Tuesday, May 06, 2008

Patriotismo bacoco

Que na condição de portugueses, nos sintamos muito orgulhosos dos feitos de José Mourinho e Cristiano Ronaldo, é normal e compreensível. Esse orgulho e satisfação também pode encher os egos de quem ganha a vida a falar e escrever sobre futebol? Pode. O que não deve é levar essas pessoas a tecer considerações pouco sérias que facilmente descambam no facciosismo.

Desde que o Chelsea apanhou o Manchester United no topo da liga inglesa e sobretudo, desde que atingiu a final da Liga dos Campeões, não temos assistido a outra coisa que não sejam vozes ou letras a atribuírem o feito ao trabalho anterior levado a cabo por José Mourinho. Nunca ao longo da época tal se ouviu ou leu, pois aí os vaticínios iam todos no sentido da queda do clube no maior desastre desportivo possível. Porque não reconhecer o óbvio? Que Para além dos frutos do trabalho desenvolvido pelo técnico português, também existe um plantel com jogadores de grande qualidade e que Avram Grant também terá dado algum contributo para o que se está a passar, ou querem-nos fazer crer que o israelita é apenas um espectador privilegiado com assento no banco de suplentes de Stamford Bridge?

Outro exemplo de excessivo zelo patriótico é a exaltação de Cristiano Ronaldo e do seu Manchester United que é também de Carlos Queirós. Não tenho memória de ter existido alguém que salientasse a parca prestação do craque português no duplo duelo com o Barcelona. O que se ouviu durante as transmissões dos dois jogos, como uma espécie de justificação embaraçada para o fraco rendimento do jogador, foi o enaltecimento das suas qualidades de jogador de equipa, o que constituía, na opinião do comentador, mais um ponto a favor do português na comparação com Messi…

O Manchester United que abordou a eliminatória com uma autêntica táctica do ferrolho foi amplamente glorificado pela generalidade dos comentadores. Equipa madura e tacticamente inteligente, disseram. Concordo, o problema é que se fosse uma equipa italiana, a jogar da forma que a equipa de Ferguson e Queirós jogou, abundavam os chavões do futebol cínico e afins…

É caso para pensar que se fôssemos tão patrióticos noutras áreas de actividade como somos no futebol, decerto estaríamos a contribuir para um país melhor…

2 comments:

RolaBlog said...

Além do patriotismo, costumamos engendrar no futebol um certo "outro lado" do Estado-nação. Aqui no Brasil, por exemplo, quando é época de Copa do Mundo, todos passar a ver o país como a terra do futebol. Ao passo que, nos anos que antecedem a Copa, a visão é sempre de um país corrupto, violento e sem leis. No futebol, a Seleção Brasileira representa o Brasil que dá certo, aquilo que todos os brasileiros queriam ser frente ao mundo o ano inteiro. Só o futebol tem essa magia, esse poder de "virar o jogo". Às vezes, então, é possível até administrar o patriotismo advindo dele para o benefício de um povo. Ótimo blog!

Um abraço,


Breiller Pires
www.rolablog.zip.net

Paulo Santos said...

É o efeito catártico do futebol.
É um efeito que pode ter aspectos positivos (e na minha opinião tem), a questão é que por vezes, noutras áreas a postura é exactamente oposta. Reconheço que, porventura, apenas o futebol se preste a isso. Os efeitos negativos também os há, como sejam a descompressão das agruras da vida que conduz muitas vezes a comportamentos pouco correctos por em estádios de futebol...

Sem ser no futebol, Portugal continua a não saber valorizar muitos dos seus cidadãos em outras áreas de actividade, continuamos a olhar desconfiados para o sucesso do vizinho, atribuindo-o não a qualquer mérito, mas sim, a esquemas soturnos e coisas afins. Também existe uma explicação fundamentada para isso, mas são contas de outro rosário. A verdade é que são inúmeros os casos (da arte à ciência e mesmo no desporto que não o futebol) em que muitos indivíduos têm que procurar outras paragens para poderem ver o seu valor devidamente reconhecido ou para poderem ter sucesso nas suas carreiras.


Obrigado pela visita e pelo elogio.
Também apreciei bastante o rolablog.

Abraço