
Ser filho de Carmen Flores, sobrinho de Lola Flores e afilhado de Di Stéfano, deu uma ajuda importante na afirmação de um debutante treinador espanhol chamado Enrique Sánchez Flores. Antes de abraçar a carreira de treinador, desenvolveu diversas colaborações com a comunicação social, o que veio cimentar, ainda mais, a relação profícua que Quique mantém com aquilo que se convencionou chamar de “quarto poder”.
Duas temporadas no Getafe com uma subida ao escalão maior e na época seguinte, manutenção da equipa nesse escalão. De seguida, o Valência, onde consegue a qualificação para a Liga dos Campeões e atinge os quartos-de-final da prova. Estes feitos razoáveis serviram para colocar Quique no patamar dos treinadores de sucesso, tendo mesmo chegado a ser comparado, inúmeras vezes, com José Mourinho!
Chega a vez do Benfica. Um clube lendário mas que vive em depressão profunda há uns valentes anos. Mais que um grande desafio, é uma oportunidade de ouro para o espanhol atingir, com fundamento, esse patamar do sucesso. No entanto, Quique não abraçou essa perspectiva.
O espanhol quis grandes jogadores, preferencialmente oriundos do campeonato espanhol, convidou um preparador físico de nome e sucesso, e achou que tudo isso seria mais que suficiente para vencer um campeonato “subdesenvolvido” como o português. Assim que chegou, Quique mostrou ao que vinha. Diamantino Miranda e Fernando Chalana, de imediato foram relegados para papéis abaixo do secundário na estrutura técnica.
Por detrás de uma imagem polida e de um discurso aberto e fluído, o espanhol foi dando mostras de uma enorme arrogância e de um ego desmesurado. Foram inúmeras as acusações de falta de empenho e qualidade que fez à sua equipa e a jogadores em particular, sem nunca assumir (ou sequer admitir essa possibilidade) qualquer responsabilidade quando as coisas corriam menos bem. Para além disso, ia dando umas
entrevistas a órgãos de comunicação do seu país onde revelava de forma evidente, o seu desmedido umbiguismo e a atitude desprendida e pouco séria com que sempre encarou esta “passagem” pelo Sport Lisboa e Benfica.
Do ponto de vista táctico, Quique insistiu teimosamente num sistema e modelo de jogo absolutamente desajustados às características do futebol português e ao plantel de que dispunha. Para manter essa sua cruzada, o espanhol foi sacrificando jogadores nucleares. Sobre Léo, mantém-se o mistério de perceber o que teria ele que aprender com Jorge Ribeiro que entretanto também passou, num ápice, de tacticamente culto a jogador descartável. David Luiz acabou por ser o remendo inevitável, o que acabou por, não obstante as cavalgadas ofensivas dos últimos jogos, debilitar a organização defensiva da equipa e atrofiar o desenvolvimento de um defesa central com reconhecido potencial…
Rúben Amorim, já se sabe, um dos melhores para ocupar a zona central do meio-campo, acabou por servir de tampão para atenuar os desequilíbrios potenciados pelo 4-4-2 de Quique. A parca utilização de Óscar Cardozo, as dúvidas permanentes relativamente à constituição da dupla a utilizar na zona central do meio-campo e muitos outros aspectos marcaram esta época de equívocos técnico-tácticos de Enrique Sánchez Flores no clube da Luz. Como resultado, o futebol produzido pela equipa foi sempre qualquer coisa abaixo do sofrível. Isto foi o que toda a gente viu durante a temporada. No entanto parece que há resultados invisíveis, segundo o treinador…
O espanhol teve um dos melhores plantéis da última década, teve sempre a benevolência da comunicação social e do Terceiro Anel, algo de que nem todos os que têm passado pelo clube se podem gabar. Ainda hoje, há adeptos a manifestarem o desejo da sua continuidade em nome de um conceito muito estranho de estabilidade…Apesar disso tudo, o afilhado de Di Stéfano nunca conseguiu perceber o "código" de Tulipa, Domingos Paciência ou Manuel Cajuda, e o pior de tudo é que, facilmente se percebe, que nem sequer se esforçou para o conseguir.
PS: Sei perfeitamente que os problemas do Sport Lisboa e Benfica não se esgotam na questão do treinador, no entanto, uma coisa não invalida a outra. Os problemas estruturais não invalidam a notória incompetência de Quique Flores.