Monday, January 19, 2009

A vida difícil de Mourinho

A primeira volta da Liga Italiana chegou ao fim, e com uma estrondosa derrota do Inter de Milão em Bérgamo, frente à Atalanta, que só não foi mais humilhante por acaso. Apesar disso, os nerazurri de Mourinho persistem na liderança, agora com a Juventus mais próxima. O jogo deste fim-de-semana teve também a curiosidade de ter colocado frente a frente nos bancos das duas equipas, Mourinho e o seu sucessor no FC Porto, Del Neri.
Foi o pior resultado da época para o Inter, no entanto, a exibição dos nerazurri foi igual a muitas outras, ou seja, muito pobre, não obstante ter que se atribuir mérito à equipa de Bérgamo, que realizou uma grande partida.

Os últimos jogos do Inter para o campeonato têm sido extremamente complicados. Há duas jornadas, o empate em casa frente ao Cagliari foi bastante lisonjeiro para a equipa de Mourinho, que se livrou de uma humilhação embaraçosa graças a um lance de inspiração individual de Crespo e à inépcia dos atacantes da equipa da Sardenha…

Isto, já para não falar da enorme quantidade de jogos ganhos pela diferença mínima, com golos nos últimos minutos, e em alguns casos até irregulares, como aconteceu em Siena.

A liga italiana é mais complicada que a portuguesa ou até mesmo a inglesa, sobre isso não parecem existir grandes dúvidas e até já Mourinho deu conta disso publicamente.
Por exemplo, ao contrário de outras ligas, onde existe um padrão táctico perfeitamente reconhecido (em Inglaterra o 4-4-2 clássico, em Portugal o 4-3-3 e agora os híbridos 4-4-2 losango), no Calcio “tacticista”, temos de tudo um pouco, o 4-3-3 da Lazio, o 3-4-3 do Génova, o 3-5-2 do Nápoles, o 4-4-2 clássico da Atalanta que saiu vencedor no duelo com a outra variante do sistema (losango), precisamente no jogo a que se aludiu no início do texto. É a liga das “velhas raposas” do futebol, onde pontificam nomes como Delio Rossi (Lazio); Gasperini (Génova) ou Edoardo Reja (Nápoles), entre outros. Foi também por estes motivos que José Mourinho se quis juntar a esta liga, ciente porém, do desafio que iria encontrar.

Mas voltando ao futebol do Inter. De facto, qualquer semelhança com o FC Porto ou o Chelsea orientados pelo treinador português, é mera coincidência. As dificuldades começaram logo a fazer-se sentir ao nível da definição de um sistema de jogo. É sabida – sobretudo, olhando para trabalhos anteriores – a predilecção de Mourinho pelo 4-3-3, pelo menos numa primeira época. Depois, tal como o próprio já fez questão de afirmar num dos muitos livros escritos sobre ele, numa segunda época, dá preferência a outro dispositivo táctico, mais complexo, e como tal, que permita manter a motivação e a concentração da equipa. Essa opção tem sido o 4-4-2 losango. Tendo em conta estas premissas, e como o Inter não dispunha de médios-ala para além de Figo, contrataram-se Mancini e Quaresma para compor, assim, o 4-3-3. Acontece que o talento de Quaresma eclipsou-se mais uma vez após atravessar a fronteira. Depois há Ibrahimovic e Adriano (este, por si só, constituindo outra complexidade), duas fortes razões para o abandono do 4-3-3, algo que de facto se veio a verificar. O problema é que, olhando para o tal losango, não se consegue vislumbrar uma pontinha de criatividade, o que, obviamente, tem tido custos evidentes ao nível da construção do processo ofensivo. O ganês Muntari (outro reforço de Mourinho) parece também ter sido contratado na óptica do 4-3-3, sobretudo para dar robustez ao trio do meio campo. O futebol nerazurri tem assim vivido dos recuos de Zlatan Ibrahimovic para a zona de criação/construção e da profundidade dada por Maicon ao corredor lateral direito. Estes são os únicos movimentos que se vêem sistematizados na equipa, o resto tem sido a inspiração individual dos jogadores. Pressing? Nem vê-lo! Alto, médio ou baixo, nada que se assemelhe.

O sector defensivo (eventualmente com excesso de veterania) também necessitaria, porventura, de “sangue novo”, para responder de forma mais profícua aos imperativos da pressão alta. Ao que parece, o mercado não será parte da solução para estes problemas, pelo menos a avaliar pelos discursos de Mourinho e do presidente do clube.
Presume-se, também, que Para o treinador português não será fácil assumir a necessidade de recorrer ao mercado, o que seria o mesmo que reconhecer os seus erros de casting do início da temporada…

Apesar deste quadro pouco animador, o clube segue líder, e os principais rivais também têm as suas lacunas, para além disso, estamos a falar de um dos melhores treinadores da actualidade, pelo que as cenas dos próximos capítulos se revestem de um enorme interesse, sem dúvida.

1 comment:

Alberto Cárdenas Almeida said...

Mou siempre, en lineas generales ha sido un buen entrenador. De los mejores! Saludos!