O poderoso futebol inglês?
Chelsea e Manchester United representaram o futebol inglês em Moscovo. Mas esta frase pode ser desmentida palavra por palavra. Em primeiro lugar, há que esclarecer que metade dos clubes ingleses (36 em 72 das I à III divisões) se declararam insolventes nas últimas temporadas, pelo que a palavra «poderoso» só deve ser aplicada a alguns clubes privilegiados por uma política eficiente ou por desfrutarem de poderosos mecenatos. E quanto a saber se Chelsea e Manchester United representam o futebol inglês, também convém esclarecer alguns pormenores. O Chelsea pertence a Roman Abramovich, empresário russo enriquecido até à obscenidade, graças à escandalosa política de privatizações empreendida por Boris Yeltsin. Como Abramovic procurava a celebridade mediática e o Chelsea precisava de dinheiro, o feliz encontro de interesses perdura até ao momento. O Manchester, por seu lado, pertence a Malcolm Glazer, empresário norte-americano que sabe muito mais de negócios do que de futebol e que pagou o clube endividando o próprio clube. Fora dos relvados também há cracks! Também convém recordar que 331 jogadores das três divisões inglesas são estrangeiros. A Inglaterra oferece grandes cenários, tem um público entusiasta, um excepcional aparelho publicitário e organizativo e alguns jogadores que não são capazes de se qualificar para o Campeonato da Europa. As identidades fraccionadas que propõe a globalização permitem estas indagações. Mas o mundo está tranquilo: Joga-se em Inglaterra? Pois é, futebol inglês.
Jorge Valdano, Jornal A Bola, 24-01-2008