
O enfraquecimento gradual do Clube Futebol Os Belenenses deve-se, em boa parte, à complacência e má politica dos sucessivos dirigentes que têm passado pelo emblema do Restelo. O clube parece carregar uma cruz, que ironicamente faz parte do seu emblema.
Esta época é um exemplo claro destas dificuldades, com a equipa a agonizar no fundo da tabela classificativa. E o mais paradoxal é o facto de ter vindo de duas temporadas extraordinárias, onde, inclusive, regressou às competições europeias e marcou presença numa final da Taça de Portugal. O problema é que este ano, para além do abandono do treinador Jorge Jesus, saíram do plantel 19 jogadores, tendo entrado 17 novos atletas, quase todos oriundos do futebol brasileiro – muitos vindos de divisões secundárias, outros das reservas de alguns clubes do Brasileirão.
Face a esta profunda transformação, o futebol da equipa afigurou-se pouco consistente e provocou os maus resultados sofridos nas primeiras jornadas. O treinador brasileiro Casemiro Mior acabou por ser dispensado, sem grande surpresa, tendo entrado para o seu lugar, o já experimentado nestas lides, Jaime Pacheco. O treinador nortenho de imediato começou a trabalhar na construção de uma equipa à sua imagem, recorrendo ao mercado de Inverno para realizar os necessários ajustes nesse sentido. O problema é que enquanto este complicado empreendimento foi ganhando forma, o campeonato não parou, e com isso o clube azul foi perdendo terreno até acabar por se fixar nas sufocantes posições do fundo da tabela. Nesta altura, o espectro da quarta descida de divisão da sua história é uma constante no dia-a-dia do clube.
Princípio da ruína
A queda do Belenenses tem início ainda na década de 80, com a primeira descida de divisão na história do clube. O desastre ocorreu na temporada 81/82 durante a qual, a equipa conheceu sete treinadores, entre os quais Artur Jorge e Nelo Vingada. O inferno da segunda divisão durou duas épocas.
O abandonado campo das Salésias, antiga casa do Belenenses, assemelha-se à perda de importância que o clube tem vindo a sofrer no futebol nacional.
A seguir a esta tempestade, porém, veio uma agradável bonança. O clube reergueu-se e atingiu boas classificações, como um brilhante 3.º lugar em 87/88. Foram também atingidas duas finais do Jamor, sendo que numa das vezes, na época 88/89, o troféu foi mesmo conquistado pelos azuis – o último grande troféu oficial conquistado (vitória frente ao Benfica por 2-1). Também nesse período, as noites europeias voltaram a animar o Estádio do Restelo, com particular destaque para uma eliminatória com o Barcelona que terá promovido, talvez, a última grande enchente. Neste Belenenses, orientado por Marinho Peres, sobressaíam jogadores como Mladenov, Sobrinho, José António, Chiquinho Conde, entre outros. Findo este período, porém, o clube voltaria a cair nas profundezas da Liga de Honra em mais duas ocasiões (90/91 e 97/98). O regresso às competições europeias e a uma final da Taça de Portugal aconteceu apenas recentemente, com Jorge Jesus. Pelo meio houve uma época (95/96) em que, pela mão de João Alves – com jogadores como Ivkovic, Fernando Mendes, Tulipa, Giovanella, Mauro Airez, entre outros – os azuis mantiveram, com o V. Guimarães, uma luta árdua por um lugar de acesso à Europa. Levaram a melhor os homens do Minho, contudo essa equipa garantiu um lugar no cantinho das boas memórias dos adeptos belenenses.
Na actualidade os adeptos do clube continuam a reclamar o estatuto de quarto grande do futebol português, mas apenas a história consegue legitimar tal posto, já que no campo esse estatuto tem sido disputado de forma mais justificada por V. Guimarães, Braga e Boavista (antes da recente queda ao segundo escalão).
O declínio competitivo do futebol do Belenenses, associado ao amadorismo e aventureirismo de muitas das suas direcções, e também às questões relacionadas com o envelhecimento demográfico da população lisboeta, tem levado ao contínuo afastamento dos adeptos do clube – algo que é bem visível de 15 em 15 dias nas despidas bancadas do Estádio do Restelo. O clube de Belém corre o risco de se transformar num resíduo simbólico e histórico, tal como o seu primeiro campo de futebol – as abandonadas e degradadas Salésias.
* Texto publicado em
8 comments:
Boas! Bem visto!
Faz realmente muita confusão ver o clube como está, principalmente tendo em conta aquilo que se passa nos escalões mais jovens do clube.
Como é que um clube bem organizado, com técnicos competentes e bem formados, ao nível do melhor que há em Portugal, com os resultados que se vêm nos vários escalões... Tem uma postura tão diferente para a sua principal equipa de competição?
O que se passou na transição da epoca passada para esta, foi uma anedota, e a contratação do Jaime Pacheco, para solucionar o problema... mais uma piada de mau gosto foi.
O "Belém" merece muito mais do que isto.
Abraço
Antes de mais, obrigado pela visita e comentário bastante pertinente.
De facto, é algo que poderia ter incluído no texto: o contraste entre o que se faz de positivo nos escalões jovens, com inúmeros resultados à vista e o que se tem feito de negativo no escalão sénior.
A título de exemplo, e para além dos excelentes resultados nos diversos campeonatos jovens, refira-se a qualidade de muitos dos produtos da formação do clube: Elizeu, Gonçalo Brandão, Rúben Amorim, Rolando...que saíram do clube sem qualquer provento para o mesmo, algo que é bem revelador do amadorismo que, infelizmente, por ali tem reinado...
Li este artigo com atenção sobre o meu Belenenses, porque sendo de uma pessoa de fora imparcial esta feito de forma construtiva, não tem qualquer tradicional bota abaixo de muitos anti-Belenenses.
O problema em relação esta época, tem sido um problema recorrente no Belenenses ao longo dos anos, não ficamos com uma espinha dorsal de uma época para outra e temos recorrido de forma sistemática ao mercado brasileiro, com especial incidência nestes ultimas duas épocas, não sei o numero ao todo de jogadores vindos do Brasil mas arrisco-me a dizer que ao todo foram para ai uns 30 nos ultimos dois anos.
Em relação ao não aproveitamento das camadas jovens tal deve-se na minha opinião a nunca ter havido uma aposta clara da direcção e SAD nos nossos jogadores jovens, basta olhar para as condições do Estadio do Restelo, para se perceber que o Trabalho feito no Restelo, tem sido de grande nivel, pelo menos na minha opinião.
Em relação aos casos aqui enunciados como o Rolando e o Ruben Amorim são para mim enquanto sócio do Belenenses um amadorismo atroz, lembro por vezes de defender com meu pai com quanto amigo do Belenenses que a 1ª coisa ápos a resolução do Caso Mateus era renovar com os dois jovens era o passo seguinte, no entanto ficamos a chucar no dedo quando após o final da Taça quisemos renovar eles na altura já não quiseram pois saberiam que iam conseguir contratos melhores noutro clubes.
Em relação ao Eliseu cheira-me a comissões e empresários com SR. Jorge Jesus metido ao barulho porque prefiram ficar com um jogador como Fernando que era fraquissimo em vez do Eliseu.
Sobre o Gonçalo Brandão, e o unico que na altura não me importei muito que se fosse embora parece estranho eu sei, mas vou explicar porque, o Brandão lembro que na época 2004/2005 começou-se a impor de forma clara sob o comando de Carlos Carvalhal ( erro enorme o seu despedimento na época em troca do ze coveiro) na posição de defesa-esquerdo, dizem então as mas linguas do Restelo que o jovem terá dirigido a Carvalhal dizendo que queria jogar a central e não ha defesa-esquerdo, obviamente desapareceu da equipa tendo estado a rodar na época seguinte nas reservas do charlton. No seu regresso teve poucas oportunidades nos ultimos dois anos com JJ salvo erro jogou para ai 2 jogos como titular, um dos quais de muito má memória contra o Paços na Taça de Portugal em que fomos eliminados, e que actuando na posiçao defesa-centra, o brandão esteve muito mal.
Percebo para quem esteja de fora o futuro seja muito negro, no entanto com os problemas financeiros que sentimos. Pode ser que se finalmente se olhe para a prata da casa, sendo que neste momento já surgiu o Pele ( junior de 1º ano) embora esteja outra vez nos juniores neste momento. O Fredy já era um jogador que quem acompanhe o Belenenses ou os jogos de camadas jovens em Portugal que poderia vir a dar que falar e só acho a sua aposta tardia, apareceu bem nos ultimos dois jogos.
Já agora gostaria de realçar que o Belenenses tem uma boa safra de defesa-esquerdos como o Carlos Alves que esta emprestado ao Oriental, sendo que foi sempre titular na geração de Carriço e outros e depois aquando do europeu de sub-19 nem foi convocado, sendo que sido titular no torneio de qualificação, e que embora não se tenha estreado na equipa senior considero que tem condiçoes para se firmar no clube, caso seja aposta.
O argentino Diego que no seu 1º ano de senior tem sido sempre titular no covilha, numa liga de honra, é de realçar também.
E o Andre Pires que e titular nos juniores, e do poucos jogos que vi dos juniores do Belenenses me pareceu um jogador aproveitar para o ano.
No entanto penso que muito do futuro do Belenenses se joga no sabado nas eleições, só espero que o vitorioso seja o Belenenses.
É um clube simpático, gosto de ir ao Restelo de vez em quando, mas a sua aproximação ao F.C.Porto e a Pinto da Costa, vai fazer com que não chore uma lágrima pela eventual descida de divisão.
No último Belenenses-Porto, aquela do Speaker pedir palmas para Pinto da Costa, foi de um servilismo repugnante.
"Este" Belenenses, se descer, não vai fazer falta.
Parabéns, Paulo.
Gostei muito de ler este post. E lamento por saber da agonia do Belenenses, porque - como você mesmo frizou - este triste presente pode acabar por sepultar, mais uma vez, um glorioso passado.
Abraços,
www.esportejornalismo.blogspot.com
Em http://urarianoms.blog.uol.com.br/
passe um olho no post "O camisa 12 do Sport".
Abraço.
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