Monday, November 06, 2006

F.C. Porto: mudança de estilo com os mesmos intérpretes


O F.C. Porto, não obstante se encontrar na liderança da liga portuguesa e ter conseguido dois bons resultados nas últimas jornadas da Liga dos Campeões, ainda está longe da qualidade de jogo que se lhe exige. A transição Adriaanse-Jesualdo foi aparentemente efectuada com a serenidade que se impunha e bem vistas as coisas, as alterações ao modelo de jogo até se afiguravam profundas e como tal com um certo grau de complexidade.

Jesualdo não sendo propriamente um “defensivista”, é um treinador que gosta de “montar” as suas equipas com a máxima de – usando as suas próprias palavras - “defender bem para atacar melhor”. Aos poucos, Jesualdo foi impondo as suas ideias e frases como “Bosingwa não subas tanto” foram sintomáticas disso mesmo. Até agora, as grandes diferenças face à era Adriaanse, são notórias ao nível de um dos principais princípios de jogo do futebol actual: o pressing. A mudança de sistema do 3x3x4 ou 3x4x3 para o 4x3x3, mais uma vez não será tão determinante como se possa pensar.

As alterações terão tido repercussões a nível colectivo, mas também individual, ou seja, terão afectado o rendimento de um ou outro jogador (sobretudo ao nível da defesa) que devido às suas características e capacidades interpretaria melhor o seu papel com o anterior sistema e modelo de jogo.

O F.C. Porto de Adriaanse era uma equipa que pressionava alto, com uma linha de três defesas muito subida no terreno. Pepe, Chech, Bosingwa, não sendo jogadores muito fortes no que respeita a segurança defensiva e inversamente sendo jogadores rápidos e com boa capacidade de transporte de bola, acabaram por beneficiar desta forma de jogar, em que à sua frente estavam sete jogadores que pressionavam para a que a bola chegasse o menor número de vezes possível junto deles.

O modelo de jogo de Jesualdo – olhando para as equipas por onde passou – assentou sempre na segurança defensiva e ataque rápido, isto é, bloco médio-baixo a defender e transições rápidas para o ataque. O F.C. Porto actual, em posse de bola, continua a ter um ataque bastante acutilante, porventura até mais proficiente, pois já não se verifica a “inflacção” de jogadores junto da grande área adversária, tão característica dos tempos do treinador holandês. Proficiente e eficaz, pois olhando para os números da época transacta, verifica-se que à 9ª jornada, e com o jogo referente à mesma ainda por disputar, o F.C. Porto tem mais seis golos apontados, curiosamente, tem o mesmo número de golos sofridos (6). Porém, sem bola, a equipa portista revela muitas dificuldades. Se a bola é perdida em zonas adiantadas do terreno, a transição defensiva é lenta, se a bola é perdida em zonas menos adiantadas, o pressing é mal feito ou até mesmo inexistente, a este nível é paradigmático o golo de Luís Filipe em Braga.

No entanto, ao contrário do que se possa pensar, a lesão de Anderson até nem terá assim tantos reflexos negativos no jogo da equipa. É certo que com Anderson no trio do meio campo, a equipa ganha criatividade, e graças à visão de jogo do brasileiro, criam-se muitas oportunidades de perigo para os adversários, contudo, tendo em conta que Anderson não é jogador que ajude em termos defensivos, a equipa, nessas situações de perda de bola, via-se inúmeras vezes nas tais situações de desequilíbrio defensivo. Não terá sido por acaso que Jesualdo tentou utilizar o brasileiro – sem grande sucesso, diga-se, - no trio da frente encostado à faixa lateral.
Com um meio campo composto pelo trio Assunção, Meireles e Lucho, a equipa ganha capacidade de pressing e aumenta assim a capacidade de colmatar os ditos desequilíbrios defensivos. Os próximos jogos dirão se assim é ou não...

2 comments:

filipe said...

Sendo inquestionavel a falta de agressividade do Porto versão Jesualdo, parece-me que a equipa tem vindo a melhorar esse aspecto conseguindo já apresentar periodos de dominio algo dilatados (Exemplo é a primeira meia hora do jogo com o Benfica).
Em relação ao periodo Adriaanse, um dos jogadores que mais se ressentiu foi o Raul Meireles que tinha uma função interessante na estrutura do ano passado, muito vocacionada para os movimentos sem bola...

Parabéns pela reflexão!... São poucos os textos em "futebolês" tão puro na blogosfera (já para não falar da comunicação social!)

Paulo Santos said...

Obrigado pelo elogio, que retribuo se favor nenhum. O teu blog é uma paragem obrigatória para mim, todos os dias.

Só tenho pena de não poder ter acompanhado a tua experiência piloto, dos jogos entre o Benfica e o Celtic. Fica para a próxima.

Grande abraço