Tuesday, May 12, 2009

O verdadeiro Código Quique

Ser filho de Carmen Flores, sobrinho de Lola Flores e afilhado de Di Stéfano, deu uma ajuda importante na afirmação de um debutante treinador espanhol chamado Enrique Sánchez Flores. Antes de abraçar a carreira de treinador, desenvolveu diversas colaborações com a comunicação social, o que veio cimentar, ainda mais, a relação profícua que Quique mantém com aquilo que se convencionou chamar de “quarto poder”.

Duas temporadas no Getafe com uma subida ao escalão maior e na época seguinte, manutenção da equipa nesse escalão. De seguida, o Valência, onde consegue a qualificação para a Liga dos Campeões e atinge os quartos-de-final da prova. Estes feitos razoáveis serviram para colocar Quique no patamar dos treinadores de sucesso, tendo mesmo chegado a ser comparado, inúmeras vezes, com José Mourinho!

Chega a vez do Benfica. Um clube lendário mas que vive em depressão profunda há uns valentes anos. Mais que um grande desafio, é uma oportunidade de ouro para o espanhol atingir, com fundamento, esse patamar do sucesso. No entanto, Quique não abraçou essa perspectiva.
O espanhol quis grandes jogadores, preferencialmente oriundos do campeonato espanhol, convidou um preparador físico de nome e sucesso, e achou que tudo isso seria mais que suficiente para vencer um campeonato “subdesenvolvido” como o português. Assim que chegou, Quique mostrou ao que vinha. Diamantino Miranda e Fernando Chalana, de imediato foram relegados para papéis abaixo do secundário na estrutura técnica.

Por detrás de uma imagem polida e de um discurso aberto e fluído, o espanhol foi dando mostras de uma enorme arrogância e de um ego desmesurado. Foram inúmeras as acusações de falta de empenho e qualidade que fez à sua equipa e a jogadores em particular, sem nunca assumir (ou sequer admitir essa possibilidade) qualquer responsabilidade quando as coisas corriam menos bem. Para além disso, ia dando umas entrevistas a órgãos de comunicação do seu país onde revelava de forma evidente, o seu desmedido umbiguismo e a atitude desprendida e pouco séria com que sempre encarou esta “passagem” pelo Sport Lisboa e Benfica.

Do ponto de vista táctico, Quique insistiu teimosamente num sistema e modelo de jogo absolutamente desajustados às características do futebol português e ao plantel de que dispunha. Para manter essa sua cruzada, o espanhol foi sacrificando jogadores nucleares. Sobre Léo, mantém-se o mistério de perceber o que teria ele que aprender com Jorge Ribeiro que entretanto também passou, num ápice, de tacticamente culto a jogador descartável. David Luiz acabou por ser o remendo inevitável, o que acabou por, não obstante as cavalgadas ofensivas dos últimos jogos, debilitar a organização defensiva da equipa e atrofiar o desenvolvimento de um defesa central com reconhecido potencial…
Rúben Amorim, já se sabe, um dos melhores para ocupar a zona central do meio-campo, acabou por servir de tampão para atenuar os desequilíbrios potenciados pelo 4-4-2 de Quique. A parca utilização de Óscar Cardozo, as dúvidas permanentes relativamente à constituição da dupla a utilizar na zona central do meio-campo e muitos outros aspectos marcaram esta época de equívocos técnico-tácticos de Enrique Sánchez Flores no clube da Luz. Como resultado, o futebol produzido pela equipa foi sempre qualquer coisa abaixo do sofrível. Isto foi o que toda a gente viu durante a temporada. No entanto parece que há resultados invisíveis, segundo o treinador…

O espanhol teve um dos melhores plantéis da última década, teve sempre a benevolência da comunicação social e do Terceiro Anel, algo de que nem todos os que têm passado pelo clube se podem gabar. Ainda hoje, há adeptos a manifestarem o desejo da sua continuidade em nome de um conceito muito estranho de estabilidade…Apesar disso tudo, o afilhado de Di Stéfano nunca conseguiu perceber o "código" de Tulipa, Domingos Paciência ou Manuel Cajuda, e o pior de tudo é que, facilmente se percebe, que nem sequer se esforçou para o conseguir.


PS: Sei perfeitamente que os problemas do Sport Lisboa e Benfica não se esgotam na questão do treinador, no entanto, uma coisa não invalida a outra. Os problemas estruturais não invalidam a notória incompetência de Quique Flores.

11 comments:

Dennis Bergkamp said...

Quique tem ( ou mostra ter ) muita coisa que lhe permitiria ter sucesso na Luz.

As questões todas familiares que falaste abriram-lhe portas mais cedo do que seria de esperar se esse factor C ( de cunha mesmo, não de competência ) não existisse.

Os primeiros tempos em Portugal, o seu discurso, e os sinais iniciais da equipa.. tudo isso indicava que FINALMENTE tinhamos acertado no treinador.

Acho justo dizer que por volta de Outubro estavamos todos satisfeitos com o homem.

Lembro-me de ter conversas com o pessoal em que se falada que finalmente os jogadores sabiam onde estavam em campo, sabiam quais as suas funções, e sabiam também as dos companheiros... não era cada um por si.

Mas aos poucos.. quiçá devido a quebra na motivação que vem dos maus resultados nas competições europeias... as coisas começaram a correr menos bem.

O "Caso Leo" é flagrante, e mais ainda agora com estas trocas de mimos.. Se Leo não esteve bem, Quique esteve ainda pior, e o brasileiro já não pertence aos quadros do SLB.

O afastamento dos 2 treinadores portugueses, principalmente Diamantino foi mais um tiro no pé. O conhecimento do futebol português é vital para se poder aspirar a ter sucesso.

Depois... foi o degradar de um processo que até prometia. Os maus resultados tiraram confiança ( ou criaram desconfiança ) e .. a partir dai torna-se facil começar a correr tudo mal.

A isto juntamos, e como muito bem frisaste no final do post, a completa ausência de uma estrutura de apoio que defenda a todo o custo o clube.

Nem é defender o treinador.. é defender o clube.

No Benfica isso não existe, e enquanto continuar a não existir, titulos como o do tempo de Trapatoni vão ser obra do acaso.

Infelizmente..


Abraço!

Paulo Santos said...

Bruno,

Obrigado pela visita e comentário.
É...de facto, tens razão, houve ali um período de ilusão a que também não fui alheio (aliás, deve haver aqui no blog evidências disso), foram os jogos com o Sporting e o Nápoles, depois disso, nada.

Apesar de Quique não ter aquele perfil que eu gostaria para o Benfica, dei o benefício da dúvida. E fui dando até ao empate no Restelo. Foi aí a gota de água para mim, tendo como cereja no topo do bolo, aquela disparatada conferência de imprensa em que o fulano sacudiu a água do capote de uma maneira pouco profissional e pouco inteligente, atacando de forma injustificada um dos seus jogadores...

Também anseio por estabilidade, mas que ela seja assente em predicados de competência e rigor, senão estabilidade só por si, não vale rigorosamente nada.


Abraço

Ricardo said...

Não me ocorre outra palavra para a análise que fazes do que esta: certeira.

Excelente post.

O que achas das opções avançadas pela comunicação social, Jesus e Scolari?

E Bento no Benfica?

apenasfutebol said...
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apenasfutebol said...

Ricardo,

Antes de mais, muito obrigado pelo elogio.

sobre Jesus e Scolari, digo que uma mistura dos dois seria explosiva. Nem Mourinho...

Quanto a Paulo Bento, não desgosto da sua filosofia futebolística, já a filosofia de fora das quatro linhas, digo que deixa muito a desejar. Aquela choraminguice encaixou na perfeição no clube de Alvalade que já tem a choraminguice nos genes. No Benfica, a coisa não pegaria muito bem...


Mas veremos o que aí vem, só espero que seja melhor que o que tivemos...

Grande abraço

Felipe Simi said...

Paulo,

Ter, nas veias, o mesmo sangue de um grande craque não traz, para o presente, o mesmo sucesso do passado. Não conheço Quique Flores, mas, pelo que li, não pude evitar uma má impressão.

Abraços,
www.esportejornalismo.blogspot.com

Dylan said...

Muito bem analisado.

César João said...

Realmente não é fácil hoje em dia um treinador ter sucesso no Benfica.Quase que aposto que Fernando Santos tinha tido senão saisse a 1º jornada,apesar de eu não simpatizar lá muito com ele.
Agora,não duvido que o problema do Benfica é estruturante e não de jogadores ou treinadores.O Benfica necessita neste momento de Paz e tranquilidade e cada vez me parece mais evidente que LFV terá de dar lugar a outro apesar do trabalho excelente que fez a nivel da diminuição do passivo.
Está na altura de arranjar soluções para o plantel,como seja bons laterias e um médio direito que faça a diferença tal como Reyes do lado esquerdo.Quanto a Aimar fez o que pôde para quem teve parado quase toda a època de 2007/2008.Para o ano não duvido que será diferente.

César João said...

Os meus sinceros parabéns ao administrador do Blogue.Está realmente muito bem elaborado.
Abraço e Felecidades!

apenasfutebol said...

Cesar,

Muito obrigado pelo seu comentário.

Quanto ao Benfica, temo que os principais problemas não se resolvam com contratações de jogadores...tal como o meu caro também reconheceu...


Abraço

Nick said...

olá amigo,
aceita parceiria???
troca de links

aguardo
www.tormarambaia.zip.net