Monday, September 18, 2006

O "case study" Benfica


Subscrevo o excelente artigo de Luís Freitas Lobo - Benfica: uma questão de classe - que pode ser lido aqui.

Como já referi aqui, a questão não se esgota no sistema táctico, existindo aspectos muito mais importantes que explicam as dificuldades - e consequentes maus resultados e exibições - que a equipa tem sentido neste início de época, e que já foram reveladas durante a pré-época. A maior evidência disto foi o jogo no Bessa, no qual, alinhando com o sistema táctico das últimas épocas (4x2x3x1), os problemas manifestados foram exactamente os mesmos que foram observados durante os jogos de pré-época, quando se testava o 4x4x2 (losango): dificuldades na manutenção da posse de bola e consequentemente, dificuldades ao nível da construção do processo ofensivo; incapacidade de reagir ao pressing efectuado pela equipa adversária.

É ao nível da implementação dos princípios de jogo, que a tarefa de Fernando Santos se afigura delicada.
Refere Luís Freitas Lobo que “Fernando Santos pretende posse de bola, circulação e aproveitamento das faixas laterais”, e também, acrescentaria eu, uma equipa mais pressionante, efectuando o chamado pressing alto, algo que foi assumido pelo próprio treinador em diversas ocasiões.

Como já escrevi aqui, o modelo de jogo do Benfica nos últimos anos, assentou em princípios totalmente diferentes, pelo que a tarefa de Fernando Santos, para além de corajosa, afigura-se algo complexa, sobretudo devido a diversos condicionalismos que têm impedido que esse trabalho seja realizado na sua plenitude (lesões, indecisões na construção do plantel, paragens prolongadas etc).

Quando digo que a tarefa é corajosa, quero dizer que se Fernando Santos falhar nesse propósito, a sua passagem pelo Benfica ficará indelevelmente rotulada de fracasso, pois a generalidade da exigente massa adepta do clube não entende algumas destas questões. No entanto também é necessário referir que o clube tem indiscutivelmente o melhor plantel das últimas épocas, daí que, eventualmente seria imperativo assumir um modelo de jogo mais condicente com os pergaminhos do clube, isto é, com aquilo que normalmente os adeptos esperam que seja o Benfica, e que foi em outros tempos a sua grande imagem de marca: um clube que joga sempre para ganhar, com um futebol atraente e ofensivo. Para além disso, a grande debilidade do Benfica, nos últimos anos, foi exactamente ao nível da transição defesa-ataque, sempre bastante evidente a nível interno quando defrontava equipas que procuram, essencialmente, defender, concentrando durante grande parte do jogo, o maior número possível de jogadores entre a linha da bola e a própria baliza.

Ao contrário de Luís Freitas Lobo, não penso que a ocupação das faixas laterais seja um aspecto tão determinante nesta fase.
De facto, Simão e Miccoli nas faixas laterais, dentro de um sistema de 4x2x3x1, serão as opções que darão maior dimensão qualitativa de jogo, no entanto, Paulo Jorge tem dado excelentes indicações, Manu é boa opção para jogos mais “abertos”, no sentido de se tirar partido da sua grande virtude que é a velocidade. Nuno Assis, já mostrou bons pormenores quando colocado numa ala (como ocorreu na segunda parte do jogo frente ao Nacional), e até o próprio Karagounis, apesar de pouco veloz, poderá ocupar essa posição, já que é um jogador que tem bom controlo de bola e é repentista, podendo realizar – à semelhança de Assis - de forma eficiente, as ditas diagonais de penetração.

Um aspecto que poderá ser alvo de algum trabalho, é o da movimentação e acções técnico-tácticas dos defesas centrais.
Para a realização da pressão alta, é imperativa a redução de distância entre linhas, a equipa tem que funcionar como bloco compacto – a defender e a atacar – para assegurar, eficientemente, as acções de cobertura necessárias, com e sem bola. Nesse sentido, é necessário que a linha defensiva suba mais no terreno para efectuar as coberturas aos médios que estejam a efectuar o pressing para a recuperação da bola. Em posse de bola, também se exige aos defesas que tenham alguma visão de jogo e boa capacidade de passe.

Os dois habituais titulares durante a época passada, Luisão e Anderson, são centrais com elevado sentido posicional, muito fortes na marcação, no jogo aéreo, nas acções de antecipação (do melhor que existe na liga portuguesa), porém, para além de estarem rotinados a posicionarem-se em zonas mais recuadas, também não possuem velocidade para – posicionados mais à frente – serem totalmente eficientes para as acções de transição ataque-defesa. A qualidade do passe e visão de jogo também não são dos seus mais fortes atributos. Daí que, a este nível, seja necessário ainda algum trabalho. Outra solução, será Ricardo Rocha, que foi várias vezes adaptado à posição de defesa lateral, pelo que terá maior facilidade em assimilar esta nova forma de jogar. E ainda há Alcides, que é de todos os defesas centrais do Benfica, aquele que parece ter maior qualidade técnica com a bola nos pés.


Nota: no jogo frente ao Nacional, já se pôde observar a equipa a aproximar-se um pouco daquilo que Fernando santos pretende.

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