Friday, March 13, 2009

Hegemonia do futebol inglês!?

Segundo ano consecutivo em que o big four integra as 8 equipas finalistas da principal prova de clubes do velho continente. Muitos têm-se referido ao facto como a hegemonia do futebol inglês. No entanto, há uma questão que se impõe. Os quatro candidatos ao título inglês podem ser representantes de uma determinada ideia de futebol inglês? Apenas na medida em que são clubes que nasceram em terras de Sua Majestade e que integram a liga inglesa. Jogadores ingleses são raros nas quatro equipas. Passa-se o mesmo nas principais equipas das outras ligas, é certo. È a natural consequência de uma lei que se impunha no mundo do futebol, para que as coisas se harmonizassem com a sociedade globalizante que se vinha formando. Como tal, hoje em dia, faz pouco sentido falar em estilos. As idiossincrasias dos povos, outrora tão bem reflectidas no futebol, diluíram-se nestas autenticas torres de babel que pululam por essa Europa fora.

A Premier league é a liga europeia que alberga o maior número de jogadores estrangeiros. Fenómeno que é transversal a todos os clubes que a compõem, ao contrário da liga espanhola ou italiana, em que os candidatos ao título são aqueles que concentram um maior número de estrangeiros nos seus plantéis, algo que não encontra paralelo nos clubes "médios" e "pequenos". Esta situação tem tido, naturalmente, os seus custos para o futebol inglês, sobretudo ao nível do futebol de selecções. A suprema ironia reside no facto de aquele país que sempre olhou sobranceiro para o futebol praticado para lá do canal da mancha, ter acabado por se render a esse futebol e inclusive recrutar seleccionadores estrangeiros.

Voltando ao big four. Com excepção do Manchester United, qualquer semelhança com o futebol praticado pelas restantes equipas e aquilo que são (ou eram) as idiossincrasias do futebol inglês (ou britânico), só pode ser mera coincidência. E mesmo o Manchester United, nos últimos tempos, viu-se na contingência de ter que continentalizar um pouco mais o seu futebol.

O Liverpool então é a verdadeira antítese daquilo que ficou consolidado como o estilo inglês, para o qual, aliás, o clube de Anfield foi um importante contribuinte. Mantém-se o The Kop, o hino You never walk alone e a estátua de Shankly, num estádio onde agora, diariamente, se encontra um astuto treinador espanhol que, sempre de faces rosadas e bloco na mão, criou uma fortaleza futebolística, avessa a grandes espectáculos, mas que é terrivelmente eficaz, sobretudo em provas a eliminar. Falta-lhe ainda saber ser regular, mas essa é uma outra história…

O Chelsea, já antes de Mourinho, era um clube com uma certa tendência “internacionalista” – desde os tempos de Vialli, Gullit e Zola. Depois com Ranieri, e sobretudo José Mourinho, o clube adoptou um estilo futebolístico que também pouco ou nada tem a ver com um “estilo britânico” de jogar futebol.

O Arsenal de Wenger é talvez o produto mais contrastante com aquilo que será o “estilo inglês”. Futebol apoiado, de pé para pé. Um futebol que faz do controle de bola o seu grande e único axioma.

Há ainda outro aspecto que merece reflexão. Para além do big four, o que facilmente se constata é uma certa "leveza" competitiva dos clubes ingleses nas competições europeias (vulgo Taça Uefa).

Portanto, é algo delicado falar de hegemonia do futebol inglês, com excepção daquela época em que a Europa se rendeu verdadeiramente a um domínio avassalador de clubes ingleses, com treinadores ingleses (ou pelo menos britânicos), jogadores ingleses e um estilo futebolístico muito seu e muito próprio – o verdadeiro estilo inglês. Foi a época do brilhante Liverpool de Paisley, do Notthingham Forest de Brian Clough e do Aston Villa. Em nove épocas, esse futebol conquistou sete Taças dos Campeões Europeus.

7 comments:

Nuno said...

Concordo com tudo, sem excepção. Queria reforçar o facto de apesar dessas quatro equipas serem muito fortes e demonstrarem isso, as restantes estão bem abaixo do que se passa com as restantes equipas espanholas e italianas. É um pouco arriscado falar de hegemonia quando há apenas 4 equipas de nível europeu no país.

Um abraço!

Anonymous said...

Pois na minha opinião, está enganado. A essência do futebol inglês, o que sempre fez, e continua a fazer a difernça, continua intacto. A diferença está na atitude e no respeito e amor ao jogo. O resto é conversa.

Antes de Heysel os ingleses já dominavam as competições europeias com algum à vontade.

Depois, foi só uma questão de tempo.

Anonymous said...

Caro João

Não pretendo endeusar FS. Só gostaria que, quando se fazem análises acerca de resultados não nos deixemos influenciar pelo facto de gostarmos muito ou pouco da cara de quem estamos a avaliar.

Na minha modesta opinião, dos últimos treinadores que tivemos, se algum merecia cumprir, pelo menos dois anos de contrato, para ver em que é que dava, foi Fernando Santos.

Continuo a achar que só lá iremos com um treinador português, jogadores na sua maioria portugueses e, de preferência oriundos da nossa formação. Basta olhar para a diferença de postura e qualidade de Miguel Vitor e Ruben Amorim em relação aos outros.

Abraço

António Saraiva

apenasfutebol said...
This comment has been removed by the author.
apenasfutebol said...

Caro AS, passando por cima do seu último comentário, que seguramente, entrou aqui por engano (embora, deixe que lhe diga, que, mesmo descontextualizado, percebo a ideia e estou de acordo consigo nesse particular).

Mas, voltando ao comentário que interessa aqui para o caso. De facto, há idiossincrasias muito próprias no futebol que se joga em Inglaterra. Se é a atitude e respeito pelo jogo e se isso faz a diferença, sinceramente não sei. É caso para reflectir noutra ocasião.

Quanto à parte final do seu comentário, parece-me que não terá entendido algo do meu texto, ou eu não me terei explicado bem. O que digo é que, de facto, antes de Heysel, é que o futebol verdadeiramente inglês dominava as competições europeias, algo que não é, de todo, comparável à situação actual, pelos motivos enunciados.

Abraço, e obrigado pela visita

Rafael Zito said...

Olha Paulo realmente o futebol ingles está dominante nos últimos tempos. Isso tudo se deve a organização da Premier League.

Os clubes se estruturaram e souberam usar a seu favor o produto q tinham em maos... o campeonato ingles é hj o produto mais rentável do futebol mundial.

aproveito para divulgar meu blog:

O Blog Jornalismo Esportivo repercute a alteração na regra da F-1 que dará o título ao piloto com maior número de vitórias. www.esportejornalismo.blogspot.com

Rafael Zito said...

Neste final de semana, o Blog Jornalismo Esportivo traz uma discussão sobre um tema que agitou a semana. O Governo Federal lançou um pacote de medidas que visa modernizar o futebol brasileiro e o item que tem causado mais discórdia é a criação da "Carteirinha do Torcedor", sendo que, nenhuma pessoa poderá entrar nos estádios sem ela.

www.esportejornalismo.blogspot.com