Wednesday, June 25, 2008

O mito Queiroz

Está em curso uma verdadeira campanha a favor da contratação de Carlos Queiroz para futuro seleccionador nacional. Há até quem vá mais longe e defenda que o actual adjunto de Alex Ferguson deveria ser o responsável por toda a “estrutura” do futebol de selecções…

Devo confessar que não tenho memória de ver um treinador adjunto tão glorificado como é Carlos Queiroz. A coisa é de tal modo exacerbada que até parece que o Manchester United só conquistou títulos desde que o treinador português lá aterrou.

A verdade é que o professor a nível de futebol sénior esteve sempre muito longe do sucesso. Como seleccionador nacional falhou a qualificação para o campeonato do mundo dos Estados Unidos. No Sporting, tendo ao seu dispor um dos melhores plantéis de sempre da história do clube, conquistou apenas uma Taça de Portugal. Foi seleccionador da África do Sul, conseguindo a qualificação para o Mundial 2010. Em Espanha, numa breve e fracassada passagem pelo Real Madrid, conquistou uma Supertaça. Esta é a realidade, o resto são fábulas.

Apontam ao professor a "paternidade" de uma geração de futebolistas brilhantes, aquela que ficou conhecida por geração de ouro. Pois é, ele estava lá, em Riad e em Lisboa, e claro que neste particular não se pode escamotear o mérito nos sucessos alcançados. Agora, daí a dizer-se que Queiroz foi o visionário que inventou a formação no nosso país, é que me parece uma ideia alucinada. Então e os clubes? Não formaram jogadores, muitos dos que compuseram a dita geração dourada? E não têm continuado a fazê-lo? E já não o faziam antes de Queiroz ter passado pelos quadros da FPP?

Fernando Pessoa escreveu que criar mitos é o mistério mais alto que a humanidade pode realizar.

De facto, há mistérios insondáveis…

5 comments:

Ricky_cord said...

Concordo com esta análise e só espero que não seja Queiroz a vir para a selecção. No Sporting ganhou uma Taça com um plantel com Paulo Sousa, Figo, Balakov... No Real fracassou. Nas selecções também não fez nada demais.

Mário Ventura said...

Concordo com alguns pontos mas discordo com a maior parte deles. A altura ideal de Queiroz devia ter sido já no Mundial'2006, aproveitando a sua ligação umbilical à "Geração de Ouro". Não houve essa oportunidade, terá de vir agora.

Carlos Queiroz é, como dizes, um treinador-adjunto elogiado porque simplesmente tem o estatuto de treinador principal, de técnico de campo, um perfil de liderança e de homem do futebol intocável. Ou será que a época em Madrid beliscou minimamente os seus créditos? A avaliar pela importância que tem no seio do Man.United, não... a avaliar pela importância que Sir (!) Alex Ferguson lhe dá, Queiroz ainda é um "senhor futebol"... só assim se compreende que Ferguson tenha consciência tranquila em abandonar "o barco" daqui a alguns anos. Em relação a Madrid, gostaria de ver outro qualquer técnico, até Mourinho, a lidar com um plantel formado por estrelas de marketing, em que o defesa minimamente competente não teria lugar em nenhuma outra equipa europeia de primeira linha.

Paulo Santos said...

Plantel de Queiroz (época 2003/2004)

Casillas
Jurado
Raúl
Carlos Sánchez
Salgado
Zidane
Ronaldo
César
Roberto Carlos
Figo
Portillo
Diego López
Rubén
Guti
Helguera
Cambiasso
Raúl Bravo
Solari
Miñambres
Beckham
Pavón
Núñes
Borja
Jordi
Mejía
Juanfran
Borja Valero



Plantel de Del bosque (2002-2003)

Casillas
Corrales
Zinédine Zidane
Raúl
César
Salgado
Steve McManaman
Morientes
Carlos Sánchez
Roberto Carlos
Figo
Ronaldo
Fernando Hierro
Guti
Javier Portillo
Helguera
Esteban Cambiasso
Tote
Raúl Bravo
Celades
Flávio Conceição
Solari
Miñambres
Claude Makelele
Pavón
Borja Valero
Rubén




Caro, Mário Rui Ventura, vês muitas diferenças entre estes dois plantéis?

E estás mesmo convencido que Salgado, Helguera, R. Carlos, etc não teriam lugar em qualquer equipa de primeira linha???!!!

E no Sporting, porque falhou o professor?

E na selecção nacional A, porque falhou o professor?


Estatuto de treinador principal??! De facto tem, mas atribuído pela imprensa portuguesa e pelos demais analistas...

Bruno Pinto said...

Não concordo nada com esta análise. Às vezes é necessário olhar menos para os currículo e mais para as ideias, sabedoria e competência. O Scolari também veio com o título de campeão do mundo, tem um belo currículo e, no entanto, sempre se disse que era sobre o fraco a nível táctico.

Não quero na Selecção um treinador só porque tem um passado que fala por ele. Quero um técnico que perceba de futebol, cuja competência está acima de qualquer suspeita (na minha opinião). É por isso que quero Carlos Queiroz a seleccionador. Não porque faço parte de uma campanha, mas porque é tão somente a minha opinião pessoal.

Sobre algumas coisas ditas, importa reflectir. Para o Mundial dos EUA, falhou a qualificação, mas esteve no grupo da Itália (finalista em 1994), tendo lutado até ao último jogo (perdeu em Itália por 1 - 0, num jogo em que o árbitro nos prejudicou). Recorde-se que Portugal nesta altura não fazia absolutamente nada de jeito, era uma selecção de segunda linha europeia e já não ía a uma grande competição desde 1986.

Sobre a formação, ninguém disse que ele é foi o visionário de toda a formação em Portugal. Claro que os clubes sempre formaram grandes jogadores. O que Queiroz fez foi um trabalho de fundo nas selecções jovens, eleborou um plano onde soube aproveitar e integrar a matéria-prima que sempre existiu no nosso país. O que fizeram as nossas selecções jovens antes de Queiroz? ABSOLUTAMENTE NADA. E com ele? Dois títulos mundiais de sub-20. Não reconhecer a grandeza de tão magnífico feito é birra.

Ele não tem um vasto currículo de vitórias, mas é competente. É isso que me interessa. Quando Humberto Coelho saiu em 2000, já tinha sido a minha escolha. Não é de agora. E quero um dia vê-lo no meu clube FC Porto.

Paulo Santos said...

Caro Bruno Pinto, devo dizer-te que estás enganado quando dizes com eloquência que antes de Queiroz nunca houve sucessos com as nossas selecções jovens. Aliás, espanta-me que como portista desconheças que uma das grandes figuras do teu clube tenha sido precisamente um dos responsáveis desse sucesso - foi em 1961, que uma equipa nacional venceu o Torneio Internacional de Juniores (torneio percursor do actual campeonato da Europa). Nem de propósito, saiu hoje uma peça no jornal "A Bola" da autoria de Fernando Guerra em que é referida este episódio.

Em segundo lugar, gostava que me conseguisses explicitar esse "plano" de Queiroz...Houve um suposto projecto que nunca ninguém foi capaz de dizer objectivamente em que consistia...

Quanto ao fracasso da qualificação para o Mundial, devo dizer-te que essa era já uma equipa constituída por muitos da geração cuja origem e "fabrico" é atribuído precisamente a Queiroz. Aliás, a fase final dessa qualificação já conta com a quase totalidade dos seus campeões do mundo em Lisboa e Riad.

Reconheço a importância dos títulos de juniores, contudo isso não me permite achar que Queiroz, sustentado unicamente nesses feitos, seja o homem das ideias, o sebastião único que poderá dar continuidade a estes últimos 4 anos de sucessos da nossa selecção principal. Isto é constatação de evidências, que, e aqui sim, só não são vistas por uma questão de birra.


Abraço