Tuesday, December 05, 2006

O Sporting e a falta de uma análise racional


O Sporting tem sido nos últimos tempos um clube que colhe a simpatia/empatia de muitos analistas, mesmo daqueles que não vestem as suas cores.

Estou convicto que essa simpatia assenta raízes no facto de o clube possuir uma equipa composta por muitos jogadores jovens formados na sua academia, o que poderá ser considerado como algo de valoroso tendo em conta os tempos que correm, onde os clubes de países economicamente mais débeis não podem ombrear com os seus congéneres dos países mais ricos. O clube de Alvalade tem assumido, de facto, uma aposta clara na formação e essa é sem dúvida uma das formas de conseguir manter a competitividade num futebol onde, cada vez mais, são os ditames do dinheiro a dar o mote.

A época passada, após vários desaires no seu início acabou por não ter sido considerada negativa, a equipa, desde que Paulo Bento a assumiu, passou a pautar-se pela regularidade em termos de resultados, tendo discutido o título nacional até às últimas jornadas. Paulo Bento também personifica bem o projecto leonino: jovem, ex-jogador do clube e a iniciar a sua carreira de treinador. Pode dizer-se também que o jovem técnico tem aquilo que se costuma designar de “boa imprensa”.

A pré-época correu muito bem, com várias vitórias e conquistas de torneios amigáveis, o campeonato nacional também está longe de estar a ser mal sucedido, e sobretudo, apesar do desaire da não qualificação para a fase seguinte, a campanha na Liga dos Campeões também não pode ser considerada como um insucesso, isto, claro está, se exceptuarmos alguns casos onde o irrealismo da análise, de tão desconchavado que foi, apregoava a possibilidade de o clube leonino ter um percurso mais ambicioso na mesma prova – a título de exemplo, chegou a haver quem escrevesse numa revista desportiva que se a equipa leonina tivesse um goleador do calibre de Didier Drogba, poderia aspirar a conquistar a liga dos campeões!

É evidente que – e não contrariando uma admirável capacidade lusitana – já há quem esteja agora, depois da derrota com o Benfica, e do afastamento da liga dos campeões, a questionar a valia, quer dos jogadores, quer do próprio treinador…

A questão central a que quero chegar é apenas uma e assenta precisamente naquilo a que chamo a admirável capacidade lusitana, que consiste em analisar (e agir em função) na forma extremista do “oito ou oitenta”.

O que é facto é que, não pondo em causa a enorme valia de um plantel com muitos jovens talentosos, nem a valia de um treinador bastante promissor, o Sporting foi sobreavaliado, sobretudo a partir da importante e meritória vitória sobre o Inter de Milão. O que é preciso referir é que, nos últimos anos, face a imperativos de ordem económica, vários jogadores com qualidade foram saindo e entrando para os seus lugares – numa política de contratações de custo zero – alguns elementos cuja qualidade está longe de ser uma certeza. Os jovens Moutinho, Nani, Miguel Veloso, entre outros, com a atenuante da curta experiência em termos de alta competição e com as vicissitudes próprias da idade, têm atenuado essas carências, contudo, não podem de maneira nenhuma corresponder às exageradas expectativas de alguns analistas da nossa praça. É ponto assente que este Sporting, com qualidade em alguns sectores, se encontra bastante desprovido da mesma em outros, o que se tem reflectido sobremaneira no rendimento da equipa, observado nos últimos jogos.

No comments: