Thursday, October 21, 2010

S.L. Benfica: uma análise


Tenho evitado comentar o percurso errático do Benfica neste início de época por razões diversas que não importa agora referir. No entanto, ontem tocou a sirene e não posso deixar de esboçar aqui o meu ponto de vista sobre a matéria.

Reconheci vezes sem conta (neste espaço também) Jorge Jesus como o grande obreiro da brilhante época passada, por isso sinto-me à vontade para lhe reconhecer a exclusiva responsabilidade naquilo que tem sido esta caricatura de Benfica.

Jorge Jesus continua a ser um treinador competente (para mim a seguir a Mourinho, o mais competente cá do burgo), no entanto, tem um pecado capital: a teimosia. Essa característica aliada a alguma basófia tem sido “a morte do artista”.

Jorge Jesus não abdica do seu modelo de jogo, que continua, diga-se, a ser fortíssimo, no entanto, por via da repetição, um processo torna-se facilmente mais compreensível, e os adversários do Benfica estarão esta época muito mais preparados para os jogos com os encarnados. Isto para além da óbvia necessidade de introduzir novos estímulos nos jogadores para que essa mesma repetição não os deixe demasiado relaxados – lembro a este propósito José Mourinho na segunda época do F.C. Porto em que alterou o sistema de jogo para que, precisamente, os jogadores mantivessem níveis de concentração (nos treinos e na competição) consentâneos com os objectivos da equipa.

Ora, Jorge Jesus não fez nada disto. Esboçou na pré-época um novo sistema de jogo, que, entretanto, engavetou algures. As saídas de Dí Maria e Ramires não foram devidamente acauteladas – aqui, porventura, não será apenas a Jorge Jesus que terão que ser assacadas responsabilidades…Se a ideia era replicar o “jogar” da época passada, a saída, sobretudo de Ramires, teria que ser colmatada. Não foi. Com os jogadores que tem, Jorge Jesus tem insistido na réplica da época passada. Até se pode compreender que, na essência, se mantivesse o modelo de jogo, mas as ausências de dois elementos tão estruturantes como eram Dí Maria e Ramires exigiam a introdução de algumas nuances estratégicas no modelo. O que se tem visto recorrentemente neste Benfica – e que nos jogos da Liga dos Campeões se torna demasiado evidente – é um meio-campo com menor capacidade de pressão, um meio-campo que após a perda da bola, seja em que zona do terreno for, expõe demasiado a equipa. O problema está na transição defensiva, o meio-campo não sustém o contra-golpe adversário. Isto associado ao facto de a equipa persistir no princípio de pressionar alto, conduz àquilo a que comummente se chama de “jogo partido”. Qualquer perda de bola no meio-campo ofensivo conduz invariavelmente a lances de perigo junto à grande área encarnada. Este é o problema que depois, naturalmente, faz sofrer a linha defensiva e conduz a análises desacertadas sobre a incapacidade da defesa e outras baboseiras que se ouvem e lêem por aí…

Jorge Jesus não pode continuar a jogar desta forma, sobretudo na Liga dos Campeões, onde até uma mente rígida e seguramente também teimosa, como Alex Ferguson, faz alterações estruturais na sua equipa, normalmente, retirando um avançado para poder reforçar o meio-campo. Ontem em Lyon então foi uma verdadeira façanha, com menos um jogador o treinador encarnado manteve um suicidário 4x3x2, contra um adversário que povoava muito bem a zona central do terreno. O Benfica ficou sem meio-campo, e os dois avançados na frente tornaram-se inócuos, só depois do segundo golo é que isto foi percebido, ou então foi para o desastre não ter outra expressão numérica no placard, aliás, pelas declarações no final do jogo, parece ter sido essa a ideia…

A questão que se coloca, e que muita gente tem oportunamente identificado, consiste na necessidade de dar ao meio-campo do Benfica uma maior capacidade defensiva e de pressão. Há Airton no banco, será que não cumpriria esse desiderato? Nem seria preciso alterar estruturalmente a equipa, poderia ocupar a posição que Ramires ocupava a época passada. Se tem servido para lateral direito não poderia servir para médio interior? Javi Garcia e a defesa do Benfica agradeceriam.

Jorge Jesus tem que perceber isto, sob pena de ficar na história do clube pelas melhores (já está) e pelas piores razões. O Benfica continua a ter excelente jogadores, continua a ter um modelo de jogo consistente, de longe o mais consistente da liga portuguesa com a mesma organização ofensiva da época passada, no entanto, há que corrigir este aspecto, e há, na minha perspectiva, condições e recursos para isso, basta apenas o treinador ter vontade de o fazer, porque competência não a perdeu de uma época para a outra.

1 comment:

Anonymous said...

imparato molto