Um dos maiores destaques dos oitavos de final da Liga dos Campeões deste anos vai, indiscutívelmente, para o Chelsea-FC Barcelona, uma reedição do confronto entre as duas equipas na anterior edição da competição.
São duas das melhores equipas do actual panorama futebolístico europeu em confronto, mas não é apenas isso que faz desta eliminatória um verdadeiro regalo para os amantes do desporto rei. Estes dois jogos consubstanciam a confrontação de duas ideologias do jogo, por um lado, o do Barcelona: o futebol ofensivo, o espectáculo, em suma, tudo o que caracteriza o projecto futebolístico do país das túlipas, acrescendo a isto, ainda o facto de o clube possuir nos seus quadros alguns dos melhores intérpretes do planeta para pôr em prática essa mesma ideologia.
Olhando para o FC Barcelona, de uma forma sintética, observamos uma equipa que quase sempre é sistematizada em 4x3x3, sendo que é no sector mais avançado que residem os maiores artistas, não esquecendo, naturalmente, também os jogadores que jogam nas suas costas, sobretudo o luso-brasileiro Deco e Xavi. Contudo, a curiosidade que este Barcelona contém reside nos 3 homens mais avançados - não têm sido raras as vezes que nos últimos jogos (desde que se solucionou o problema burocrático com o genial Lionel Messi), nenhum dos jogadores que jogam nas faixas se pode considerar um extremo ou médio ala "puro" - na esquerda, Ronaldinho com o seu futebol "mágico", e na direita o envolvente Messi, ambos deambulam por toda a lagura do terreno, desconcertando, literalmente as defesas adversárias. Quer Ronaldinho, quer Messi apresentam características de médio ofensivo, daqueles que organizam e constroiem o jogo, ou então de "segundos avançados", no entanto essas funções pertencem a um outro jogador já referido - Deco - que para além de organizar o jogo ainda se desdobra inúmeras vezes em acções defensivas.
O futebol do Barcelona apresenta um cariz extremamente ofensivo, privilegiando as rápidas trocas de bola e, claro está, contando com a genialidade dos já referidos "artistas". É um futebol que, à luz dos modernos "pergaminhos" tácticos, é genuíno, no sentido de que talvez não pudesse funcionar tão bem com grandes amarras estratégico-tácticas!Uma das grandes debilidades que apresenta este Barcelona reside nos processos de transição defensiva, consequência do pendor altamente ofensivo que coloca no terreno de jogo, não sendo raras as vezes que se pode observar, aquando da perda da posse de bola, o sector defensivo totalmente descompensado originando grandes situações de desiquilíbrio.
Do lado do Chelsea, temos então, se quisermos, a antítese do futebol do Barcelona. O Chelsea é uma equipa que se pode chamar de "tacticista" que teve uma evolução a esse nível, imprimida pelo, por muitos considerado, melhor treinador do mundo. Em termos de sistema de jogo, também joga normalmente num 4x3x3, porém, é se quisermos, nos métodos e na dinâmica de jogo que este Chelsea se diferencia do seu oponente nesta eliminatória.
O Chelsea tem os seus alicerces em príncipios defensivos altamente solidificados, em termos de método de jogo defensivo é privilegiada a chamada zona pressionante - cada jogador do sector defensivo evolui na sua zona de marcação, deslocando-se para outras zonas no sentido de concentrarem nos espaços de jogo próximos da bola, para aí se realizarem diversas acções que visam, sobretudo, a anulação do processo ofensivo do adversário e a recuperação da bola para lançar as acções ofensivas. Com isto não se quer dizer que o Chelsea é uma equipa "defensivista", mas sim e apenas que faz da segurança defensiva um dos seus pilares fundamentais em termos dos seus princípios gerais do jogo, até porque outra coisa que caracteriza este Chelsea é, ao contrário do seu oponente, a segurança das transições, quer as ofensivas, quer as defensivas.
O Chelsea também tem grandes valores individuais - Lampard; Crespo; Robben; Drogba e muitos outros, porém, a sua força reside inexoravelmente no colectivo e em aspectos de natureza técnico-táctica.
Na retina, do confronto da época passada em Londres, ficou-nos aquele bailado de ronaldinho Gaúcho à frente de Ricardo Carvalho antes de disferir o remate que resultou num golo de belo efeito. Houve quem falasse, na altura, no último grito do futebol romântico!
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