Wednesday, September 03, 2008

Voltando ao futebol e ao clássico


Para além do episódio (lamentável, claro) que se está a transformar num acto inquisitório, desproporcionado e que tem merecido uma das maiores doses de irracionalidade que o futebol português – tão pródigo nestas manifestações – presenciou até hoje, também se jogou futebol (muito pouco) no clássico do fim de semana passado.

Tenho ouvido e lido que se assistiu a um bom jogo de futebol. Admito a subjectividade que pode estar implícita na apreciação, contudo, pelo menos para mim, um jogo que teve 43 minutos de tempo útil e em que foram cometidas perto de 50 faltas (26 para o F.C. Porto e 13 para o Benfica), tendo sido mostrados 10 cartões amarelos e um vermelho por acumulação, não pode ser um “bom jogo de futebol”.

Mais uma vez Jesualdo Ferreira alterou estruturalmente a sua equipa num chamado “jogo grande”. Desta vez não lhe correu mal, o que até lhe tem valido alguns elogios. Elogios que, no entanto, facilmente dão lugar a críticas relativamente às alterações que promoveu na sua equipa a partir do momento em que o seu adversário ficou em inferioridade numérica.

O professor, nos grandes jogos, continua a manifestar uma já clássica obsessão com o encaixe das suas peças na estrutura do adversário e/ou com a forma de o anular, o que evidencia um óbvio receio por parte de Jesualdo nos chamados jogos grandes. Desta vez, contudo, abona em seu favor, o facto de ter uma equipa “em transformação” o que, porventura, não lhe permite ainda assumir um pleno de confiança na mesma.

Houve o tempo em que a análise do jogo se centrava de forma exagerada na questão dos sistemas tácticos (4-4-2; 4-3-3…), entretanto, nos últimos anos e com a difusão crescente do conhecimento acerca do jogo, passou-se a dar destaque a outros aspectos como sejam, o pressing, as transições e por aí fora. É uma clara melhoria, sem dúvida, contudo, e tendo em conta a perspectiva sistémica do jogo, penso que existem outros aspectos que ainda não merecem a devida atenção e importância que efectivamente têm.

Neste Benfica-FC Porto, um aspecto que, quanto a mim, foi determinante e que não me lembro de ter visto referido em nenhuma das análises que li ou ouvi, foi a agressividade em termos defensivos de ambas as equipas, com maior acutilância no caso da equipa portista, o que até fica bem patente pelo maior número de faltas cometidas. Se a equipa portista teve momentos de domínio do jogo, isso resultou muito de uma organização defensiva assente, entre outros aspectos, num comportamento defensivo agressivo.
Entenda-se por comportamento defensivo agressivo, a predisposição (física, mental e táctica) dos jogadores em pressionarem de forma intensa o adversário de posse de bola ou mesmo impedir que este receba a bola em condições.

A equipa de Quique Flores, como foi exaustivamente referido, entrou no jogo com as suas linhas próximas, adiantadas e a pressionar alto, contudo esbarrou no dispositivo táctico-estratégico do adversário em função deste recorrer às já referidas formas agressivas de comportamento, daí ter-se dito (e bem) que os encarnados tiveram alguma dificuldade na fase de construção. Naturalmente, também teve enorme importância o facto de o Benfica ser uma equipa nova, ainda em busca da solidificação de um modelo de jogo, frente a uma outra que apenas está a transformar algumas nuances de um modelo, esse sim, já apreendido e rotinado.

É claro que as incidências do jogo (grande penalidade e consequente golo madrugador e a expulsão imediatamente a seguir à reposição da igualdade no marcador) condicionaram o jogo, porventura, mais do que tudo o que foi dito para trás. Aliás a este propósito tenho uma dúvida inquietante: Porque é que não existem imagens, de outros ângulos, de um desses lances capitais do jogo, sabendo-se que existem câmaras junto às linhas laterais? É que para quem viu o jogo ao vivo, o lance deixou muitas dúvidas.

No comments: