elas, atirando para cima do seu conflituoso treinador sucessivos problemas que foi sendo incapaz de resolver. Aparecer agora aos gritos, como fazer parte da direcção da Liga, não vai devolver vitórias ao Sporting e esse é o erro estratégico de Soares Franco. Ao contrário do que possa parecer, ele ainda não percebeu que os jogos e os campeonatos se ganham no campo. E é por isso que vai continuar a perder.


Publicada por Nuno Nogueira Santos em A outra varinha mágica

E sobre isto, sportinguistas, o que dizem?

No momento em que nasce o golo do Sporting...



Vukcevic puxa calções de Maxi Pereira
Enviado por nsalta

Sintomático...

"Em 2008/2009, a tentativa de corrupção não será punida com a descida de divisão, ao contrário do que propôs na Assembleia Geral de ontem a Comissão Disciplinar da Liga. Em contrapartida, para que haja culpa de corrupção consumada deixou de ser necessário provar que houve benefício. Foram essas as principais decisões tomadas numa reunião que acabou interrompida às 00h30 e adiada para a próxima quarta-feira. Até então os membros da Liga tinham aprovado, por maioria, alterações ao artigo 51, nrº 1, referente à corrupção consumada, que passou a ter uma redacção mais próxima da que consta do Código Penal. Para além da questão do benefício, a pena máxima passou a ser a descida de duas divisões, ou seja, ficou aberta a possibilidade exclusão das provas profissionais.A forma tentada, até aqui punida com a subtracção de três pontos e derrota, prometia ser a estrela da assembleia, por ter sido essa a alínea que valeu ao FC Porto o processo actualmente de em fase de recurso no Conselho de Justiça da FPF. Para além dos dragões, também o Sporting votou contra a proposta da Comissão Disciplinar, que pretendia passar a punir esse ilícito com a dita descida de divisão. Foram os próprios leões quem propôs a alternativa: o agravamento da pena para seis pontos, mais derrota ..."

Monday, March 23, 2009

O maior erro de arbitragem

Patético, hilariante, tudo o que se tem dito e escrito sobre a arbitragem de Lucílio Baptista na final da Taça da Liga.
Sempre que o Sporting Clube de Portugal é prejudicado com uma decisão de arbitragem, cai o Carmo e a Trindade. Já se sabe. É assim há muitos anos, desde o início da história do clube.

O árbitro errou ao assinalar a grande penalidade? É óbvio que sim. Tal como errou ao não mandar Polga tomar banho mais cedo, e mais ainda, em deixar que alguém mais especializado em artes marciais, provocações e teatro do que futebol, ficasse em campo até ao final do jogo. Mas é claro que o lance que merecerá toda a espécie de crítica será aquele que prejudicou o clube de Alvalade. E o pior de tudo é que a coisa ocorreu num jogo frente ao Sport Lisboa e Benfica e, pior ainda, valia uma taça.

Um pouco de história

O clube que foi fundado com o propósito de roubar o protagonismo que o Benfica vinha ganhando no futebol lisboeta, depois de aliciar e recrutar os seus melhores praticantes, cedo se iniciou em comportamentos que redundavam numa espécie de esquizofrenia paranóide face ao rival. Não havia um confronto vencido pelos encarnados que não merecesse acesa contestação por parte do clube do Visconde de Alvalade.

Logo ao quarto confronto entre Benfica e Sporting, após um penalty pretensamente mal assinalado por um árbitro inglês e cuja conversão deu a vitória aos encarnados, os leões indignam-se e desistem do campeonato, isso apesar da atitude cavalheiresca do Benfica que declina o direito ao golo e consequentemente recusa a legitimidade da vitória.

Mas há muitos outros episódios em que os sportinguistas, sentindo-se injustiçados, optam pelas faltas de comparência, ou pelos abandonos de campo a meio dos jogos.

Claro que quando as decisões polémicas eram em seu benefício, os procedimentos não coincidiam propriamente com este padrão de comportamento, bem pelo contrário. Há um episódio pitoresco, ocorrido num encontro frente ao Cruz Negra, em que a equipa sportinguista obtém um golo na sequência de uma tabela com uma das árvores plantadas em redor do recinto de jogo. A comunicação que o clube mais tarde produziu em resposta a toda a polémica e discussão que naturalmente este lance provocou, foi a seguinte: «1º - O referee não apitou e, como tal, o jogo devia continuar; 2º - Em igualdade de circunstâncias, quando a bola bateu nas árvores do lado do campo, caindo na volta dentro do jogo, não era considerada fora.» *

De volta ao presente

Há, portanto, como que uma idiossincrasia genética na instituição que explica toda a bizarria a que se assiste desde Sábado passado. A tese, que está a ser veiculada por muitos, de que o árbitro auxiliar teria informado Lucílio de que não era penalty, numa tentativa óbvia de produzir a maior suspeição possível – transformar o erro involuntário em voluntário – chega a ser risível.


Alguém se recorda das reacções que os responsáveis leoninos tiveram aquando daquele penalty assinalado na sequência de um autêntico mergulho de Silva na relva da Luz, na época 2003-2004? Ou daquele que terá sido o penalty mais grotesco da história do futebol português relativamente a uma pretensa falta sobre Jardel na época 2001-2002?
Os responsáveis leoninos esquecem-se até de alguns incidentes engraçados, ocorridos durante o percurso da equipa até à final algarvia, como aquele golo obtido num fora-de-jogo de quilómetros em Vila do Conde.

Por último, há uma reflexão pertinente a fazer. Lucílio Baptista é um daqueles árbitros que se formou à sombra daquilo a que alguns (sportinguistas também) chamaram de “sistema”, algo que tem merecido o maior alheamento estratégico por parte dos actuais dirigentes. Portanto, há em tudo isto, uma inevitável e profunda ironia.


* Afonso de Melo, 100 anos, Benfica-Sporting - Sporting-Benfica, Prime Books, Lisboa, 2007

Homero Serpa, História do Desporto em Portugal – Do Século XIX à Primeira Guerra Mundial, Instituto Piaget, Lisboa, 2007

Friday, March 13, 2009

Hegemonia do futebol inglês!?

Segundo ano consecutivo em que o big four integra as 8 equipas finalistas da principal prova de clubes do velho continente. Muitos têm-se referido ao facto como a hegemonia do futebol inglês. No entanto, há uma questão que se impõe. Os quatro candidatos ao título inglês podem ser representantes de uma determinada ideia de futebol inglês? Apenas na medida em que são clubes que nasceram em terras de Sua Majestade e que integram a liga inglesa. Jogadores ingleses são raros nas quatro equipas. Passa-se o mesmo nas principais equipas das outras ligas, é certo. È a natural consequência de uma lei que se impunha no mundo do futebol, para que as coisas se harmonizassem com a sociedade globalizante que se vinha formando. Como tal, hoje em dia, faz pouco sentido falar em estilos. As idiossincrasias dos povos, outrora tão bem reflectidas no futebol, diluíram-se nestas autenticas torres de babel que pululam por essa Europa fora.

A Premier league é a liga europeia que alberga o maior número de jogadores estrangeiros. Fenómeno que é transversal a todos os clubes que a compõem, ao contrário da liga espanhola ou italiana, em que os candidatos ao título são aqueles que concentram um maior número de estrangeiros nos seus plantéis, algo que não encontra paralelo nos clubes "médios" e "pequenos". Esta situação tem tido, naturalmente, os seus custos para o futebol inglês, sobretudo ao nível do futebol de selecções. A suprema ironia reside no facto de aquele país que sempre olhou sobranceiro para o futebol praticado para lá do canal da mancha, ter acabado por se render a esse futebol e inclusive recrutar seleccionadores estrangeiros.

Voltando ao big four. Com excepção do Manchester United, qualquer semelhança com o futebol praticado pelas restantes equipas e aquilo que são (ou eram) as idiossincrasias do futebol inglês (ou britânico), só pode ser mera coincidência. E mesmo o Manchester United, nos últimos tempos, viu-se na contingência de ter que continentalizar um pouco mais o seu futebol.

O Liverpool então é a verdadeira antítese daquilo que ficou consolidado como o estilo inglês, para o qual, aliás, o clube de Anfield foi um importante contribuinte. Mantém-se o The Kop, o hino You never walk alone e a estátua de Shankly, num estádio onde agora, diariamente, se encontra um astuto treinador espanhol que, sempre de faces rosadas e bloco na mão, criou uma fortaleza futebolística, avessa a grandes espectáculos, mas que é terrivelmente eficaz, sobretudo em provas a eliminar. Falta-lhe ainda saber ser regular, mas essa é uma outra história…

O Chelsea, já antes de Mourinho, era um clube com uma certa tendência “internacionalista” – desde os tempos de Vialli, Gullit e Zola. Depois com Ranieri, e sobretudo José Mourinho, o clube adoptou um estilo futebolístico que também pouco ou nada tem a ver com um “estilo britânico” de jogar futebol.

O Arsenal de Wenger é talvez o produto mais contrastante com aquilo que será o “estilo inglês”. Futebol apoiado, de pé para pé. Um futebol que faz do controle de bola o seu grande e único axioma.

Há ainda outro aspecto que merece reflexão. Para além do big four, o que facilmente se constata é uma certa "leveza" competitiva dos clubes ingleses nas competições europeias (vulgo Taça Uefa).

Portanto, é algo delicado falar de hegemonia do futebol inglês, com excepção daquela época em que a Europa se rendeu verdadeiramente a um domínio avassalador de clubes ingleses, com treinadores ingleses (ou pelo menos britânicos), jogadores ingleses e um estilo futebolístico muito seu e muito próprio – o verdadeiro estilo inglês. Foi a época do brilhante Liverpool de Paisley, do Notthingham Forest de Brian Clough e do Aston Villa. Em nove épocas, esse futebol conquistou sete Taças dos Campeões Europeus.

Wednesday, March 11, 2009

Hecatombe leonina na Liga dos Campeões: um contributo sério para explicar o sucedido

Dos muitos disparates que têm surgido para explicar a derrocada do Sporting na Liga dos Campeões, um deles é verdadeiramente hilariante: o da diferença ao nível da qualidade dos jogadores dos dois clubes. É preciso recordar os mais desatentos que há bem pouco tempo, Sporting e Bayern estiveram em confronto para a mesma competição - os plantéis não foram muito alterados desde então - e o equilíbrio foi uma evidência, tendo mesmo os leões empatado no local onde agora foram profundamente humilhados. Portanto, é evidente que o que explica o desastre está muito para além das qualidades técnicas, tácticas ou físicas da equipa do Sporting...

O que está em causa são questões relacionadas com a política do clube/SAD, muito bem explanadas neste texto. Não é o modelo de jogo, é o modelo de gestão...

Outro aspecto que, porventura, não será alheio a esse rumo que as últimas direcções têm dado ao clube, é a manifesta fraqueza da relação entre os jogadores e o emblema que representam. Muitos jogadores parecem entender o clube como uma espécie de entreposto, onde se formam, debutam e se preparam para dar o salto para outras paragens futebolísticas...

Friday, March 06, 2009

Entrevista de Queiroz ao "Pontapé de Saída"

Foi por entre os últimos (espero) sintomas de uma amigdalite que me atacou há uns dias que assisti à entrevista de Queiroz no programa "Pontapé de Saída".
Nada de novo. O mesmo estilo monocórdico e sorumbático de sempre que só não me fez travar uma luta árdua para não adormecer devido à referida inflamação que me assola. Quanto à essência, desta vez o professor optou por não atacar o seu antecessor, algo que, para além de não lhe ficar bem, não o tem favorecido nada, pelo contrário. Em síntese, foi um Queiroz demasiado justificativo, como bem fez questão de referir Camilo Lourenço, que por tal heresia, recebeu de pronto, uma séria reprimenda de Luís Freitas Lobo…

No meio do seu enfadonho discurso, percebe-se que o professor assume o grande objectivo de qualificar a selecção para o próximo mundial de futebol, mas também fica implícita a ideia de estar a iniciar um trabalho à semelhança do que foi feito há 20 anos atrás. Só não conseguiu foi explicar como é que, com os óbvios apertos relativos ao primeiro objectivo, poderão ser as duas coisas conciliáveis. Aliás, essa questão custou-lhe uma das poucas interpelações difíceis por parte dos comentadores residentes do programa (em particular Luís Freitas Lobo), e de facto, o professor não se saiu nada bem. E não se saiu bem, porque simplesmente seria impossível sair-se bem. Ele próprio numa das muitas entrevistas que deu durante a última semana, afirmou que foi contratado exclusivamente para preparar a Selecção A para as competições e somar pontos e que só se pronunciaria sobre as matérias que interferem a curto ou a médio prazo com o rendimento dessa equipa, se lhe perguntassem…ora isto é um contra-senso enorme.
A ideia que fica é a de que Queiroz, quando assinou o contrato com a Federação, estaria focado em ser só seleccionador nacional, com a assunção clara dos objectivos imediatos da qualificação para o mundial de África do Sul, no entanto, como as coisas têm corrido mal e as hipóteses de qualificação estão seriamente comprometidas, o professor começou a adoptar uma estratégia, de alguma maneira justificativa, ou seja, antevendo a previsível catástrofe da não qualificação, tem o argumento de que tem estado a trabalhar nos alicerces para o futuro – só à luz disto se percebe a estapafúrdia convocatória para o jogo com a Finlândia.

Depois veio a questão Liedson, e aqui, mais uma vez, e tentando escapar airosamente à questão de fundo numa primeira instância, acabou por entrar mais uma vez em contradição, e neste particular sem ter a ajuda dos seus auxiliares no programa…

Em suma, nada de novo, tal como referi no início. Apenas é de espantar a insistência em certas ideias profundamente descabidas como aquela de se acreditar que Queiroz seleccionador nacional A, possa cumprir com as exigências do cargo e ainda tenha que ser o renovador de todo o futebol nacional…