Friday, January 26, 2007

A moral do jornalismo

António Barroso escreve assim, hoje no jornal A BOLA: “ A notícia do possível interesse do Benfica por Derlei chegou-nos na madrugada de quarta-feira para quinta-feira (00.30 horas). Como confirmar? Vários contactos, telefones desligados. Tinha o contacto de Derlei, mas hesitei: em Moscovo eram mais três horas. Ainda assim avancei; o jornalismo e a notícia não escolhem dia nem hora. Atendeu. Respondeu a tudo. O relógio do meu computador marcava 00.45 horas quando terminei a conversa com Derlei. Ou não sabia de nada do que o seu agente, Jorge Mendes, estava a tentar com os dirigentes do Benfica – ignorante, como o peixe (podre) que me vendeu – ou, o que é pior, mentiu-me deliberadamente para despistar. Fica Derlei avisado de que papalvo ou totó não é carapuça que me sirva após 18 anos de jornalismo: quem me mente, e a A BOLA, só o faz uma vez.”

«Ignorava ou mentiu», António Barroso (A BOLA, 26/ 01 /2007)

Muito curiosa, toda esta prosa. Fico indignado com a indignação do jornalista baseada no facto de Derlei não ter querido assumir que tinha conhecimento do interesse de um clube – o Benfica – estar interessado nos seus préstimos. Atitude mais que natural, pois como se sabe, as consequências de um anúncio antecipado e muitas vezes precipitado acerca de uma qualquer transferência podem ser factor de desmobilização ou inviabilização do negócio em causa. Lembrando a velha e douta sabedoria popular, o segredo é a alma do negócio.
A “cereja no topo do bolo” é a conclusão, em tom de ultimato, do artigo: “…quem me mente, e a A BOLA, só o faz uma vez.” O Que quererá isto dizer? O significado fica sujeito à interpretação de cada um. Eu, por ora, limito-me a achar que é algo muito curioso.

Recentemente, e a propósito, relembro a polémica em torno da publicação do despacho da Procuradora Maria José Morgado, por parte do Sportugal. Diz José Marinho (jornalista da Sporttv e colaborador do referido órgão de comunicação social) em defesa da acção do Sportugal e criticando a acção da PJ que efectuou uma acção de busca na redacção: “…O que esperam encontrar numa redacção os senhores inspectores? As impressões digitais do informador, uma ponta do seu cabelo que permita chegar ao ADN, um computador que fale, ou um jornalista delator, que, também ele, não saiba guardar um segredo.Não vale a pena. A intimidação não verga um bom jornalista. Conheço vários no Sportugal. Boas fontes e boca fechada são a alma deste negócio…”.

«Guardar um segredo», José Marinho (Sportugal, 24/01/2007)

O princípio (que destaco a bold) é o mesmo que se aplica no caso do jogador que mente ou omite algo com o propósito de despistar o jornalista. No fundo, todos fazem pela vida, não é?

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