Friday, April 11, 2008

Benfica-Académica: para além do resultado


Está dado o golpe de misericórdia numa época medonha. Quem diria que, após duas agradáveis exibições, este cenário poderia ocorrer…

No entanto, de cabeça fria, consegue-se facilmente perceber que uma situação destas não seria assim tão improvável.

Ponto prévio, o resultado foi muito pior que a exibição. As três jogadas de golo ficaram carimbadas por três falhas individuais.

Na verdade, a equipa manifestou as mesmas indicações positivas que já tinha deixado patentes nos jogos frente ao Paços e o Boavista. Em termos colectivos o futebol do Benfica melhorou substancialmente após a era Camacho. Já se vislumbram algumas combinações, os deslocamentos de apoio, em progressão, ou de rotura, o apoio permanente dos laterais nessas movimentações, as permanentes variações de ângulo do jogo, até o recorrente pontapé para a frente parece ter sido abolido, com a construção de jogo a iniciar-se à saída da grande área. Porém, não há milagres. Quinze dias não podem, de forma alguma, apagar uma época inteira de equívocos.

Chalana resgatou um sistema de jogo que foi trabalhado com sucesso durante a época passada, sustentando-se nele como a base para trabalhar a organização ofensiva da equipa, mas apenas essa. Acresce a isto, o facto desse sistema ser bastante exigente do ponto de vista táctico, requerendo tempo para ser devidamente trabalhado. Não se pode criticar o treinador, o tempo é escasso e o Benfica precisa de ganhar jogos se quiser salvar a época. O problema é que desta forma, a equipa fica exposta ao risco. A transição defensiva não está minimamente trabalhada e quando o adversário explora o contra-ataque e o erro, a coisa pode dar mau resultado.

3 comments:

Nuno said...

Ainda bem que não vi o jogo. :) Não me lembro do Benfica perder por uma diferença tão grande em casa...

Catenaccio said...

Paulo, aqui fica a retribuição da visita:

Cheguei do Estádio da Luz, comi uma peça de fruta e, como não poderia deixar de ser, sentei-me em frente ao computador, a ler as mais diversas reacções à "catástrofe" desta noite.
Começo por afirmar que o momento mais triste não foi protagonizado por Miguel Pedro, Berger ou Luís Aguiar. Faltavam cerca de 10 minutos para o final quando vejo uma miúda, que deveria ter entre os 10 a 12 anos, levada pela mão de um Pai inconsolável. Quando passaram perto de mim, ouço a seguinte frase: "Pai, eu não disse que preferia ter ido ao McDonald's"?
Depois da exibição bem conseguida no Bessa, os adeptos compareceram em número bastante considerável. Na blogosfera identificada com o ideal encarnado, foram vários os pedidos para uma comparência em massa, quase como um chamamento à esperança que resta(va) até ao fim da temporada. Mais uma vez o público correspondeu. Mais uma vez saímos defraudados. Desanimados. Envergonhados.
A "Briosa" não vencia os encarnados como visitante desde a época 1953/54 mas igualou a pior derrota caseira de sempre das águias em jogos do campeonato nacional. Nem o mais faccioso adepto de capa e batina esperaria tal resultado. A realidade não podia ser mais irónica e cruel.
Quando relembro a desconfiança respeitante a Edcarlos, fico perplexo como aos 4 minutos Luisão consegue fazer o impensável: falha colossal num atraso de bola e o avançado da Académica a entrar na área encarnada e a abrir o marcador. Após o "filme de terror" realizado por Luisão, a restante sequência protagonizada pelo "girafa" e pelo seu colega Nélson, foi como se nas bancadas estivéssemos a assistir a uma trágico-comédia. Será que Luís Filipe, Edcarlos e Maxi Pereira fariam melhor? Quando a dúvida se coloca é porque o "filme" já acabou há muito e ficámos estáticos a olhar para um "pano negro".
Chegou a hora de uma intervenção mais pessoal. Depois do terceiro golo, pensei que havia ameça de bomba ou tinham raptado a águia Vitória. Vi um mar de gente a abandonar o Estádio mas, como sempre, fiquei até ao fim. Chamem-me masoquista. É certo que nos últimos 20 minutos já não falava com ninguém. Limitava-me a tapar as mãos, com frio, e a olhar para o relvado com aquele semblante de quem já viveu situações semelhantes, num passado não muito distante. O jogo teve 90+4 minutos, porque se tivesse prolongamento poderia ter vindo para casa com uma derrota de mão cheia.
Hoje, a "Catedral" estava repleta de famílias e crianças, talvez pelo facto dos menores de 18 anos não terem de pagar bilhete. Perto de mim, estavam novos e velhos, homens e mulheres. Eu tenho trinta e três anos, sou sócio há dezassete e hoje senti-me como um elemento de uma geração à parte. Por um lado, é visível o desencantamento no olhar daqueles que têm quarenta, cinquenta ou mais anos. Agitam-se nas bancadas. Barafustam. Mas, acabam por não resistir ao desgosto e terminam derrotados. Perderam a esperança. Por outro lado, é notória a resignação na cara daqueles que ainda lutam com o borbulhar da adolescência. Agitam-se nas bancadas, mas sem a paixão dos mais velhos. Barafustam, mas falta-lhes o espírito de vitórias e a presença da história. Entende-se o fenómeno quando olhamos para as estatísticas: um adepto do FC Porto com dezoito anos, já viu o seu clube campeão em doze ocasiões. Assim, compreende-se quem prefira ir ao McDonald's.
Não querendo generalizar, até porque o sentimento não escolhe idades, julgo que pertenço a uma geração que está no limiar de dois mundos. Da glória e do fracasso. Pertenço ao tempo em que o Benfica partilhava o domínio nacional com o FC Porto e dividia campeonatos. Pertenço a um tempo de dirigentes ainda competentes, de treinadores qualificados, de jogadores de classe. Porém, também fui observando o lado escuro da decadência, da quebra de hegemonia desportiva e do declínio financeiro. Não vivi o período dourado das conquistas europeias, mas senti as noites "infernais" do antigo Estádio da Luz. Talvez esteja na fronteira: já sou velho para saber decifrar o peso da história, mas ainda sou novo para não perder a esperança.
Esta noite, ao terminar o jogo, apeteceu-me um regresso ao passado. Lembrei-me de como há dez ou quinze anos atrás, este resultado teria consequências completamente diferentes. Desde logo, jogadores e dirigentes sentiriam a fúria de valentes milhares de adeptos que não arredariam pé tão cedo. Violência nunca, mas um clamor colectivo na hora certa faz milagres.
O futuro não se conquista com falinhas mansas, mas sim com o legítimo direito à indignação. Lembram-se do FC Porto antes de José Mourinho? Recordam-se dos cânticos utilizados? Essas frases de "joguem à bola, palhaços joguem à bola" e "são uma vergonha, vocês são uma vergonha", serviram, como gritos de união no balneário de um FC Porto que venceu a Taça Uefa e a Liga dos Campeões, nos anos seguintes.
Sou a favor de apoio incondicional durante 90 minutos, mas não consigo tolerar, de ânimo leve, exibições como a desta noite. Não há desculpas. Os jogadores mereceram todos os assobios e impropérios no final da partida e, se calhar, ainda ficou aquém. Neste sentido, durante toda a época desportiva, as claques fazem o seu trabalho fantástico de apoio e paixão por uma causa, mas são acéfalas e cegas na hora em que se devia abanar o status quo. Aquela ladainha no final do jogo é irritante. A atitude correcta, no momento certo não é uma forma de criticar o Benfica. É uma forma de ajudar a torná-lo mais forte, como forma de agitar mentalidades e promover a mudança.
Durante a semana, após a bela exibição no Bessa e, principalmente, derivado de acontecimentos ligados à arbitragem e aos casos de corrupção, desejei que o Estádio da Luz apresentasse uma moldura humana que fosse o espelho fiel da união e força benfiquista. Pela blogosfera pedia-se que o patamar dos 50.000 fosse ultrapassado. Os adeptos sempre responderam. A equipa é que nunca soube receber esse apoio. Não ganhámos ao FC Porto. Nem ao Sporting. Tampouco ao Braga. Nem ao Nacional. Idem para o V. Guimarães. Nem sequer ao Getafe. Na bwin Liga, perdemos dezoito pontos em casa. Hoje foi a gota de água. A paciência esgotou-se.
No próximo jogo, frente ao Belenenses, o meu pedido é diferente. Não vão ao Estádio. Fiquem em casa, a ver pela televisão ou escolham outro programa mais interessante, desde que não seja o McDonald's. A sério, não vão. Esqueçam a fasquia dos 50.000 ou prenúncios de casa cheia. O ideal mesmo seria uma lotação a rondar os níveis de Leiria. Vamos tentar contribuir para o fenómeno das bancadas vazias, como sinal de protesto. Talvez os jogadores não sintam a pressão da nossa presença.
Depois, frente ao V. Setúbal, esqueçam estas últimas linhas. Na despedida, o Rui Costa merece um estádio com 65.000 almas a cantar.

Alexandre Massi said...

paulo,

primeira vez no apenas futebol e gostaria de trocar links. te interessa? abraço e sucesso

alex_massi@hotmail.com

www.blogdomassi.blogspot.com

Alexandre Massi - Brasil